Diagnosticado nos últimos dias com insuficiência cardíaca, Fausto Silva, o Faustão, 73 anos, terá de fazer um transplante de coração e está na fila esperando por um doador. A doença que atinge o apresentador de televisão aguçou a curiosidade de milhares de pessoas pelo Brasil: o que é insuficiência cardíaca? Como funciona a doação de coração para um transplante?

Cientificamente, a insuficiência cardíaca é considerada uma síndrome grave, que ocorre quando o coração não consegue bombear sangue em quantidade suficiente para atender às necessidades do corpo. Dessa forma, causa o acúmulo de líquido nas pernas, pulmões e em outros tecidos do corpo. Quando não diagnosticada e tratada, tem alta taxa de mortalidade, superior aos óbitos por câncer.

Cardiologista Jorge Nabuth em congresso sobre insuficiência cardíaca

“São muitas causas que podem causar a insuficiência cardíaca. Temos a amiloidose cardíaca, as cardiopatias isquêmicas – quando há obstrução das artérias – por diabetes e colesterol, quando o coração vai perdendo sua força. Tem a hipertensão, que vai forçando o músculo do coração. Primeiro ele hipertrofia, depois ele enfraquece e não consegue bombear o sangue na quantidade necessária. Então, muitas doenças têm influência para a insuficiência cardíaca. Outra causa é uma miocardiopatia hipertrófica em que o coração vai engrossando por dentro e forçando até levar à insuficiência “, detalhou o cardiologista Jorge Nabuth, do Instituto de Medicina de Goiás e do hospital Lúcio Rebelo, que também respondeu outras perguntas sobre o tema.

Quais pessoas estão mais expostas à insuficiência cardíaca?

Jorge Nabuth: “Hipertensos, diabéticos, alcoólatras, usuários de drogas. A obesidade também é uma grande responsável pelo enfraquecimento do coração, porque muitas vezes ela leva para a hipertensão, diabetes, aumento da resistência à insulina e gera a insuficiência cardíaca. Estive recentemente em um congresso sobre o tema e uma das explicações que tivemos, foi que a redução de peso através de um medicamento chamado Semaglutida, diminuiu o percentual de insuficiência cardíaca na população em geral. Lembrando que as atividades físicas também ajudam no combate à doença”.

Existe uma idade em que a pessoa corre mais riscos?

Jorge Nabuth: “Dependendo da etiologia dela, pode atingir qualquer idade. Tem crianças que já nascem com bloqueio de coração, tem gestantes que têm a miocardia de parto, tem vírus que atacam o miocárdio em pessoas mais novas, mas, normalmente, o obeso, o diabético, o hipertenso, o sedentário, correm mais riscos se não controlarem os fatores de riscos”.

A insuficiência cardíaca tem sintomas?

Jorge Nabuth: “O primeiro sintoma é a falta de ar. Quando caminhar ou subir uma ladeira, já começa a cansar. O segundo sintoma, é quando a pessoa está deitada, tem a falta de ar durante a noite e precisa levantar o travesseiro, sentar na cama para aliviar. Aparece inchaço nas pernas, o fígado também aumenta de tamanho, além do fato da veia do pescoço ficar inchada, a jugular, quando a pessoa está deitada”.

A insuficiência cardíaca pode ser combatida com tratamento ou só o transplante resolve?

Jorge Nabuth: “O transplante é indicado só quando falha o tratamento clínico. Hoje existem quatro medicamentos, intitulados de “quarteto fantástico”, que melhoraram o prognóstico e a evolução da insuficiência cardíaca. Diminuíram as internações e melhoraram o quadro clínico do paciente. Utilizando esse quatro medicamentos, você consegue um prognóstico muito bom”.

O sucesso desses quatro medicamentos associados, leva a pessoa para uma vida normal novamente?

Jorge Nabuth: “Normalmente em um quadro de insuficiência cardíaca mais grave, você utiliza os quatro pilares do tratamento, que vai se adequando com o tempo. Você utiliza por um tempo prolongado essas quatro drogas e depois é feita a opção, quando o tratamento está bem estabilizado, por umas duas drogas e mantém com o paciente por tempo indeterminado”.

O fato do Faustão ter feito cirurgia bariátrica contribuiu para o quadro de insuficiência cardíaca?

Jorge Nabuth: “Normalmente o bariátrico foi um sujeito muito obeso no passado. Ele tinha resistência à insulina, uma memória metabólica muito ruim, mas se com a bariátrica conseguiu controlar a diabetes, hipertensão, aterosclerose, mesmo assim as lesões ficaram nos órgãos lá atrás e isso pode ter se agravado com o passar dos anos. Além de que o bariátrico normalmente sofre com uma má nutrição, por isso deve fazer reposição de vitaminas e minerais constantemente. O bariátrico pode desenvolver uma cardiopatia por falta de vitaminas”.

Doação

Segundo o Ministério da Saúde, mais de 65 mil pessoas estão na fila de transplante de órgãos no Brasil. Destas, 386 estão à espera de um coração, de acordo com a última atualização no site do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) feita na quarta-feira (16).

A cirurgia de transplante de coração depende de um time multiprofissional, de duas equipes cirúrgicas, com: dois cirurgiões cada uma, dois anestesiologistas, um enfermeiro perfusionista e dois instrumentadores, além dos enfermeiros do centro cirúrgico. O procedimento pode levar de 8 a 12 horas e como toda intervenção cirúrgica, o transplante também oferece risco de infecções. Durante os primeiros cinco anos, é necessário realizar acompanhamento para observar os riscos rejeição do órgão.

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