A cidade socializou suas calçadas e o fato capitaliza patrimônio para quem é avesso à Receita. Goiânia é a capital do turismo de negócio, mas o negócio dos governos é a demagogia. Autoridades municipal, estadual e federal preferem extorquir quem já paga impostos a combater a sonegação. Por isso, Goiânia se assemelha aos piores exemplos de zonas urbanas de países do quinto mundo da África e da Ásia.

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É uma tão surreal reunião de absurdos que custa-se a crer que as instituições permaneçam em vigor, entre elas os três poderes, inclusive um dos itens do Executivo, o Ministério Público. Goiânia é a capital das feiras livres, dos camelódromos, dos pit dogs, dos vigiadores de carro, do espetinho esperto, das banquinhas, da pirataria. O cenário no Centro e no bairro de Campinas lembra a divisa do Brasil com Paraguai e a periferia de Cabul. Nem parece que Goiânia é frequentada por juízes e desembargadores, prefeitos e governador, promotores e procuradores, fiscais da Receita e auditores. Mesmo que eles desçam no aeroporto e sigam direto para os condomínios fechados, é impossível que não vejam o território livre da sonegação, do contrabando, do descaminho, das mercadorias vindas da China para quebrar a indústria e o comércio locais.

Estima-se que 95% dos eletroeletrônicos sejam vendidos sem nota fiscal. Os atacadistas vão na onda e só paga imposto quem quer. O mesmo vale para confecção, agropecuária e outros setores altamente competitivos. Aí mora o problema maior, competir com quem está livre de tributos. O empresário legalizado se sente com cara de trouxa, pois é esfolado em 50% de impostos e seus concorrentes montam uma loja na Rua 44 ou numa calçada qualquer. No mesmo método, as autoridades desistiram de perseguir ladrões, incentivam o tráfico de drogas desejando a legalização, entregaram as ruas a assaltantes e acham normal conviver com 12 mil homicídios não resolvidos.

Os governos sabem quem são os criminosos. Então, no caso fiscal, não adianta dizerem que os cofres públicos estão vazios: é só irem para cima de quem não paga. E não adianta o populismo de considerarem coitadinhos os que estão com a banquinha na calçada ou vigiando carro. Eles ganham mais do que médico. A diferença é que médico o governo quer importar e nenhum governo se importa com os sonegadores.