A indústria 4.0 enfrenta falta de profissionais no Brasil. Segundo relatório da multinacional italiana Gi Group Holding, 88% dos empreendimentos brasileiros do ramo afirmaram ter dificuldade para contratar. A nível mundial, o número é menor, mas ainda expressivo: 66% das empresas sofrem com a falta de funcionários disponíveis no mercado de trabalho.

Esse mercado está em desenvolvimento desde a década de 1980, mas sofreu uma forte aceleração a partir de 2020, com a pandemia de Covid-19. A crise sanitária global provocou forte demanda no setor e intensificou a defasagem. A chamada indústria 4.0 engloba tecnologias de automação, transmissão de dados, computação e tecnologia da informação, utilizando conceitos de sistemas virtuais. 

Um dos fatores que explicam a maior dificuldade no mercado brasileiro, é que grande parte das demandas são para trabalho home office. Nesse sentido, muitos profissionais do Brasil optam por trabalhar para empresas estrangeiras. O vice-diretor do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás (INF/UFG), Iwens Sene, ressalta a dificuldade de manter os profissionais no País.

“Fora do Brasil, as empresas têm buscado, há uma carência de profissionais dessa área na europa, em outros países, que buscam profissionais dessa área. Como as pessoas não sabiam como seria o trabalho remoto, perceberam que isso é possível e na nossa área é muito comum. As pessoas estão sendo procuradas para trabalhar dentro de casa, aqui em Goiânia, para prestar serviço para a Inglaterra, pro Japão, pros EUA, recebendo em dólar, euro, nas respectivas moedas”, avalia Sene.

O professor de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Faculdade Senai/Fatesg, Djalma Queiroz, explica que o processo de formação de novos profissionais não consegue reverter a defasagem a curto prazo.  “A tecnologia ou coisas relacionadas a tecnologias ainda vão ficar na crista da onda por pelo menos 8 a 10 anos, porque a gente não consegue formar o volume necessário de alunos para poder ter essa absorção e resolver esse problema do lado de fora. Isso é com o tempo, a gente não forma um aluno em seis meses”, avalia o docente.

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Aumento da procura

Com a demanda em alta e a disponibilidade de profissionais baixa, os salários e as condições de trabalho tendem a ser cada vez mais atrativos na indústria 4.0. Nos últimos anos, a procura por formação superior na área de tecnologia registrou um expressivo aumento. A proporção de estudantes que começaram cursos de graduação na área de Computação e Tecnologia da Informação (TI) cresceu 85% entre 2015 e 2021, segundo o Censo da Educação Superior.

Em 2015, a taxa de alunos que iniciaram graduações na área foi de 6,9 estudantes para cada 100 mil habitantes. Essa proporção saltou nos anos seguintes, chegando a 12,9 em 2021. Já a proporção de estudantes que conseguiram concluir esses cursos registrou um aumento de 18%. A taxa de conclusão subiu de 2,2, em 2015, para 2,6, em 2021, número bem inferior ao aumento de alunos que começaram a graduação.

O professor Iwens Sene explica que, além da dificuldade de garantir as condições para que os estudantes concluam a graduação, a procura de empresas por estudantes acaba contribuindo para a evasão. “O desafio, que não é de hoje, é a gente conseguir formar os alunos que entram. Hoje os alunos entram, eles começam a ter proposta para trabalhar, quando a gente é jovem a gente vai ficando empolgado com emprego, com salário, a vontade é de sair e desbravar o mundo. A nossa dificuldade é fazer com que terminem o curso.

O vice-diretor do Instituto de Informática da UFG explica que os alunos começam a trabalhar e já alcançam bons salários mesmo antes de se formar. “O que a gente fala é que se eles conseguirem formar, eles vão ganhar 10, 20 vezes mais do que eles ganham durante o curso. Uma vez formado, com o diploma na mão as possibilidades vão triplicar”, conclui.