Você é um profundo conhecedor da cidade onde vive? O Sagres ON pesquisou e encontrou nove curiosidades sobre a história de Goiânia que pouca gente conhece.

1) Localizar endereços em Goiânia é difícil até para GPS

Não há sequência na numeração das ruas de Goiânia. Erro do plano original? Não. Existia uma lógica numérica nas ruas e avenidas no plano original de Attilio Correia Lima, informa a arquiteta e pesquisadora de sua obra, Amamaria Diniz. “Infelizmente com a modificação do plano, áreas verdes e áreas públicas foram loteadas, bairros reparcelados. Toda a lógica urbana se perdeu”.

2) Uma Ilha da Utopia sem hospital nem cemitério

A área destinada ao setor de universidades no plano original ficava próximo ao Bosque dos Buritis, no Setor Oeste. No desenho urbano de Attilio foi projetada uma área esportiva com piscinas e quadras de tênis. No entanto, o urbanista não previu cemitério, hospital nem delegacia. Goiânia foi pensada como a Ilha de Utopia, diz a arquiteta Anamaria Diniz.

3) Calibres de pistoleiro excluídos da numeração do Centro

O Centro histórico de Goiânia não tem as Ruas 38 e 44. Sabe por quê? Quem conta é o escritor Bariani Ortêncio. “Pedro Ludovico Teixeira quis fazer de Goiânia uma cidade cultural. Goiás tinha uma fama ruim: ‘matou em São Paulo, fugiu para Goiás’. Pedro, então, quis tirar o ranço de banditismo da cidade, tanto que as ruas do centro foram numeradas e não têm as ruas 38 e 44, porque é calibre de pistoleiro.”

4) A origem do art déco utilizado na construção da capital

O art déco – termo de origem francesa que se refere a um estilo artístico com origem na Europa no começo do século XX e apogeu na década de 1920 – é uma vertente mais eclética do modernismo e acontece no período entre as guerras mundiais. No Brasil, o estilo é encontrado nas cidades que passaram pelo ciclo do café, quando a classe média alta começa a ter acesso a produtos de luxo que chegavam do exterior e a uma mudança de comportamento com chegada do cinema, do rádio e do carro.

5) Polêmica sobre o estilo art déco em Goiânia

A arquiteta Anamaria explica que o art déco é um movimento tardio na capital (a partir da década de 30). A pesquisadora afirma que os trabalhos de Attilio Correia Lima “eram totalmente modernistas”, mas que eles foram alterados por não haver em Goiás mão de obra para executar esses projetos como foram elaborados. Por isso, considera que os edifícios da Praça Cívica são “sem estilo”, uma adaptação de um estilo modernista. Assim, ela diz que há apenas três exemplares do estilo na capital: o Teatro Goiânia, a Estação Ferroviária e o Coreto na Praça Cívica. No entanto, há pesquisadores que consideram art déco todos os prédios construídos no centro histórico com estilo similar.

6) Capital foi o primeiro canteiro de obra de técnica modernista do Brasil

Anamaria Diniz observa que Goiânia tem um fato histórico exclusivo que pouco explora. Foi o primeiro canteiro de obras no Brasil de uma técnica modernista da construção civil, o concreto armado. Foi uma experiência inédita que acontecia na América. “Arquitetonicamente falando, Goiânia foi o símbolo do moderno e do urbano em solo rural”, resume o historiador Nasr Chaul, autor do livro “A Construção de Goiânia e a Transferência da Capital”.

7) Estado contratou 4 mil servidores de fora para fazer a construir a capital

A mão de obra básica contratada para construir Goiânia, a partir de 1933, teve que ser chamada do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia, para formar um contingente operário que não havia se formado em Goiás ao longo de seu processo histórico. Foram 4 mil trabalhadores migrantes.

Um fotógrafo austríaco foi um dos migrantes que chegaram no Cerrado goiano onde se construía uma cidade, na década de 1930. Alois Feichtenberger fotografava o interior do Brasil quando ficou sabendo do surgimento da cidade. Apresentou-se ao jornalista Joaquim Câmara Filho, em 1936, com um pedido de emprego. Câmara, também um migrante do Rio Grande do Norte, havia chegado um ano antes para chefiar o Departamento de Propaganda e Expansão do Estado (DPEE), encarregado de fazer a divulgação da nova cidade para fora do Estado. Alois foi contratado e são deles as primeiras fotos da construção de Goiânia. Entre elas, uma bem conhecida: um carro de boi em frente ao recém-construído Palácio das Esmeraldas, no descampado onde seria a Praça Cívica.

Armogaste José Silveira chegou na fazenda onde seria construída Goiânia em 16 de outubro de 1933, oito dias antes do lançamento da pedra fundamental de Goiânia a convite de Attílio Correira Lima. O mineiro foi o primeiro trabalhador contratado. Ganhou o registro 001 de marceneiro da futura capital. Depois foi um dos fundadores da Fama (Fraternidade e Assistência a Menores Aprendizes), mantenedora do Cemitério Jardim das Palmeiras.

8) Pedro Ludovico mudou a capital sem lei de autorização do Legislativo

A lei que autorizaria a transferência dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da cidade de Goiás para a futura capital nunca foi aprovada pela Assembleia Legislativa. Quem conta essa história é o doutor em história e promotor de Justiça, Jales Guedes Mendonça Coelho em seu livro “A Invenção de Goiânia – O Outro Lado da Mudança”. O projeto de lei chegou a tramitar na Assembleia em julho de 1936.  Pedro Ludovico discordou de alguns pontos da proposta, houve dissidência na base governista e depois disso o projeto sumiu, conta o historiador. Posteriormente, Pedro Ludovico baixou um decreto regulamentando a transferência.

9) Primeiro Estádio do Goiás

No dia 31 de dezembro de 1949, a diretoria do Goiás Esporte Clube lançou a pedra fundamental para a construção de seu estádio. A área reservada tinha 60 112 m², situado ao lado do Lago das Rosas e com custo estimado em 7 milhões de cruzeiros, de acordo com reportagem da Folha de Goyaz. Por questões financeiras, o clube sequer conseguiu cercar a área e acabou perdendo do terreno. Na década seguinte, 1950, Ruarc Douglas conseguiu uma nova área, onde hoje está situada a sede na Avenida 85.