Crianças afastadas da escola, pais em trabalhando em casa. A pandemia provocou uma nova dinâmica de vida nos últimos meses. Enquanto os pequenos curtem o momento, sem entender ao certo a sua gravidade, os pais acumulam funções e descobrem uma nova relação com a família e a profissão. Protagonistas na criação dos filhos, mães como a arquiteta Lia Galera, sabem o quanto esse momento exige de atenção, com todas as obrigações confinadas em casa.

Para nós adultos, foi mais complicado ter que conciliar essa nova rotina de home office. Como é fazer reuniões online, como é trabalhar com uma criança te rondando e pedindo atenção, querendo seus cuidados, enfim. Nós tivemos que criar novas rotinas para adaptar isso”, explica.

Lia, que está grávida de seis meses e, portanto, integra o grupo de risco da pandemia, precisou explicar ao filho Cali, de dois anos, que uma parte da casa agora é o escritório da mamãe, arquiteta da Brasal Incorporações.

Tive que montar um escritório na minha casa, e ele aprendeu que aquele é o local de trabalho da mamãe, que não pode mexer. As primeiras semanas foram mais difíceis, mas nós aprendemos a lidar com isso e tentando tirar proveito dessa situação.

A três meses do nascimento da pequena Mel, a arquiteta, de 31 anos, ainda tem pela frente a incerteza e a angústia da distância dos familiares nesta segunda gestação.

Fico fazendo orações para que esteja pelo menos mais tranquilo porque ter um recém-nascido em uma situação de pandemia é, no mínimo, angustiante. Fora a questão emocional de a gente não poder receber as visitas, que a gente prepara tudo, com todo carinho e amor para que as pessoas venham acontecer e a gente sabe que isso não vai acontecer”, lamenta.

Situação bem parecida vive a analista de recebíveis da Consciente Construtora, Uga Duarte Ribeiro. Aos 38 anos, ela é mãe do Vicente, de três aninhos, e está à espera do Romeu, grávida de 36 semanas. Ela conta que, decidiu mudar do apartamento para uma casa, para passar com mais tranquilidade e espaço o período de isolamento. “Nós tivemos a ideia de alugar uma casa com quintal, mobiliada, para que a gente pudesse passar o período. São alguns meses, com mais espaço para ele, para a gente circular mais também. Ao final de maio, estarei dando a luz, então a gente achou melhor fazer essa escolha”, explica.

Uga Ribeiro conta que tem enfrentado o desafio de explicar a pandemia ao filho, que costuma pedir para passear e ir à casa da avó. “Desde o início desse isolamento, a gente explicou para ele, mesmo que de uma maneira lúdica, o porquê que a gente não poderia mais ele frequentar a escola, papai e mamãe trabalhando em casa, por que não vamos mais passear no parque, que era praticamente todos os dias. A gente teria que passar a conviver mais, se divertir entre nós dentro da nossa casa. Quando ele fala que está com saudade da vovó, a gente explica para ele e relembra que não pode ir na casa da vovó por causa da ‘sujeirinha’, e logo ele se lembra”, relata.

Fortalecimento do vínculo

No entanto, até a pior das crises tem seu lado positivo. A psicóloga Soraya Oliveira explica que durante a quarentena, as mães terão uma comemoração atípica, mais próxima dos filhos e mais presente na educação deles. “Antes da pandemia, as mães delegavam a outras pessoas para que cuidassem dos filhos. Ou eram funcionários, ou os avós, ou seja, uma pessoa que não elas, pois tinham seus serviços fora. Esse isolamento favoreceu muito isso de fortalecer melhor o vínculo entre mãe e filho. Será um Dia das Mães muito diferente de todos os outros anteriores”, avalia.

A Lia, por exemplo, teve de dispensar a babá, pelo menos durante a quarentena, já que passaria a ficar em casa. A psicóloga analisa que o momento é de estar ainda mais próxima dos filhos nesse Dia das Mães. “Passaram a cuidar melhor dos filhos, a cuidar das atividades diárias. Elas realmente voltaram àqueles tempos antigos em que os pais tomavam conta da casa”, explica.

A arquiteta Lia Galera diz que vai contar com a tecnologia das chamadas de vídeo para passar o Dia das Mães com o filho, que tem muita saudade de outra mamãe: a dela. “Ele (Cali) sente muito a falta dos avós, é muito próximo dos avós. A primeira vez, meus pais foram embora e ele achou que iria junto, mas agora ele já entendeu.

Para a analisa Uga Ribeiro, esse Dia das Mães vem para reforçar ainda mais o sentimento de união, mesmo em tempos de distanciamento. “Será um Dia das Mães entre nós. Faremos aqui uma comemoração gostosa porque têm sido muito intensos esses dias. Mas também é muito gratificante porque nós nunca tivemos essa oportunidade. Tem sido uma experiência muito, mas muito realizadora”, conclui.

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A psicóloga Soraya Oliveira (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)