A crise econômica atual agravada pela pandemia no Brasil atingiu também os sistemas de ensino. Segundo o Censo Escolar 2021, o número de estudantes matriculados em escolas particulares no Brasil caiu 10%, que representa quase um milhão de estudantes, entre 2019 e 2021.

Para o professor e especialista em Geopolítica Norberto Salomão, a migração de alunos da rede privada para a pública é um sintoma do atual modelo econômico que causou redução na renda das famílias brasileiras, entre outros impactos.

“Isso é um reflexo claro do modelo econômico que nós vivemos hoje no Brasil. Como houve uma oscilação considerável da economia, muita gente perdeu poder aquisitivo. Muitos pais não estão conseguindo manter seus filhos em escolas particulares, não só pelos valores das mensalidades, mas houve aumento também nos custos com transporte, alimentação e material escolar”, explica o professor.

De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, entre 2019 e 2021, o Brasil ganhou 9,6 milhões novos pobres, ou seja, pessoas com renda domiciliar per capita de até R$ 497. O total de brasileiros nessa situação é de 62,9 milhões, cerca de 29,6% da população.

E menos alunos significam menos turmas para professores de escolas particulares, cujo salário no fim do mês depende do número de horas em sala de aula. “Para os profissionais da educação de escolas privadas isso é terrível, há perda de postos de trabalho, escolas que têm de fechar suas portas porque o número de alunos matriculados não é suficiente para pagar todos os salários”, relata o professor.

Pobreza

Com o aumento da pobreza vem também a fome. O número de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a si ou a sua família em algum momento nos últimos 12 meses subiu de 30%, em 2019, para 36%, em 2021. O número representa um novo recorde da série desde que foi iniciada em 2006.

“O empobrecimento das famílias, principalmente, neste caso, o da classe média, impacta diretamente nos diversos tipos de serviço, e no serviço de educação isso é bastante significativo”, ressalta Norberto Salomão.

Para o especialista, os números do censo escolar sugerem uma transferência de estudantes entre as redes particular e pública, resultado da crise econômica, com aumento de mensalidades e do custo de vida em geral, agravada pela pandemia.

“A classe média é bastante atingida por conta da inflação e da taxa de desemprego, o que tem a ver com essa saída de alunos da rede privada para a rede pública. Isso tem a ver com empobrecimento”, diz.

Esses reflexos da economia também implicam no ensino superior. “Há também um crescimento de alunos que não estão buscando a universidade pública em cursos mais elitizados como Medicina. Muitos estão optando em ir para universidades privadas, temendo greves e sucateamento do ensino do setor público”, salientou Norberto.

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