O Jornadas pela Democracia, um evento interinstitucional promovido por seis Instituições de Ensino Superior (IES) em Goiás, além de duas entidades de classe na área da educação e líderes comprometidos com a democracia, teve início na última terça-feira (3), no auditório da Adufg-Sindicato, em Goiânia.

Com a mesa de abertura intitulada “Luta Ideológica – Educação e Ciência”, os participantes exploraram o papel da educação e da ciência diante de vários desafios, incluindo a guerra cultural, o negacionismo e a desinformação, o desconhecimento sobre a realidade das universidades brasileiras e a necessidade de garantir que os espaços de ensino sejam democráticos e representativos da pluralidade do país.

O público presente era diverso, compreendendo professores e funcionários de todas as IES do estado, estudantes, membros da sociedade civil organizada e líderes políticos. Na abertura, a professora Angelita Pereira de Lima, reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), disse: “Não tenham medo de entrar na política. Ela é a formação mais nobre. Não se trata de uma política conjuntural, de gabinete, mas da política formadora para o desenvolvimento humano”.

A reitora da UFG explicou que as Jornadas pela Democracia são resultado de um esforço conjunto e de uma provocação. “A frase com que abri este evento, sobre a coragem de se entrar na política, foi um chamado recebido, pelas universidades, do Papa Francisco. O Vaticano convidou as instituições de ensino para discutir o nosso papel no combate à desigualdade social e, neste encontro, chamou-nos à política”, disse a reitora. Para Angelita, as Jornadas pela Democracia estão no tom deste chamamento. “A política que tem de ser feita é o enfrentamento à guerra cultural”, disse ela.

Discursos

A mesa-redonda, moderada pela reitora da UFG, incluiu Manuella Mirella, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE); Ildeu de Castro, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Catarina de Almeida, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB); e Edward Madureira Brasil, assessor da presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e ex-reitor da UFG.

Ildeu de Castro, ex-presidente da SBPC e atual presidente de honra da instituição, destacou o papel do ensino e da ciência na luta contra o negacionismo, enfatizando a importância da educação básica como o ponto de partida onde as pessoas adquirem suas primeiras formações.

“Tem-se, no geral, uma informação muito rasa sobre como a ciência funciona. As pessoas têm de sair da educação básica com um conhecimento mais sólido. A universidade tem um compromisso muito grande: o desafio de se investir na formação de professores. Este é um dos pontos centrais para melhorar essa questão da luta ideológica”, ponderou Ildeu.

Edward Brasil, ex-reitor da UFG e atual assessor na Finep, procurou desmistificar alguns mitos sobre a educação superior com base nos estudos do professor Nelson Cardoso Amaral (UFG). Tais mitos, ao desacreditarem as instituições de ensino, contribuem para fortalecer o negacionismo, as fake news e a desinformação.

“O primeiro mito é que o país gasta muito em educação. Outro que deve ser enfrentado é o de que a universidade brasileira é cara”. Segundo os dados apresentados por Edward, para se chegar no investimento dos países da OCDE na educação, o Brasil teria de investir 14% de seu PIB. “Ora, em 2022, investimos pouco mais de 5% na área”, ponderou o ex-reitor.

Além disso, Edward aponta que o custo médio, por ano, de cada aluno na universidade pública é de R$ 14 mil. “Este valor, se dividido por 12, não ultrapassa a média de uma mensalidade de uma instituição particular, estando no mesmo nível das outras instituições, o que desmistifica a questão sobre o fato de a universidade pública ser cara”, ratifica.

Diversidade

Manuella Mirella, presidente da UNE, enfatizou a necessidade de abordar temas estruturais quando se trata de educação. Segundo ela, os estudantes devem contribuir para a construção de um sistema educacional verdadeiramente inclusivo. “Qual é o modelo de universidade que temos hoje? Limitado às quatro paredes? Fazer o curso e ir ao mercado de trabalho?”, provocou.

“Se é certo que nós conseguimos revolucionar a educação brasileira com a questão de cotas e do acesso, hoje precisamos cuidar da política de permanência. Na pandemia, os índices de evasão foram entre a população negra e pobre: a gente precisa colocar o povo brasileiro em contato com este projeto de universidade que queremos. É necessário construir uma universidade, também, de turbante e de cocar”.

Catarina Almeida, pesquisadora doutora em Educação e especialista em militarização nas escolas, destacou a necessidade de tornar a legislação avançada em direitos humanos no Brasil uma realidade prática. Para isso, argumentou que as instituições de ensino desempenham um papel fundamental.

No entanto, Almeida observou que é necessário mudar o rumo da educação no país, destacando um foco excessivo em rankings e na geração de resultados que, em sua opinião, não refletem as necessidades da população.

“Apesar de sua avançada legislação, esse país tem uma população carcerária de 820 mil pessoas, composta majoritariamente por jovens, pessoas do sexo masculino, negras e com baixa escolaridade. O sistema educativo está sendo pensado para enfrentar essa realidade? Os estudantes e professores são cobrados por resultados que não falam sobre suas vidas. A política que estamos desenhando não vai evitar que o 8 de janeiro se repita”, alertou.

Para ela, a escola não pode ser vista como muros e salas e objetos. “Como diz Paulo Freire no poema ‘A escola é’, ela é gente”, finalizou.

Oito instituições parceiras se uniram em uma iniciativa inédita para realizar o evento: a Universidade Federal de Goiás (UFG), o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato), o Instituto Federal Goiano (IF Goiano), o Instituto Federal de Goiás (IFG), a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) e as Universidades Federais de Catalão (UFCat) e Jataí (UFJ).

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade; ODS 10 Redução das Desigualdades; ODS 16 Paz, Justiça e Instituições Fortes

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