(Foto: internet/divulgação)

 

Senti falta do cinema nacional em 2017 e 2018. Muito mais por desleixo da minha parte, é bom ressaltar.

Esse ano, o calendário de lançamentos no grande circuito promete. É bom ficar de olho, por exemplo, em filmes como “Arábia”, dirigido por João Dumas e Affonso Uchoa, vencedor do Festival de Cinema de Brasília de 2017; “Paraíso Perdido”, de Monique Cardenberg, e que traz Erasmo Carlos e Seu Jorge explorando como pano de fundo o tempo das músicas românticas bregas (se bem que, vamos falar sério, música romântica hoje em dia tá um assunto bem complicado também); ou até “Turma da Mônica – Laços”, de Daniel Rezende – o primeiro filme com atores reais interpretando a turminha criada pelo Maurício de Souza, e baseado na extraordinária HQ escrita e desenhada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. Certamente voltaremos a alguns deles aqui no blog futuramente.

Mas para falarmos de cinema brasileiro de qualidade, é impossível não lembrar de Pernambuco. Que sempre marcou presença tímida no cenário nacional, mas que decolou de verdade a partir de 1997, quando o filme “Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, inaugurou um movimento o qual convencionou-se chamar de “Novo Cinema Pernambucano”. Desde então, cineastas como Cláudio Assis, Kleber Mendonça Filho, Daniel Aragão, Gabriel Mascaro, Hilton Lacerda, Marcelo Gomes e Heitor Dhalia (esse último, meio que excluído, por ter se mudado para São Paulo logo no início da carreira) têm elevado as expectativas a patamares altíssimos. O Novo Cinema Pernambucano virou quase uma marca. E o Janela Internacional de Cinema de Recife, festival articulado pelo Kleber Mendonça Filho himself, se firmado como uma das principais vitrines dessa fonte nos últimos 10 anos.

Aproveitando esse tema então, deixo como dica uma lista com oito dos mais importantes filmes do Novo Cinema Pernambucano. A lista não segue ordem específica e, obviamente, não esgota o tema. Mas é para se atirar sem medo de ser feliz:

1. “Amarelo Manga” (2003)

Esse foi o primeiro longa do cineasta Cláudio Assis. Ganhou o prêmio máximo no Festival de Toulouse, na França, e retrata o dia a dia de diversos personagens exóticos ligados, de alguma forma, a um boteco na periferia de Recife. Leona Cavalli, Dira Paes, Matheus Nachtergaele e Chico Diaz são algumas das figuras que destilam na tela um lado cru da realidade recifense.

2. “Um lugar ao sol” (2009)

Esse documentário dirigido por Gabriel Mascaro joga sobre a mesa o estilo de vida de donos de apartamentos cobertura, em prédios de luxo de Recife. Produzido de forma bem simples, o diretor se escora na edição para ressaltar o lado patético e, por vezes, excêntrico desses moradores que vivem “mais próximo do céu”, na palavra de uma delas. De forma criativa, consegue colocar o humor e a crítica no mesmo balaio. Assista, ria e questione – inclusive o próprio diretor.

3. “Boi Neon” (2015)

Também de Gabriel Mascaro, esse longa traz para a tela a vida de Iremar (interpretado pelo cada vez melhor Juliano Cazarré), um vaqueiro do sertão nordestino que sonha em largar o agreste para virar estilista de moda. Interessante notar a participação do Vinícius de Oliveira, agora crescido, que ficou famoso ao dar vida a Josué, de “Central do Brasil” (1998).

4. “Aquarius” (2016)

Filme mais recente de Kleber Mendonça Filho, e que rendeu muita polêmica ao se misturar de forma inevitável ao contexto político do Brasil. À época, a presidente Dilma Rousseff havia sido destituída por um controverso processo de impeachment, o que foi comparado à saga da protagonista Clara, vivida por Sonia Braga. Clara sofre com o assédio de uma construtora que quer tirá-la de seu antigo apartamento, por bem ou por mal, para construir um moderno arranha-céus no lugar. A premiére, em Cannes, foi palco de protestos contra o impeachment por parte da equipe do filme.

5. “A história da eternidade” (2014)

Dirigido por Camilo Cavalcante, o filme coloca como cenário uma pequena vila no sertão nordestino e explora três histórias de amor e desejo. Nesse palco, instintos e emoções humanas lutam contra o tempo e o destino. A cena de Irandhir Santos dançando ao som de Secos & Molhados é uma das mais belas do cinema nacional.

6. “Febre do Rato” (2012)

Irandhir Santos carrega esse filme nas costas. Mais um dirigido por Cláudio Assis, traz a estória de Zizo, um poeta e anarquista com forte engajamento político e que, de repente, entra em colapso ao conhecer Eneida. Febre do Rato é uma expressão popular atribuída ao sujeito que está inquieto, desequilibrado, fora de controle. Precisamente a situação de Zizo.

7. “Árido Movie” (2005)

Um típico road movie dirigido por Lírio Ferreira. Gerou certa polêmica por causa da cena extremamente didática de Selton Mello ensinando a enrolar um baseado. Mas é um filme bem maior do que isso. Divertido, traz o protagonista Jonas em uma instigante jornada rumo às suas raízes, após a morte inesperada do pai.

8. “Tatuagem” (2013)

Irandhir Santos é uma espécie de Ricardo Darín dos filmes pernambucanos. Ele está em todos! E aqui, divide a tela com Jesuíta Barbosa, dando mais um show de atuação. Com a aura dos anos 70, o filme mostra uma profunda relação entre Clécio, artista teatral, e Fininha, militar e cunhado de seu atual peguete. Já dá pra imaginar o tipo de conflito que surge daí, né?

Rodada bônus:

Não deixe de conferir no YouTube os curta-metragens “Recife Frio” e “Vinil Verde”, ambos produzidos por Kleber Mendonça Filho. Os filmes já indicavam que vinha muita coisa boa da cabeça desse cara, diretor também de “Som ao Redor” (2012) e “Crítico” (2008).