A poetisa Heba Abu Nada é a autora da obra Oxygen is not for the Dead (2017) e graduada em Bioquímica pela Universidade Islâmica de Gaza. Além disso, sua obra ganhou reconhecimento em premiações com relevância para o seu ofício, como o Prêmio Sharjah de Criatividade Árabe.
Nos seus últimos escritos, descreveu a escuridão da noite e o som dos conflitos. A escritora foi vítima de um dos bombardeios ocorridos na última sexta-feira (20), em Khan Yunis, cidade palestina situada no sul da Faixa de Gaza.
Apelo
O mundo todo volta os seus olhos para o conflito que desde a primeira semana de outubro, dizima milhares de vidas e deixa o rastro de destruição em ambos os lados envolvidos no conflito armado.
Depois de algumas semanas, como em quase todo conflito ou catástrofe com centenas ou milhares de mortes, a tendência é olharmos menos para os rostos. No meio de disputas em que tantos perguntam “de quem é a culpa?”, vozes seguem sendo minadas.
Assim, o mundo perde um rosto inocente, uma voz com direitos e, no caso de Heba Abu Nada, lá se vai um par de mãos que ainda tinham muito a escrever.
Em sua conta nas redes sociais, a poetisa palestina deixou registrado:
“A noite na cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis. Silenciosa, exceto pelo som do bombardeio. Aterradora, exceto pela promessa lenitiva da oração. Tenebrosa, exceto pela luz dos mártires”.
Repercussão
O Ministério da Cultura palestino confirmou a morte de Heba, que tinha 32 anos. Em uma página, o pesquisador Abdalhadi Alijla foi um dos primeiros a prestar condolências àquela que classificou como “uma das mais talentosas poetisas e romancistas femininas de Gaza”.
With great sadness we mourn one of the most talented Gaza feminist poet and novelist, Heba Abu Nada. Her novel named, “Oxygen is not for the dead”. She wrote yesterday,”If we die, know that we are content and steadfast, and convey on our behalf that we are people of truth.”……..… pic.twitter.com/lcStUZN28q
— Abdalhadi Alijla عبد الهادي العجلة (@alijla2021) October 20, 2023
Disputas
Ainda em suas últimas horas de vida, Heba Abu Nada publicou: “Se morrermos, saiba que estamos contentes e firmes, e transmita em nosso nome que somos pessoas de verdade”.
Heba não foi a primeira artista a ser silenciada. Mais de 6 mil pessoas morreram no conflito entre Israel e Hamas. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), são mais de 18 mil feridos.
Há dor em Israel e há dor na Faixa de Gaza. As fronteiras se tornam mais duras e mais carregadas pelo medo e insegurança. Representantes das principais nações do mundo se mobilizam, incluindo o Brasil.
Olhamos para os noticiários e, sem demora, basta um rolar de tela para que os números de feridos e mortos se atualizem. Mais um dia se passa. Parece tão longe, mas ainda assim, perto. Diante disso, quando não sabemos o que é possível fazer, podemos olhar para os rostos. Há dor em todos os lados envolvidos e nomes… perdidos entre os sons e clarões.