O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), foi questionado, em entrevista à Sagres, sobre o pagamento da Data-base dos servidores públicos, que não é paga desde 2016. O governador afirmou que não foi ele quem interrompeu o pagamento, e declarou que hoje o Estado tem algo fundamental, o que ele chamou de “data-base social”.

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“Estava fazendo um Mutirão em Aparecida [de Goiânia] e a fila de pessoas para receber meio quilo de fubá e um litro de óleo de soja, você não consegue para imaginar. Eu diria que havia mais de dois quilômetros de pessoas na fila. Quando se governa, você tem que governar não apenas para atender alguns segmentos, você tem que governar numa visão de 246 municípios e 7,2 milhões de pessoas”, comentou.

Ouça a entrevista:

Caiado prosseguiu e explicou que chama de “data-base social”, que é o recurso usado para ajudar os cidadãos em situação de vulnerabilidade, fazendo uma alusão aos programas sociais. “É repassar R$ 350 para uma pessoa que precisa pagar o aluguel; R$ 100 para o estudante não deixar a escola; é fazer um programa de dignidade menstrual, em que o governo compra e repassa a todas as mulheres e estudantes os absorventes. Isso é data-base social. Tenho que poder contemplar todas essas datas-base”, detalhou.

Ao citar os “2 anos, 11 meses e 21 dias” de governo, o chefe do Executivo estadual ainda pediu tempo para que consiga pagar a data-base dos servidores públicos. “Todos os repasses da União, fundo a fundo, com as emendas parlamentares não vão entrar no teto. Isso já me dá uma folga. Vai me dando uma folga aqui e outra acolá, aí vou e reajusto 4%, 5%, 6%, 8%. Vai abrindo espaço e vai contemplando aqui e acolá. Tanto é que estamos dando conta de demonstrar isso que estamos fazendo”, finalizou.

Assista a entrevista no Sagres Sinal Aberto:

Confira a entrevista na íntegra:

Rubens Salomão: O senhor já falava na campanha de 2018 sobre a recuperação fiscal do Estado e iniciou janeiro de 2019 buscando essa possibilidade em Brasília. A expectativa era de que neste final de ano tivesse a assinatura. Qual é a informação que o senhor tem de Brasília? Haverá essa assinatura do RRF?

Ronaldo Caiado: Primeiro, quero na data de hoje poder comemorar algo que só nós goianos conseguimos. Acho que essa, sinceramente… Acho que no final do nosso terceiro ano, nós  tivemos uma vitória que é algo inimaginável, ou seja, era tido como algo impossível conseguir o que conseguimos. Um Estado que havia feito um acordo, em 2016, não havia cumprido o acordo, não havia pago as parcelas, havia sido imputado a nós uma multa de mais de R$ 1 bilhão. Goiás sem a menor capacidade de poder contrair qualquer empréstimo e, sem dúvidas, as dificuldades foram enormes, porque a gente tentava dizer: “Olha, mas as dívidas que estão aí no não pagamento do salário dos servidores não podem ser acrescidas às dívidas contraídas pelo Estado”. Então, tentaram, do ponto de vista burocrático, criar algumas dificuldades para que não entrássemos no RRF. 

Por exemplo, “só se privatizar a Saneago”, depois criaram critérios de que teríamos que ter pagamentos com taxa de IGPDI mais 7%, conforme contratos anteriores. E, veja bem, nós fomos superado tudo isso. Então, foi um trabalho inédito. Modéstia parte, o que Goiás deu conta de fazer tem sido hoje comemorado pelo Brasil todo, ou seja, Goiás passou a ser referência nacional de como poder estruturar o Estado, fazer a tarefa de casa, botar ordem em casa, fazer as reformas e cortes necessários, e ao mesmo tempo ter condições de, ao invés de repassar R$ 3 bilhões por ano para pagar parcelas de dívidas e também juros… Os juros que pagávamos eram juros de IGPDI mais 7%, era em dólar. Nós temos uma dívida em dólar, contraída em 2014, de R$ 1 bilhão, que Goiás já pagou R$ 1,5 bilhão e ainda devemos R$ 3 bilhões, porque não fizeram o seguro. Então, a dívida cresceu de forma desproporcional, tanto é que é uma das autorizações que a Assembleia Legislativa nos deu para renegociar essa dívida chamada BB Estruturante, que tiraram para a antiga Agetop. 

A partir daí, só nessa renegociação da dívida, Goiás vai economizar mais de R$ 700 milhões. Ao invés de Goiás ter que pagar R$ 3 bilhões por ano, em 2022 vamos pagar R$ 90 milhões o ano todo. Então, nós teremos condições de investir fortemente em infraestrutura, na nossa parte logística, isso tudo gerando desenvolvimento no Estado de Goiás que você vê a capacidade que estamos tendo de poder transformar o Estado de Goiás em educação, saúde, segurança, programas sociais, rodovias, pontes, tudo isso dentro daquilo que se faz que é ajuste fiscal.

Ajuste fiscal é você poder gastar o que arrecada. Hoje, isso é algo que você não pode imaginar minha alegria como governador do Estado, algo que era tido como impossível porque tinha o Rio de Janeiro, com maior bancada que a nossa, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, e nós fomos o único no país [que conseguiu]. Além do mais, recebendo elogios do ministro da Economia [Paulo Guedes], do Tesouro Nacional e do próprio Supremo que reconhece que aquilo que Goiás fez é algo que pode se transformar num método para poder incluir outros estados que dependem dessa renegociação da dívida. Então, isso aí eu posso dizer que é um dos grandes pontos, porque ninguém acreditava que daríamos conta disso. Hoje foi um marco para dizer que a responsabilidade fiscal, o ajuste fiscal é trazer Goiás para ter controle sobre suas dívidas, poder quitar seus compromissos em dia, pagar os servidores em dia, pagar os que fornecem o Estado em dia e ter credibilidade moral para poder investir cada vez mais no Estado. 

Cileide Alves: O que o governo de Goiás vai ter que fazer a partir de agora para ter o ajuste e, ao final, ter superávit fiscal para pagar as despesas regulares e o serviço da dívida?

Ronaldo Caiado: A Celg Distribuidora é a maior empresa do Centro-Oeste brasileiro, em avaliação feita pelo mercado. Ela foi de tal maneira esfoliada, assaltada, que o Tesouro do Estado de Goiás teve que assumir uma dívida de R$ 5,5 bilhões para jogar dentro do caixa da Celg. E o povo goiano assumiu a dívida de R$ 5,5 bilhões, mais por 29 anos todo o passivo da Celg. Então, por baixo, calcula-se hoje que com a venda da Celg de R$ 1,1 bilhão, que o Estado de Goiás recebeu, o povo goiano ficou devendo no mínimo R$ 7,5 bilhões. Então, como explicar isso? Uma empresa que era a maior do Centro-Oeste, a mais rentável, que fornece energia, que recebe dinheiro na conta todo o final de mês, como o governo explica a maior empresa do Centro-Oeste que o povo goiano tem que assumir uma dívida de R$ 7,5 bilhões, no mínimo, porque não temos o cálculo do que será o passivo da Celg nos 29 anos, e vender por R$ 1,1 bilhão.

Sou governador há 2 anos, 11 meses e 21 dias, nós pegamos uma pequena fatia da Celg, chamada Celg Transmissão e vendemos por R$ 1.977 bilhão. Não trouxemos um centavo de dívida para o Tesouro e tivemos condição de dizer: “Olha, governo federal, está vendo como é a boa gestão? Você não exigiu que eu fizesse a reforma da Previdência? Estipulando que a partir de um salário mínimo a pessoa teria que pagar 14,25% da Previdência? Está aqui, estou depositando R$ 2 bilhões no Fundo da Previdência, e agora até R$ 3 mil ninguém tem que pagar nada”. Veja bem, isso é um exemplo para dizer o que é uma gestão responsável, está aí a explicação. Ou seja, quando você tem transparência nas ações, responsabilidade fiscal. 

Hoje o dinheiro público não é usado para fazer campanha eleitoral nem para contratar apoio de prefeitos, muito menos para enriquecer. O resultado é esse. Então, esses ajustes todos serão feitos. Por exemplo, o ponto que diz: Goiás tem que fazer assim. E já fizemos desde o primeiro ano. Temos que diminuir os incentivos porque não é justo que a população hoje, que chamamos de pessoas vulneráveis e mais carentes, assistam o Estado abrir mão de R$ 8,5 bilhões de ICMS. Então, é exatamente essa gestão que precisamos entender que eu tenho que governar para 7,2 milhões goianos. Esse é o processo que estamos fazendo.

Outra coisa, invés de pagarmos R$ 3 bilhões por ano, que pagávamos quando eu recebi o governo [com o serviço da dívida], de parcela mais juros, eram R$ 250 milhões por mês, nós vamos pagar R$ 90 milhões por ano em 2022. Vamos pagar R$ 400 milhões em 2023. Vamos chegar ao máximo de R$ 1,9 bilhão em 2027, onde a receita de Goiás vai estar talvez multiplicada por 10. Então, o que nós fizemos foi tirar do indexador IGPDI mais 7 e passar para IPCA mais 4. Quer dizer, qualquer pessoa que está no mercado sabe o que é isso, são trilhões de reais que estamos tirando dos ombros dos goianos. 

Agora, eu toco em outro assunto: então Goiás optou por uma tese em relação à data-base. Veja, a data-base foi paga em Goiás quando? Quem foi que rompeu com a data-base? Não foi eu, não foi o nosso governo. Então, a verdade precisa bem aclarado. 

Cileide Alves: Mas o governo poderia voltar a pagar a data-base?

Ronaldo Caiado: Mas como? Em 2016, o Estado colapsado, definiu o teto e deixou de pagar a data-base. Então, o que eu peço a todas as pessoas que estão nos ouvindo e nos assistindo é que deem um tempo. Eu não tenho 20 anos de governo, tenho 2 anos, 11 meses e 21 dias. Eu conto por dia. Então, o que estamos fazendo: veja bem, hoje temos o aposentado que até R$ 3 mil não paga nada [de Previdência], já temos a garantia das promoções e progressões, todos os concursos já colocados estão com previsão na LOA. Já teve a primeira votação e a segunda será hoje.

Então, gradualmente você vai abrindo espaço fiscal. Agora tem uma Lei, que devo muito aos deputados federais e senadores, que abre um espaço maior no teto. Todos os repasses da União fundo a fundo com as emendas parlamentares não vão entrar no teto. Isso já me dá uma folga. Vai me dando uma folga aqui e outra acolá, aí vou e reajusto 4%, 5%, 6%, 8%. Então, isso tudo é calibrado, não tem nada engessado. Olha, você vai abrindo espaço e você vai contemplando aqui e acolá. Tanto é que estamos dando conta de demonstrar isso que estamos fazendo. 

Em primeiro lugar, data-base e teto não foram estipulados por mim. Foram estipulados no governo anterior, em 2016. Então, eu não consigo fazer o milagre da transformação da água em vinho. Dizer que a partir de agora tudo é vinho, tudo está arrumado e ok. Não, eu herdei tudo isso, e não estou aqui chorando leite derramado. Estou construindo a saída para Goiás, tanto é que fomos o único Estado do país a conseguir o RRF.

Cileide Alves: Como ficará 2022, o senhor vai enviar projeto para Assembleia para reduzir ainda mais os incentivos fiscais?

Ronaldo Caiado: Aquilo que for necessário. A população que vai decidir porque eu tenho uma data-base que é fundamental, que eu criei no governo. É a data-base social. Eu estava fazendo um Mutirão em Aparecida e se você ver a fila de pessoas para receber meio quilo de fubá e um litro de óleo de soja, você não imagina. Eu diria a você que havia mais de 2 quilômetros de pessoas na fila. Então, quando se governa, você tem que governar não apenas atendendo alguns segmentos, você tem que governar numa visão de 246 municípios e 7,2 milhões de pessoas. 

Então, chamo de data-base social aquela que o cidadão que está em condições de vulnerabilidade precisa ser socorrido pelo Estado para poder alimentar o filho dele, ter condições de ter água. Um repasse do governo entra pesado agora, pagando mais de R$ 40 milhões para que a taxa de água seja rebatida em 80% do valor. O metro cúbido que custa R$ 8, ele vai pagar R$ 1,07. Então, é a data-base social para eu poder dar R$ 250 para a mãe da criança que tem de 0 a 6 anos de idade e que hoje não tem como alimentar a criança direito. 

Cileide Alves: Esse é um nome coletivo para os programas sociais?

Ronaldo Caiado: Não, é a data-base social. Veja bem, a pessoa está morando debaixo da ponte: eu vou ficar vendo aquilo? Eu sou governador. Isso é imediatamente a data-base social, é repassar R$ 350 para essa pessoa pagar o aluguel. Você precisa ver a quantidade de contrato que nós fizemos para o cidadão não morar debaixo da ponte, debaixo da marquise. ENtão, eu pergunto a você: quando eu dou R$ 100 para o estudante não deixar a escola, o Ensino Médio; quando faço [programa] dignidade menstrual, que o governo compra e repassa a todas as mulheres e estudantes, isso é data-base social. Eu tenho que poder contemplar todas essas datas-base.

Eu tenho que reajustar nos servidores 4%, 5%, 6%, e também tenho que atender a pessoa que está lá, em situação de carência, tenho que instalar um hospital, uma policlínica, um local para fazer hemodiálise, tenho que levar uma ponte, arrumar uma rodovia. Então, isso que eu chamo de governar, essa que é a beleza de um governo transparente, porque você tem a tranquilidade de a qualquer momento pedir à Secretaria de Economia como está sendo gasto o dinheiro do governo de Goiás.

Cileide Alves: Para que isso aconteça, é necessária a assinatura do governo federal. Qual será a estratégia para poder convencer o presidente a assinar ainda este ano?

Ronaldo Caiado: A informação que eu tive é que disseram para ele que o governo de Goiás poderia alegar amanhã que estaria fazendo reajuste e responsabilizando o governo federal. Primeiro lugar, eu sou uma pessoa que tem uma história de vida, que tem posições muito claras e eu não minto, não repasso para outros o que não é responsabilidade dos outros. Não é responsabilidade do governo federal os problemas de Goiás. Os problemas de Goiás têm que ser resolvidos por nós em decorrência do que dilapidaram no Estado de Goiás em decorrência dos anos anteriores. Então, ao levarem essa fala ao presidente da República é algo não só mentiroso, mas de extrema má fé. Eu jamais falaria isso.

Ao contrário, o governo de Goiás tem que dizer: “Olha, presidente, o governo federal atendeu, nós fizemos a tarefa de casa, e o governo federal atendeu Goiás no RRF, na renegociação”. O governo federal deu condições a nós de dizer: vamos governador o Estado com seriedade. Então, o senhor nos deu um prazo para quitar nossas parcelas, não vamos atrasar nenhum dia e Goiás, a partir de 2027, dá conta de quitar 100%, tudo, sem precisar do apoio do governo federal. É isso que estamos dizendo. Mas é lógico que tem pessoas que, às vezes, fomentam, tentam distorcer as palavras, as coisas. Então, eu formalizei um pedido de audiência com o presidente, no dia 16 de dezembro. 

Pedi ontem à bancada [federal] que também solicitasse uma audiência com o presidente para que a gente pudesse aclarar as coisas. Dizer: Olha, presidente, a responsabilidade é de Goiás. Eu sou um homem que sempre assumi. Estou assumindo problemas dos governos anteriores. Por que eu iria distorcer algo e dizer amanhã que seria o governo federal responsável por não podermos reajustar o salário de todo mundo? Eu jamais falaria isso, eu nunca falei isso. Pelo contrário, sempre fui ao governo federal e o governo federal sempre disse: Para você entrar no RRF, você tem que cumprir essas cláusulas. Então, não cabe a mim escolher o que quero. Por que os outros Estados não entraram? Porque não cumpriram, eu fui o único que cumpri.

Rubens Salomão: Esse discurso passado para o presidente já é uma influência de 2022? Há uma tentativa de criar uma pré-candidatura contra o senhor para disputar o governo no ano que vem.

Ronaldo Caiado: Se é que tem. Não vamos entrar nessa pilha. Não tem sentido. Estamos comemorando o RRF, um outro momento em Goiás, uma outra situação que Goiás vive hoje, com segurança, educação, saúde, programas sociais e todo mundo está entendendo a transformação que fizemos. Agora, de repente a gente vai se perder por causa de uma fofoquinha aqui e acolá, previsão para 2022. Então, que seja lá… A convenção será em julho, então vamos fazer em julho. Tem a eleição, vamos disputar, mas agora vamos cuidar de quem está de baixo da ponte, sem moradia, e tentar socorrer as pessoas que estão desassistidas, as crianças que estão sem alimentar, a saúde que precisa de mais condições em Goiás. Vamos cuidar das coisas que temos que cuidar e resolver isso. 

Agora, querer antecipar um processo que é acessório, secundário, para ser o principal, em dezembro de 2021. O principal hoje é entendermos que tem desemprego, fome, carência. Então, a gente não pode ficar desenhando um Estado maravilhoso e que tudo está resolvido. Não. A gente tem que assumir aquilo que realmente existe de carência no Estado. Então, um Estado inteligente tem que ser um governo humanitário. Não adianta querer transformar: “Olha, está tudo uma beleza, tudo uma maravilha”. Aí você chega e tem criança morrendo de turberculose infantil. É isso? Pessoa que não tem onde fazer uma hemodiálise. Eu sou muito direto nas coisas. São sou o salvador da pátria, não vou resolver tudo, mas vou me empenhar em dedicar tempo integral da minha vida. Eu não sai um dia de Goiás, é 24h aqui dentro, andando, trabalhando, e modéstia parte nós conseguimos, fomos o único Estado no país que consegue renegociar dívida. 

Então hoje, modéstia parte, eu não quero pautar jornal, mas deveriam dizer: Parabéns, governo de Goiás, o único no Brasil a renegociar a dívida. Parabéns, Assembleia Legislativa, parabéns, deputados federais e senadores, que conseguiram transformar Goiás em uma referência nacional de renegociação da dívida.

Rubens Salomão: Falta só uma assinatura. 

Ronaldo Caiado: Mas essa assinatura eu acredito que, esclarecido isso que vocês me deram a oportunidade e hoje está transcrito nos jornais, não pode querer passar amanhã a responsabilidade para o governo federal sobre reajuste ou não. Lógico, eu jamais responsabilizei o presidente da República por isso, não é responsabilidade dele. Pelo contrário, o governo federal está nos ajudando a sair da calamidade que o governo anterior nos impôs. 

Cileide Alves: Há três semanas o presidente aproveita para te criticar. Com esse recado que o senhor dá hoje, o pedido para a bancada e a sua própria audiência mudará o clima, que está de briga?

Ronaldo Caiado: Não tem isso. O presidente vive me citando, adora. O presidente gosta de mim. Diz: “Eu nunca vi nenhuma liderança como Caiado, foi o primeiro que chegou à Cinelândia em 1989, e me fez sair da Câmara de Vereadores. Fui assistir Caiado”. Você sabe como é. No poder, às vezes… Tem uma história de que José Maria Alckmin mandou a Juscelino Kubitschek o seguinte telegrama: “Olha, cuidado. Você chegou ao poder e junto com ele chegam os puxa-sacos”. E ele respondeu: “Verdade. E o pior, estou gostando”. Então, nós temos que descontrair e dizer que a responsabilidade de Goiás, Goiás assume. E essas interpretações maldosas que levam não procedem porque eu jamais, em minha vida, transferi responsabilidade minha. Tenho certeza que esclarecido tudo isso e com pedido de audiência nosso e da bancada, não tem porque a matéria não ser assinada. 

Se não for assinado, você pega três anos de trabalho, joga fora e a partir do dia 1º de janeiro não tem nenhuma condição de sequer quitar folha de pagamento, nem [condição] de governabilidade. Se não for assinado, nosso contrato com o Banco Mundial, em que economizaremos para o povo goiano R$ 740 milhões não tem como ser feito. Então, não é simplesmente assinar ou deixar de assinar. A não assinatura leva o Estado de Goiás a uma situação de completa inviabilização do ponto de vista fiscal, econômico e financeiro.

Cileide Alves: Aí será responsabilidade do presidente por não ter assinado a adesão?

Ronaldo Caiado: Estou dizendo as consequências, não estou já pré-julgando a ação do presidente, que não vai assinar. Se não for assinado, as consequências são extremamente graves. Por isso que insisto, porque às vezes as pessoas opinam em um tema sem conhecer, esse é o problema. Eu peço às pessoas que ao opinarem sobre um tema, estudem. É o mínimo que se exige. Ao emitir uma opinião, que a pessoa tenha conteúdo para falar sobre o assunto. 

O que estou dizendo é que caso isso não aconteça, nós entraremos em um processo de total colapso, porque se você jogou durante três anos para chegar na condição que chegamos hoje, o RRF tem que ser assinado em um ano e é aplicado a partir do primeiro dia do ano seguinte. Então, não adiantava nada termos concretizado isso em julho, não entraria em agosto de 2021. Então, você faz toda sua tarefa de casa, há três anos estamos fazendo, e aí quando chegar dia 1º de janeiro de 2022, as regras do RRF passam a prevalecer. Não assinar é de tamanha… que eu nem acredito que possa acontecer a não assinatura tamanho o dano que provoca na estrutura de governabilidade e de sobrevivência do Estado de Goiás.

Cileide Alves: O governo vai recorrer ao STF para garantir a assinatura?

Ronaldo Caiado: Ai eu volto ao espírito natalino. Tenho certeza absoluta que antes do Natal o presidente vai poder assinar esse documento, homologando este acordo que foi feito depois de tanto tempo de trabalho do governo de Goiás, que vai poder dividir com todo o Estado de Goiás nesse grande momento, que foi uma grande vitória, uma grande conquista. Então, não tem porque o governo federal não participar junto. 

A gente vai dizer: o Governo de Goiás estava assim, o governo federal deu a mão, vai por um período arcar com esse tanto que o governo de Goiás teria que pagar, Goiás vai fazer a tarefa de casa, não vai ficar mais recorrendo ao governo federal depois, vai saber caminhar com suas próprias pernas e o governo federal vai poder, junto com o presidente, ele assina, e nós poderemos comemorar esse grande gesto que está sendo feito pelo povo goiano.

Rubens Salomão: O senhor já escolheu Daniel Vilela como candidato a vice-governador. O presidente também já se movimentou aqui em Goiás. Como o senhor avalia a situação da sua base com a do presidente, vão estar separadas?

Ronaldo Caiado: Essa é uma pergunta difícil porque todo mundo tem direito de lançar candidato ao governo, todo partido tem direito. O PL não faz parte da minha base, então se existe uma candidatura não cabe a mim. Cabe a mim preocupar conosco, como vamos compor a chapa e como vamos para a eleição de 2022. Agora, o que outros partidos vão decidir é prerrogativa do partido, não posso fazer uma avaliação de como o partido A ou B, que não esteja na base do governo, vá amanhã se apresentar com candidatura própria ou coligação da majoritária. A única coisa que temos que fazer é aguardar o tempo e o período das convenções, aí vamos ver quantos candidatos vamos ter, mas não tem como você antever esse processo. 

Cileide Alves: Esse é o seu penúltimo ano. Qual será a marca que o senhor deixará nesse governo e o que vai propor no ano que vem como candidato à reeleição?

Ronaldo Caiado: Com experiência de vida de seis mandatos no Congresso Nacional, em que muitas pessoas diziam: “Ronaldo Caiado nunca administrou um carrinho de pipoca, como ele vai administrar o Estado de Goiás?”. Então, esse era o desafio que era lançado, as pessoas muitas vezes não acreditavam que a gente pudesse governar o Estado, mas eu aprendi muito na minha vida. Primeiro, porque tenho muito receio de pessoas que se sentem donas da verdade. Segundo, aprendi também que para governar você tem que buscar cabeças melhores em cada uma das áreas do governo, tem que buscar expoentes em cada uma das áreas. Você não pode dividir o governo em capitanias hereditárias para A ou B. Então, esse é outro ponto que eu acho que deixo em Goiás. O Estado se fala, se interage, não tem uma Secretaria independente da outra. Existe aí uma congruÊncia entre todas as Secretarias. 

Segundo ponto é que como deputado eu também aprendi que a gente só constrói maioria se tivermos a humildade a metade mais um dos votos dentro das votações no Congresso. Por isso, nunca tomei nenhuma deliberação sozinho. Chamei, em todos os momentos, o presidente do Tribunal de Justiça, da Assembleia Legislativa, a Procuradoria Geral da Justiça, representante o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Tribunal de Contas do Estado e dos Municípios. Em todas as minhas ações de governo, nos momentos mais delicados, sempre chamei em reuniões e deliberamos sobre cada passo que o governo deveria tomar. Até para renegociar a dívida todos eles estiveram comigo sentados no Ministério da Economia. Então, dizer que você só governa compartilhando responsabilidades e também suas ações.

Terceiro ponto que acho que deixo como marca no governo é um governo que não usa de obras para poder induzir a um processo político eleitoral. Pelo contrário, estou recuperando, reconstruindo, concluindo obras passadas que foram feitas muito mais com objetivo de processo eleitoral do que aquilo ser levado em benefício da população. Um exemplo fácil: por que nunca se construiu um hospital no interior de Goiás? Não é por causa da construção física do hospital, isso é secundário. O Hospital, por exemplo, de Uruaçu, o que eu gasto em cinco meses de custeio é o preço do hospital. O problema é que nunca se quis construir um hospital em Goiás porque a manutenção do Hospital é, sem dúvidas, superior ao que você gastou para instalar o hospital. Então, não, nós estamos fazendo com que a regionalização da Saúde seja uma realidade. A segurança pública seja uma realidade. A educação foi algo que não tem em nenhum outro Estado do país que tenha feito a revolução que nós fizemos. Posso dizer o seguinte: a marca que fica do governo Ronaldo Caiado é um homem que como médico, como cirurgião, deixou uma marca muito forte como governador, ou seja, eu cuidei dos 7,2 milhões goianos, eu governei para os 7,2 milhões goianos. Essa é a minha marca, é o que quero levar, com a consciência tranquila, que jamais troquei vida por votos. Essa é a marca maior do meu governo, um homem que tem respeito pela vida, pelas pessoas e que governa para as pessoas do nosso Estado de Goiás. 

Cileide Alves: Por que voltar a ser governador?

Ronaldo Caiado: Sinceramente, se eu recebo [o Estado] com uma crise fiscal, com dois anos de pandemia, eu só tenho quase um ano para governar, e esse um ano é o ano da eleição. Eu que pergunto: será que não tenho direito a ter um momento de governo que não seja herdar o que herdei, mas herdar quatro anos do que eu fiz? Esse é um pedido que eu faço, é uma pretensão, mas isso é a população que vai decidir. Eu confesso que tenho uma vontade enorme de poder governar o Estado por mais quatro anos.

Olha, eu pego uma crise fiscal, uma das maiores do mundo, demorei três anos e fui o único Estado do Brasil a renegociar, dois anos de pandemia, quer dizer, com tudo isso nós fizemos uma grande diferença, imagina bem eu pegando o governo continuando Ronaldo Caiado? Acho que posso fazer muito mais. Essa é a motivação que tenho em minha vida: fazer algo que o povo goiano se sinta cada vez mais respeitado. Goiás é um Estado hoje que as pessoas vem para buscar experiência do que estamos implantando e isso me dá um orgulho enorme, em ser governador do nosso Estado e ser goiano. 

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