Norberto Salomão
Norberto Salomão
Norberto Salomão é Advogado, Historiador, Professor de História, Analista de Geopolítica e Política Internacional, Mestre em Ciências da Religião e Especialista em Mídia e Educação.

GAZA: O ENSURDECEDOR SILÊNCIO DOS INOCENTES

É impressionante como a sensibilidade do artista, seja ele poeta, músico, pintor ou escritor, consegue captar a essência de um momento e nos faz refletir. Por vezes uma imagem, uma charge, um verso são capazes de expressar os aspectos multifacetados da realidade.

O atual conflito entre o Estado de Israel e o Hamas, com suas narrativas e imagens chocantes, tem sido alvo de variadas opiniões e polêmicas. Nós, analistas de geopolítica, buscamos contribuir expondo as motivações do conflito e os interesses envolvidos. Mas, apesar de buscarmos racionalizar sobre as guerras, a morte de inocentes, principalmente crianças e vulneráveis, escancara a insanidade de qualquer conflito.

Refletindo sobre isso, pelo menos três artistas me vieram à mente, com suas obras absolutamente impactantes sobre as guerras e seus efeitos deletérios.

Guernica, uma das obras mais famosas do pintor espanhol Pablo Picasso, foi produzida em 1937, e é um grito contra a guerra e suas atrocidades, um libelo contra a violência. A obra, pintada a óleo e exposta no ‎Museu Nacional Reina Sofia, em Madri, transcendeu o evento que a inspirou, a Guerra Civil Espanhola, e tornou-se um símbolo não só da dor, do sofrimento, da angústia e da tristeza das guerras, mas também de defesa da vida e dos direitos humanos.

Outro artista que expressa brilhantemente as tragédias das guerras é o misterioso, pois é uma das maiores incógnitas do mundo da arte. Trata-se de Bansky, um artista de rua que impressionou o mundo, a partir dos anos 1990, com suas intervenções urbanas provocativas, e que até hoje não teve sua identidade exposta.

 Em sua obra, Girl with ballon, realizada em 2002 em Londres, Bansky nos provoca os sentimentos mais variados, sobre a infância, a solidão e a esperança.

A garota segurando o balão é, possivelmente, a imagem mais icônica do artista britânico Banksy. Ela já foi reproduzida em larga escala pelo mundo e virou um dos símbolos de sua arte. Foto: Reprodução/ Banksy Official Site.

Bansky também refletiu sobre o conflito entre israelenses e palestinos. Na obra Stop and Search (Pare e pesquise), produzida em 2007 em Bethlehem, na Palestina, o artista propõe uma inversão de papéis bastante provocativa.

Em 1992, a banda Legião Urbana lançou o álbum “Músicas para Acampamentos” no qual está a música “O Senhor da Guerra”, composta por Renato Russo. A música não se refere a um conflito específico, mas faz uma crítica àqueles que articulam as guerras pelos interesses mais diversos e mesquinhos.

A canção trata desde os interesses econômicos, apontando que há aqueles que lucram com a guerra, mas não morrem nelas, pois são jovens inocentes que são convocados para servir e morrer, passando pelo aspecto das narrativas que a justificam, pois, a guerra em si não faz sentido, portanto é necessária uma narrativa para lhe dar uma possível lógica, uma essência de plausibilidade. Assim são construídas e moldadas as narrativas de uma guerra. Nesse sentido, destaco uma das frases da canção: “(…) E lembre-se sempre que Deus está do lado de quem vai vencer”.

Porém, sem dúvida o ponto alto dessa composição está em sua estrofe final, na qual se repete insistentemente: “O senhor da guerra
não gosta de crianças”.

Não entrarei nos aspectos mais específicos dessa guerra, pois já fiz algumas considerações em artigos anteriores. Interessa-me nesse momento focar na vítimas, pois independentemente de sua opinião ou preferência por um dos lados, a verdade é que em cada um desses lados há milhares de inocentes que estão morrendo ou estão feridos e desamparados ou são reféns ou estão em uma fuga desesperada, buscando sair da zona de conflito.

Apesar de toda destruição e atrocidades, o conflito segue firme, pois o que importa é vencer o inimigo custe o que custar. Para os senhores da guerra as vidas perdidas são apenas um efeito colateral.

Um alento em todo esse quadro tem sido o repatriamento de pessoas que buscam fugir do conflito, apesar dos imensos obstáculos.

Essa semana conseguiu chegar ao Brasil o primeiro grupo de brasileiros que solicitaram ajuda das autoridades para deixar Gaza. Após o fechamento da fronteira devido a problemas diplomáticos entre Egito e Israel, finalmente eles conseguiram sair da região. Convém lembrar que desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 07 de outubro, o governo já repatriou mais de 1.477 brasileiros e 53 animais domésticos.

Porém, infelizmente o saldo dessa guerra tem sido terrível. A ação terrorista do Hamas no dia 7 de outubro, em um ataque surpresa contra Israel, matou 1,4 mil pessoas inocentes e sequestrou cerca de 200 pessoas, tornadas reféns, segundo autoridades israelenses.

A reação israelense, com o apoio de seus tradicionais aliados internacionais, com destaque para os EUA, uma campanha militar implacável em Gaza que já matou mais de 11 mil pessoas, sendo mais de 4,5 mil crianças, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. Infelizmente, os senhores da guerra não gostam de crianças.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 16 – Paz e Justiça

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