Distante dos olhos da maioria da população, o lixo enfrenta ainda outro entrave: está longe de ser tratado corretamente. Em entrevista à Sagres TV, o diretor de operações da empresa mineira Direção Máquinas e Equipamentos (Demaq), Yuri Santos, conta que a pandemia fortaleceu um mau hábito do brasileiro em relação ao tratamento que deveria ser dado aos resíduos. “Perto de casa, fazendo uma caminhada, a gente já consegue ver luvas, máscaras jogadas no chão”, relata.

Segundo Yuri Santos, o cenário parece o de muitos lixões pelo país, que contém inclusive lixo hospitalar, descartado de forma irregular. “Se você for, vai achar luva, máscara, seringa, peças anatômicas de seres humanos. Tudo isso se acha nos lixões brasileiros a céu aberto. Tem locais que quando chove, os resíduos dos lixões vêm para estradas, são dispersos em cursos de água. Esse tipo de problema é complexo e sério, só que não é visto pela população”, analisa.

À direita, Yuri Santos em entrevista ao programa Tom Maior, da Sagres TV (Foto: Sagres TV)

Morosidade

O tratamento e descarte do lixo já foi tema no Tom Maior da Sagres TV, na semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, com a mestre em Ecologia, Nathália Machado.

Em agosto passado, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que estabelece a erradicação dos chamados lixões a céu aberto, completa dez anos e está longe de sair do papel. A lei determina o fechamento de todos os lixões e a destinação de rejeitos – aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado -, quase nada se avançou quando ao assunto é a erradicação dos lixões em todo o país – apesar de 60% das cidades brasileiras ainda manter os chamados lições a céu aberto –  3353 municípios -, causando graves danos ambientais e à saúde da população.

Segundo Yuri Santos, alguns fatores e comportamentos da população e do poder público precisam sofrer mudanças para que a lei possa vigorar corretamente, assim que sair do papel.

“A educação, a prioridade política e a parte de financiamento, porque tem que achar um terreno, adequar, fazer o orçamento ambiental e depois custear a operação correta. Esbarra na questão financeira. Quem vai financiar esse projeto para um Brasil desse tamanho?”, questiona Yuri Santos.

Em Goiânia, por exemplo, o Ecoponto da Prefeitura de Goiânia no Setor Jardim Guanabara recebe mais de mil toneladas de resíduos recicláveis. No entanto, a poucos quilômetros dali, a equipe da SagresTV flagrou no final de 2018, mesmo ano de inauguração do Ecoponto, no Setor Jardim Recreio do Ipê, na Rua Doná Todica, pessoas descartando de tudo, desde alimentos até restos de móveis, peças e pneus, tudo a céu aberto.

“A população brasileira ainda não está em um nível de educação para coleta seletiva. Se você olhar as tentativas de implantação, elas não em bairros e cidades pequenas. O Brasil não é atendido nem pela coleta seletiva e nem pelos aterros sanitários. A maior parte, principalmente pequenos municípios, são lixões mesmo, a céu aberto”, conclui Yuri Santos.

Tecnologia

Yuri Santos considera uma tecnologia japonesa como sendo a melhor aposta para o tratamento de resíduos sólidos urbanos, industriais, de agronegócio e hospitalar, a qual reduz em até 95% o volume dos resíduos e está totalmente dentro das normas ambientais.

Chamada de “DTRO5”, trata-se de um equipamento de grande porte (5 toneladas) para decomposição de resíduos por meio de plasma frio, que pode integrar uma Usina de Tratamento de Resíduos Urbanos. Funciona com a presença de oxigênio ionizado e decompõe a temperaturas inferiores a incineradores convencionais, gerando o mínimo de poluentes e dispensando totalmente a utilização de aterros sanitários, já proibidos desde 2010.

Com capacidade para tratar 210 kg de lixo por hora, somente uma atende às necessidades de um município de até 20 mil habitantes, por exemplo. Vale destacar a triagem de todo o resíduo feita antes de dar entrada no maquinário, o que torna indispensável a colaboração de Associações de Catadores de Papel.

A Demaq importou a tecnologia em Minas Gerais, uma solução amplamente utilizada no Japão, país 22,5 vezes menor que o Brasil e que precisou desenvolver tecnologias avançadas de reciclagem e tratamento de resíduos.

Entre os diferenciais técnicos da máquina está a não utilização de combustíveis ou fontes de energia externa para o processo de tratamento. Ou seja: o lixo é o próprio combustível e 100% da matéria resultante é aproveitável e pode ser usado como adubos, insumos para cimenteiras, fabricação de bloquetes, entre outros. Vidros e metais são reaproveitados e vendidos como material reciclado. A utilização da máquina possibilita ainda o tratamento do Passivo Ambiental de Resíduo Urbano, localizado em aterros irregulares ou desativados.

Assista à entrevista com Yuri Santos a seguir, a partir de 2:27:00