O presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) usou as redes sociais para reagir aos protestos realizados contra o Governo Federal no último sábado (3). O político optou por associar os atos à violência e ainda fez provocações ao Supremo Tribunal Federal e à CPI da Covid.

Em entrevista à Sagres, o Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília e analista chefe da Vector Relações Governamentais, Leonardo Barreto, afirmou que as manifestações ainda precisam de mais eleitores independente para que tenham força suficiente para fazer os parlamentares analisarem um processo de impeachment do presidente.

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Em Goiânia, segundo a organização, cerca de 3 mil pessoas participaram do protesto, que ocorreu pelas ruas do Setor Central, neste sábado (3). Apesar de acompanhar a movimentação, a Polícia Militar não fez contagem dos presentes. Vale ressaltar que a manifestação estava marcada para dia 24 de julho, mas os fatos envolvendo a CPI da Covid-19 no Senado acabaram antecipando o ato para o dia 3 de julho. O ato contou com apoio de partidos como o PSOL, PSB e o PT.

“Hoje, essas manifestações são quase que exclusivas da esquerda, então elas têm mais caráter de movimento eleitoral, do que propriamente o caráter de um movimento de insatisfação geral com o presidente Jair Bolsonaro. Em São Paulo, o PSDB participou das manifestações, o que pode atrair eleitores independentes para o movimento. Mas ainda foi localizado e São Paulo é casa de um dos principais candidatos à sucessão do presidente, que é o governador João Dória”, detalhou o cientista político.

Leonardo Barreto é Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília e analista chefe da Vector Relações Governamentais

Bolsonaro, também, pelas redes sociais, publicou na noite de domingo (4), uma teoria da conspiração em que insinua que agentes políticos possuem vídeos de determinadas autoridades e, com isso, buscam chantagear essas pessoas a fim de obter vantagens e controlar processos, como votações no Congresso ou STF, por exemplo.

Leonardo Barreto explicou que o presidente continua com a mesma linha desde que foi eleito, de combate e discursa, especialmente, “para um público mais radicalizado de pessoas”. “Isso inclusive tem sido fonte de mal-estar na relação do presidente com os demais poderes”.

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Porém, mesmo com esse mal-estar, as chances de abertura de um processo de impeachment são pequenas. “A gente sabe que esse discurso é muito fora do que de fato acontece em Brasília. O presidente experimenta um relacionamento muito próximo da Câmara dos Deputados, uma base parlamentar sólida, que, inclusive, dá tranquilidade para ele passar por esses movimentos sem ter uma perspectiva de impedimento”.

Para o cientista político, a partir de agora, o país acelera até o processo eleitoral, com muitos acontecimentos, como a disputa de narrativas envolvendo a segurança das eleições, a sucessão no STF e se o Ministério Público Federal (MPF) leva adiante as investigações contra Bolsonaro, além da agenda econômica. “A gente tem uma quantidade muito grande de eventos que vai fazer com que os nossos dias se tornem bastante agitados, acompanhando o ritmo desse noticiário político”.

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