Um estudo conduzido por cientistas norte-americanos revelou os efeitos prejudiciais de jantar muito tarde, destacando os riscos à saúde associados a hábitos alimentares noturnos, especialmente quando feitos pouco antes de dormir. Laís Murta, nutricionista e doutoranda do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, esclarece os perigos das refeições noturnas para o processo metabólico.

A especialista aponta que, principalmente em áreas urbanas, a rotina desempenha um papel crucial nesse problema. Muitas pessoas tendem a pular o café da manhã e adiar as outras refeições, incluindo o jantar, que frequentemente é realizado após as 21h. Murta explica que a falta de alimentação durante o dia afeta a ingestão calórica do jantar, já que o corpo busca compensar as necessidades nutricionais não atendidas anteriormente.

“Protelar o horário das refeições, fazer o jantar mais tarde acaba sendo um momento de maior tranquilidade. Então, o momento em que a pessoa vai conseguir desfrutar dessa refeição de uma forma mais calma, tranquila, mas essa acaba sendo uma refeição mais calórica, que vai trazer com certeza uma série de consequências prejudiciais para a saúde”, esclarece, em entrevista ao Jornal da USP.

Segundo a doutoranda, o corpo humano está naturalmente programado para realizar seus processos biológicos e metabólicos, como a digestão e a regulação hormonal, durante o dia. Quando o jantar é feito em horários tardios, o metabolismo é retardado, diminuindo a eficiência das células pancreáticas na produção de insulina e aumentando o risco de desenvolver diabetes.

Risco de doenças

Murta alerta ainda para o aumento do risco de doenças cardiovasculares e obesidade associado ao adiamento do jantar. Estudos indicam que as refeições matinais, mesmo sendo hipercalóricas, têm efeitos positivos na saúde cardiovascular e na perda de peso, ao passo que as refeições noturnas podem ter o efeito oposto.

“A refeição hipercalórica pela manhã acaba tendo uma melhora em parâmetros cardiovasculares e acaba gerando perda de peso, enquanto a mesma refeição à noite provoca todo um efeito contrário. Isso, com o tempo, pode aumentar o risco de doença cardiovascular, o risco de diabete, entre outras consequências”, afirma.

Conforme Laís Murta, após as refeições, o corpo passa pelo processo de termogênese, no qual queima calorias para produção de calor. Nesse sentido, ela explica que é importante as refeições noturnas serem mais leves, para que o corpo não precise queimar tantas calorias no momento de dormir, o que interfere na qualidade do sono e pode causar acúmulo de gordura.

A especialista conta que o ideal é consumir alimentos até quatro horas antes de dormir, com o intuito de que o corpo consiga realizar o processo digestivo de maneira equilibrada. Ela conta que, já que a maioria das pessoas costuma dormir entre 22h e 23h, o mais correto é realizar a última refeição antes das 19 horas. “Não adianta a gente se importar apenas com a quantidade e com a qualidade. A gente tem que se preocupar também com o horário, isso é fundamental”, finaliza.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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