Indígenas precisam ser incluídos nos debates da educação pelo futuro, afirma Cacique Raoni 

Uma tarde para inspirar. Foi assim o evento “Direitos Humanos, Meio Ambiente e Povos Indígenas” que aconteceu nesta terça, 21, em Palmas (TO) e contou com a presença do Cacique Raoni, líder indígena reconhecido mundialmente que falou sobre a importância da inclusão dos povos indígenas nos debates da educação pelo futuro.  

Ao final da palestra, o convidado falou ao Sagres Online em sua língua materna e por meio da tradução do neto Patxon Metuktire, foi possível compreender a sua impressão do papel da educação na retomada da conexão com a natureza em prol do futuro.  

“É preciso que os indígenas participem e sejam incluídos nesse debate. Precisamos ser convidados para estar nesses espaços e dar a nossa contribuição”, afirmou.  

E de fato, o entendimento de quem participou do momento junto a esse líder histórico concorda que essa sabedoria ancestral faz toda a diferença quando o assunto é meio ambiente.  

O evento foi considerado pelos presentes como um marco histórico para o Tocantins, e contou com a presença de autoridades, lideranças, estudiosos e representantes de diversas etnias.  

Legado e união em prol das futuras gerações 

Crianças e jovens indígenas participaram do evento no Tocantins e ouviram atentamento ao chamado do cacique Raoni – Foto: Izabela Martins

Aos 92 anos, o Cacique Raoni é referência internacional da luta indígena e segue inspirando gerações. E quer inspirar ainda mais. Um dos pontos centrais da sua palestra no Tocantins veio em tom de convocação aos jovens indígenas.  

“Enquanto eu tiver força, estarei lutando. Defendo todos assim, sempre fiz, desde que era jovem e agora estou muito cansado desse meu trabalho. Os novos caciques que estão aqui presentes devem lutar comigo e depois de mim lutar unidos. Por isso devem ter paz entre vocês viver bem e viver de forma harmônica um com o outro”, pontuou.  

E sua voz está ecoando. Na plateia, jovens indígenas do Tocantins, Pará e Mato Grosso ouviam atentamente ao seu chamado. E ali, entre os presentes estavam ainda uma dezena de crianças que em breve terão também a responsabilidade de respeitar e continuar o legado de Raoni. 

E com a presença de crianças e jovens, o líder aproveitou para fazer um apelo sobre a importância da perpetuação da cultura indígena, afirmando que muitos povos estão perdendo a cultura e a língua e que ambas têm que ser praticadas para que sejam passadas às próximas gerações.  

Manter viva essa chama de orgulho das suas origens é uma das missões que ele desempenha desde que começou a sua defesa dos povos indígenas, com 20 e poucos anos.  

Marco Temporal e demarcação de terras indígenas  

Em sua fala, Cacique Raoni demonstrou também uma preocupação especial no que se refere às terras indígenas e ao futuro das aldeias no Brasil. Temas como o Marco Temporal e as demarcações de terras indígenas foram recorrentes na discussão. 

“Os brancos cederam terras muito pequenas para os parentes. Nossos ancestrais sofreram muito. Nossa população está aumentando e eu penso que devemos lutar pela ampliação de nossas terras. Por isso continuo defendendo a terra para os povos indígenas. Nossas gerações e as futuras precisam de garantia de paz”, afirmou.  

Enquanto Cacique Raoni trouxe o tema da demarcação de terras de uma forma mais pacifista, como é conhecido, outras lideranças Kayapó subiram o tom da fala quando se dirigiram às autoridades e ao público presente.  

“Quando os europeus chegaram aqui o índio já existia. Não respeitou, massacrou, principalmente as mulheres. Esses projetos como o Marco Temporal, querem acabar com a gente, com o meio ambiente, com tudo. Defender o nosso território, nossa vida, é defender o meio ambiente”, afirmou o cacique Akiaboro Kayapó, do Pará.  

Ireo Kayapó, liderança indígena que também participou do ato, foi mais duro ainda: afirmou que o Congresso Nacional é o “maior inimigo dos indígenas”. 

Degradação do meio ambiente e crise climática  

Cacique Raoni comentou a importância da presença das lideranças indígenas nas discussões climáticas dentro das escolas e nos espaços de poder

Ao comentar eventos climáticos extremos que o país enfrenta nos últimos anos, como por exemplo, as enchentes no Rio Grande do Sul, Cacique Raoni afirma que o impacto é consequência da ação do homem e da falta de cuidado com a natureza.  

“Nunca concordei que fizessem construção de barragens nesses rios ou qualquer outra ação. Nunca concordei com desmatamento e degradação, vocês estão vendo o que está acontecendo com essas enchentes. Resultado de degradação que o próprio homem branco faz”, afirmou.  

Além da fala inspiradora do Cacique Raoni, o evento contou com a participação e apresentações de representantes dos povos Kaiapó, Tapirapé, Juruna, Xavante, Xerente, Karajá, Javaé, Krahô e Apinajé. Cada um com a sua tradição, ritmo, pinturas e instrumentos, trouxe um pouco da cultura das aldeias para dentro do auditório do Tribunal de Justiça do Tocantins.  

O evento 

O evento foi realizado pela Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), com o apoio do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins (TJTO). A iniciativa faz parte de uma série de ações do judiciário tocantinense buscando reafirmar a importância da luta pela inclusão e preservação dos direitos dos povos indígenas e do meio ambiente, pela justiça ambiental e climática. 

Participaram da mesa de abertura o desembargador Marco Villas Boas, diretor geral da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), o magistrado Welligton Magalhães, diretor adjunto da Esmat e coautor do programa de Inclusão Sociopolítica dos Povos Indígenas, e o procurador federal da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Lusmar Soares Filho.  

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática, ODS 15 – Vida Terrestres, ODS 04 – Educação de Qualidade.