No mundo dos games, alguns nomes se destacam não apenas pelo talento, mas também pela paixão que demonstram por seus jogos, tornando o cenário gamer mais inclusivo. O streamer Jhonata Fargnolli ganhou notoriedade como “Firmezinha”. Sua história começou em uma pequena cidade do interior de São Paulo. Hoje, com 30 anos, é um sucesso no mundo dos games. Ficou conhecido por sua determinação e paixão nos jogos de FPS como CS:GO, PUBG, Free Fire e Fortnite. Ele prova que a verdadeira medida do sucesso está na vontade de superar desafios, independentemente de qualquer limitação.
Ele nasceu sem os membros superiores, devido a medicação receitada de forma errada para sua mãe durante a gestação. Mas isso nunca foi motivo para ele deixar de fazer algo que as pessoas costumam fazer. Sempre alegre e bem-humorado, ele contou que seu primeiro contato com o mundo gamer foi com o Atari.
“Os jogos vieram como um segundo plano na minha vida. Primeiro veio o esporte convencional, o futebol. Ganhei do meu tio um Atari, foi meu primeiro contato com jogos, mas não gostei muito. Comecei a gostar de videogame mesmo com o Nintendo 64, em que jogava o Mario. Depois fui para o PlayStation e foi quando peguei um pouco de gosto. Mas ainda preferia jogar bola.”, contou.
A paixão pelos jogos eletrônicos ascendeu em 2005, quando conheceu o famoso jogo de FPS, Counter Strike.
“Fui com um amigo meu na lan house e ele ia jogar Grand Chase. Dai vi um outro menino jogando CS e me apaixonei logo de cara com o jogo de FPS. Eu quis jogar esse mesmo. Quando vi pensei ‘caramba, isso é legal demais'”, afirmou.
Carreira
Com o tempo, o seu amor pelo game cresceu cada dia mais. Seus streams são uma mistura de ação e momentos engraçados, o que o tornou uma figura na comunidade gamer. Ele interage com seus seguidores, compartilha dicas e estratégias e até mesmo organiza eventos de caridade para apoiar causas importantes.
O verdadeiro ponto de virada em sua carreira ocorreu quando ele decidiu começar a transmitir suas partidas ao vivo na plataforma de streaming. Com sua personalidade carismática e habilidades incríveis no jogo, Firmezinha rapidamente conquistou uma legião de fãs.
“A ideia de fazer streamer veio com um cara que sou muito fã, o Silvio Santos do CS. Pra mim era só sentar, jogar e acabou. Quando vi ele jogando e interagindo com as pessoas, eu achei legal. A stream começou em 2014, em uma lan house porque a internet na minha casa não era boa. Foi onde eu vi essa live e quis fazer parte disso também e entender como funcionava”, afirmou Firmezinha.
Em um evento de games em São Paulo, ele conheceu grandes nomes pessoalmente, como Fallen e outros jogadores e fãs de Counter Strike. Durante o evento, uma fila de pessoas se formou para tirar foto com ele.
“Quero inspirar pessoas e foi por isso que comecei as lives. Que temos o nosso lugar no mundo. E mostrar que não somos extraterrestes. Somos iguais as outras pessoas, só temos nossas limitações. Eu quero inspirar pessoas e enquanto estiver inspirando é o que vale. E por isso, continuo fazendo minhas lives”, afirmou.
Adaptações
Jogar bastante com os pés ocasiona algum risco à saúde? Firmezinha contou que demorou um ano para se adaptar à nova posição. Deixou de usar o teclado e o mouse na mesa por uma questão de saúde.
“Pra mim começar a jogar demorei quase um ano pra me adaptar legal. Até hoje estou descobrindo novas posições. Fiquei muito tempo jogando na mesa com o teclado e mouse em cima da mesa. Só que isso me prejudicou, fiquei um ano sem poder jogar mesmo porque prejudicou meus rins pq minhas coxas ficou apertando meus rins. Fui parar no hospital depois de uma live de 12 a 14 horas. Ficava pressionando muito. No dia que fechei a live, fui para o hospital por conta da dor das costas. Quando vi estava com problemas nos rins e a médica disse que se eu não parasse teria que fazer hemodiálise. Ai fiquei desesperado porque a stream é o que eu mais gosto de fazer. Quando vejo as pessoas jogando, as pessoas colocam os braços na mesa por isso colocava meus pés, mas agora, coloquei no chão. Coloco meu mousepad grande em cima do tapete com meu teclado e mouse e estou me adaptando agora dessa forma”, ressaltou.
Cenário inclusivo
Várias empresas de jogos têm trabalhado para criar um cenário mais inclusivo para pessoas com deficiência. Isso inclui esforços para tornar seus jogos mais acessíveis e para garantir que todos os jogadores possam desfrutar de suas experiências de jogo.
“Agora tem até premiações para jogos acessíveis, o que estimula as empresas a desenvolverem jogos com acessibilidade. Eu jogo com o pé, então para mim, é muito difícil encontrar um jogo que não consigo jogar, pois estou acostumado com mouse e teclado. A única coisa ruim é que gosto de jogar videogame, então o controle para mim ainda é complicado. Já o teclado e o mouse são mais fáceis. Eu uso o botão de pular no scroll do mouse, e a maioria dos jogadores de CS também utiliza o scroll. Dependendo do jogo, eu altero as teclas. No geral, os controles são muito caros, mas acredito que a Microsoft e a Sony tenham feito controles adaptados. Mas eu não testei porque são muito caros. Pelo menos agora estão pensando em nós, pois muitas pessoas com deficiência jogam, e espero que isso cresça ainda mais e se torne popular”, afirmou.
Durante suas lives, infelizmente, alguns haters acabam aparecendo como qualquer streamer. E firmezinha lida de forma bem-humorada e muita das vezes, apenas ignora.
“Eu apenas ignoro, às vezes aquela pessoa está passando por um momento ruim. Eu só não ligo e deixo pra lá esse preconceito. Só ignoro, a minha família me ajudou muito sobre isso, de não ligar para o que as pessoas falam. Então eu não me importo com os haters”, contou.
Família
Desde cedo ele demonstrou um amor incondicional pelos jogos de tiro em primeira pessoa. Seus pais, inicialmente preocupados com o tempo que ele passava em frente ao computador, logo perceberam que aquele era o seu verdadeiro talento e paixão.
“Eu comecei em 2013 e 2014, então era aquela ‘você vai trabalhar com videogame?’. Mas meus pais logo entenderam e me apoiam. Hoje, moro com a minha esposa há 5 anos, mas temos 11 anos de namoro. Ela trabalha comigo e me apoia. O apoio da minha família é tudo para mim, tudo o que eu faço eles acompanham”, ressaltou.
Com o passar dos anos, a lenda de Firmezinha cresceu ainda mais, e ele se tornou uma inspiração para jovens jogadores de todo o mundo. Sua história é um testemunho de que paixão, dedicação e talento podem transformar um garoto do interior em uma lenda dos eSports.
“Em qualquer profissão, não podemos desistir em nenhum momento. As pessoas com deficiência não precisam se esconder, e sei que é difícil se mostrar ao mundo. O primeiro passo é se aceitar, porque depois disso é só ignorar a opinião das pessoas, não dar bola, porque são pouquíssimas pessoas que têm preconceito”, concluiu.
Por que Firmezinha?
A maioria dos streamers adotam nomes criativos ou apelidos. O que não foi diferente para o Jhonata Fargnolli.
“Eu me inspiro em três pessoas: Fallen, Cogu e Silvão. Eu assistia muito aos vídeos deles. O Fallen e o Cogu competiam muito, então não tinha muita live. Mas o Silvão colocava muitos vídeos no YouTube. E tem um vídeo do Silvão em que ele coloca a mão para fora e faz um ‘firmezinha’ com a mão para pedir passagem, porque o carro não tem seta. Um dia, estava indo para a praia com a minha madrinha e, em um dia de chuva, quebrou a seta dela. E ela falou brincando para eu colocar o pé para fora e fazer o ‘firmezinha’ para pedir passagem. Daí, pensei ‘pô, e se eu colocar meu nick de Firmezinha?’. Porque eu faço com o pé”, concluiu Firmezinha.
Firmezinha continua sua jornada no mundo dos games, sempre em busca de novos desafios e conquistas. Ele não apenas deixou sua marca no Counter-Strike, mas também na comunidade gamer como um todo, mostrando que a verdadeira firmeza está no coração de quem ama o que faz.
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