O pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz e coordenador do Info Gripe, Marcelo Gomes, afirmou à Sagres 730 nesta quarta-feira (3), que o pico da pandemia do novo coronavírus ainda não é possível de ser calculado. Segundo Marcelo, as projeções são a curto prazo, porque o processo é dinâmico, ele aponta que a flexibilização das medidas de isolamento social também alteram o cenário.

“Questões como flexibilização, quais medidas serão adotadas quando houver essa retomada parcial, tudo isso afeta a evolução dos casos, essas curvas de infecção”, afirmou. “Então fazer uma projeção hoje, do que vai acontecer para frente, em cima do cenário que hoje nós temos, a gente perde toda essa informação de como é que foi nas semanas seguintes essas adesões, porque tudo isso vai alterar a evolução dessa curva”, detalhou.

No balanço diário do Ministério da Saúde, o Brasil registra 558.237 casos confirmados do novo coronavírus. A atualização revela também que o número de óbitos pela doença chega a 31.309. O pesquisador em saúde pública analisou o estágio de evolução dos casos de covid-19.

“No começo de abril, observamos que em diversos Estados houve uma redução significativa na velocidade do crescimento dos casos de covid, ou seja, continuou crescendo, mas em um ritmo mais lento”, disse. “Isso infelizmente se perdeu, olhando os dados de abril e maio teve uma retomada do crescimento acelerado. Goiás por exemplo, conseguiu conter bem a disseminação do vírus por várias semanas, e em maio voltou a crescer com grande velocidade”, completou.

Em maio, o pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) havia alertado, em entrevista à Sagres, que era preciso esperar por uma redução significativa no número de casos confirmados da doença para iniciar a retomada das atividades econômicas, além de uma redução e a desocupação de leitos de UTI. Desde então, vários Estados anunciaram a flexibilização das medidas de isolamento.

Para Marcelo Gomes, essa aceleração no número de casos de covid-19 e de outras doenças respiratórias pode estar associada com a menor adesão das medidas de distanciamento social. O sistema de monitoramento da Fiocruz, aponta que esse afrouxamento está ocorrendo na época em que há maior circulação de vírus respiratórios no país.

De acordo com o pesquisador, este período do ano, historicamente, há uma incidência maior do número de casos de pessoas com doenças respiratórias, como o influenza H1N1, e agora o novo coronavírus. “Em termos de clima, estamos entrando no período que, no geral, é mais preocupante”, disse.

As medidas de higienização, uso de máscara e o distanciamento social são cuidados que se aplicam a todas doenças respiratórias. “A questão é o quanto vamos manter essa adesão, porque o que fizer ou deixar de fazer em relação ao novo coronavírus, se aplicará à todos os demais vírus respiratórios”.