Longe do dualismo do bem contra o mal, a disputa direta entre Marconi Perillo (PSDB) e Iris Rezende (PMDB) é uma oportunidade rara de se promover o debate que falta ao Estado. O debate de uma situação estabelecida contra uma proposta de oposição a ela.

Há quase 16 anos Goiás tem uma só posição e nenhuma oposição. Iris e Marconi frente a frente discutindo caminhos para o futuro dos goianos é o estabelecimento de uma política de alto nível.

Porque confrontar ideias, ainda que de forma contundente e dura, é uma boa oportunidade para se encontrar respostas variadas, consensuais ou não. Quando isso não acontece, o risco é a variação do mais sobre o mesmo.

Veja que Marconi Perillo, por exemplo, há tempos governa com os mesmos auxiliares, que mudam de pasta de acordo com o governo. São figura carimbadas, que nem mais têm o que dizer, tanto que pouco dizem mais. Sem falar nos adesistas que chegam a todo momento para confundir.

Não por isso, o fluxo de criatividade da primeira administração (1999-2002) foi diminuindo de intensidade, até resultar no ele fez, ele faz de agora, que é exatamente o discurso de Iris lá atrás.

Quer dizer, o candidato tucano desta eleição se regala na marca que era do peemedebista lá atrás: a do fazedor de obras. Como se Marconi tivesse completado o ciclo se estabelecendo com o Iris de 1998. Isso em termos de marca.

E talvez resida aí o principal problema de Iris. Ele continua o mesmo Iris de 1998, em termos de marca registrada. Ainda se propõe a ser o tocador de obras, aquele que tem o braço forte e o pulso firme, o que fez e vai fazer muito mais. Na prática é isso.

O debate entre os dois tem como um de seus efeitos, portanto, desnudar os dois como espelhos de si mesmos. Quer dizer que Goiás avançou para voltar a ser como antes. E nada contra, porque Iris tem uma história que dignifica o Estado, independente de opção eleitoral. E Marconi tem o que mostrar e ser repeitado.

O embate entre os dois é importante por outra razão. Pode marcar uma mudança no comportamento das forças políticas. E começa pelo comprometimento mútuo de campanha limpa – com críticas, mas sem baixarias e picuinhas.

Por mais que Marconi diga que sempre fez campanha de alto nível, nem sempre fez. Sua estrutura gigante é agressiva contra tudo e todos que se põe no seu caminho. A de Iris também não fica atrás. No geral, ninguém leva desaforo para casa. Uma eterna briga de rua.

Abaixar armas e confrontar opiniões e visões significa deixar que a política seja feita pelos políticos, que a guerra seja no campo devido, e não no chão das rinhas de esquina. Os apoiadores, que apoiem; os aliados, que se apresentem e vençam pela melhor argumento a favor, e não contra.

Se Marconi respeitar Iris e Iris respeitar Marconi, Goiás será respeitado. Porque estarão olho no olho 16 anos versus 16 anos de uma democracia que teve o que quis, o que escolheu e votou. E daí que sairá, inevitavelmente, o futuro, porque este é o segundo turno em jogo.

Há muito os ânimos estão exaltados em Goiás. Há muito não se tem um debate justo e honesto sobre conceitos e sobre o nosso destino. Sair do eixo, vez ou outra, vá lá. Mas fazer do bate-boca e dos ataques mesquinhos uma regra, é apequenar biografias.

Marconi x Iris, Iris x Marconi – ninguém precisa ter medo dessa realidade, porque é a realidade que escolhemos por maioria de votos. Mas que eles também não tenham medo de se expor com sinceridade, com veracidade, sem o subterfúgio das falsas medidas.

Iris é velho? Marconi também ficou velho. Marconi é incompetente? Mas foi por três vezes o escolhido pelo povo. Marconi é o novo? Iris também tem mostrado que se renova, como o fez na Prefeitura de Goiânia. Ambos têm defeitos. Ambos têm virtudes.

Iris é maior que Marconi? Marconi é maior? Até esse debate é positivo, porque levanta questões que valem a pena – como o papel histórico de cada um. Há muito a ser contado sobre ambos, de tempos que se bifurcam e de muito antes – no que se refere a Iris. História – e não estórias. Só não é quando vira motivo de agressões em redes sociais.

Só perde o sentido quando prevalece o menosprezo à inteligência dos cidadãos, como se um fosse digno de santidade, e o outro não. Só não tem tem sentido quando é pura mágoa ou ressentimento – e até bala perdida de estratégias terroristas.

Marconi tem que responder pelo caso Cachoeira? Inegavelmente, já que é fato. Iris precisa falar mais sobre a contratação da Delta na prefeitura? Com certeza, porque a questão está feita. Em nenhum momento, no entanto, esse debate precisa parecer ofensivo a quem quer que seja. É o debate necessário.

Que o debate não se encerre aí é uma necessidade premente. Porque é preciso falar de obras, de projetos, de propostas, de necessidades para a população. É preciso discutir todos os pontos de interesse de todos. Sem exceção. E sem condescendência. É do nosso futuro que estamos falando.

Por último, quando falamos em debate entre Marconi e Iris, que fique explícito que dele participamos também todos nós, goianos. Desse debate, deve participar a imprensa, as universidades, as empresas, as minorias, e todos que se sentirem comprometidos com Goiás.

Um debate de perguntas e respostas que suba o tom, mas jamais ultrapasse a barreira do respeito. Um debate em que Marconi e Iris e preocupem com as respostas, com os seus posicionamentos, jamais com as perguntas ou argumentos contrários.

Marconi e Iris não são maiores que Goiás. Os goianos é que elegem ou derrotam, no fim das contas. A eleição é, portanto, uma disputa da gente com a gente mesmo: do que somos, queremos e negamos. A vitória é geral e irrestrita. A derrota, também.