Em uma de suas obras, Séneca, um filósofo estoico, fala sobre a brevidade da vida, apontando que a vida não é medida pela quantidade de coisas que fazemos, mas pela quantidade de coisas que fazemos por nós. O professor Nova Acrópole, Alexandre Oliveira, usou o pensamento do filósofo para refletir sobre a produtividade e a falta de contemplação num mundo em que as pessoas fazem muitas coisas das cinco da manhã à meia-noite, mas essas coisas são necessidades do outro, do trabalho e não próprias.
O mundo gira em torno dessa produtividade e faz com que as pessoas percam os benefícios da contemplação. No Filosofando, quadro do Tom Maior, Oliveira explicou que os filósofos antigos tratavam essa contemplação como a percepção de si como parte de uma unidade. Por exemplo, ao estar num ambiente mais natural com plantas e animais, se sentir parte daquele ambiente. A contemplação é, portanto, o que brota do silêncio.
“Nós temos ruídos externos e internos. Os internos têm uma influência muito maior em nós do que os externos. Tanto é que a gente vê pessoas que fazem meditação ou que têm altos graus de controle da mente que conseguem estar em ambientes muito ruidosos externamente, em multidões ou mesmo em trânsito, mas estarem concentradas dentro e conseguirem captar, entender, organizar as ideias e as emoções e se posicionar de uma forma adequada diante daquela experiência”, contou.
A importância do silêncio
Vivemos numa sociedade cheia de ruídos, sobretudo pelas redes sociais. As pessoas não desligam mais a mente, não param para pensar na vida e não silenciam. No programa, Alexandre Oliveira comentou que a importância do silêncio é uma percepção de muitos anos atrás e citou o livro “A voz do silêncio”, da filósofa Helena Blavatsky, que viveu no século 19.
“Dos vários estudos que ela fez das filosofias do mundo, mas especificamente filosofia do Oriente, ela fala que é possível, se a gente conseguir alcançar um silêncio interior, escutar uma vozinha bem suave e fininha, mas o que ela tem para dizer dá todo o significado para a nossa existência. Então, é uma vozinha que pode nos dar grandes inspirações do que a gente poderia ter como vocação e identidade própria como ser humano”, disse.
O silêncio traz esse lugar vazio e a contemplação preenche esse espaço. Ultimamente, passamos muito tempo fazendo coisas que não retemos, como os muitos conteúdos disponíveis nas redes sociais diariamente. É muito comum que esqueçamos algo que vimos a uma hora atrás. Oliveira também fez uma reflexão sobre isso.
“Tem um pensamento filosófico que fala de você ser, pensar, sentir e agir, nesta ordem. Então, de modo que parte daquilo que vem a sua mente está relacionado com aquilo que você quer viver e aquilo que você sente está relacionado com aquilo que você definiu na mente. Então, o que você faz é o que você desejou, se entusiasmou em querer viver alinhado com aquilo que você planejou para você mesmo e está alinhado com aquilo que você sente que é o seu propósito”, explicou.
O que são os ruídos
O professor reforçou a necessidade do planejamento e da idealização das experiências que as pessoas desejam experimentar para sair dos ruídos cotidianos e da reatividade com a vida. Segundo ele, o planejamento é uma forma de não só atender coisas, responder notificações e buscar novidades que respondem aos anseios que estão dentro de nós. Mas para isso, é importante entender o que são esses ruídos e como eles afetam a nossa vida.
“A gente tem duas categorias de ruídos. Uma são os estímulos que a gente tem do mundo exterior, que é aquilo que a gente vê, escuta, as ideias que participamos ou mesmo recebemos de conversas com outras pessoas. Então, são coisas que interferem na nossa consciência”, contou. A outra categoria é de ruídos internos, que Alexandre exemplificou com a dificuldade de concentração em leituras e outras coisas.
“A gente também tem ruídos internos. Muitas vezes a gente tem dificuldade de concentração em alguma leitura, por exemplo, não porque tem muito ruído externo, mas porque surge alguma ansiedade, alguma coisa dentro que acaba puxando essa atenção, essa dedicação que a gente quer experimentar de alguma forma, mas para um outro viés”, afirmou.
Passividade na vida
Alexandre Oliveira contou que se ficamos à mercê desses ruídos, construímos uma passividade diante da vida. E essa é uma das formas como esses ruídos afetam a nossa vida.
“Quando a gente passa muito tempo do nosso dia imerso nessa reatividade, a gente acaba falando assim: “passei o dia apagando fogo, fazendo um monte de coisas, mas não necessariamente coisas que fui eu que defini para mim, as coisas foram surgindo e aí, seja por compromisso ou seja por querer estar bem com as pessoas ao meu redor, eu acabo só interagindo com essas coisas externas e definindo muito pouco do que eu gostaria de viver realmente””, contou.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e bem-estar.
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