Dados do Centro de Medicina Baseada em Evidências, criado e coordenado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, sugerem que condições de frio e tempo seco, típicas do inverno, podem facilitar a disseminação do novo coronavírus (Covid-19). Em entrevista ao programa Tom Maior da Sagres TV, o médico intensivista e diretor-técnico do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Eros Sousa, relatou os riscos que as baixas temperaturas podem trazer em um momento de circulação de um novo vírus respiratório.

“No Brasil, o inverno é de junho a setembro, mas a gente tem um pico de infecção respiratória, por vírus, que vai de março a julho. O momento mais crítico de síndrome respiratória viral já esta acabando. Mas como o inverno está começando, a gente tem um padrão de clima mais seco e mais frio, e a gente vê que isso acompanha várias doenças respiratórias ou pioras de doenças, como alergia, problemas pulmonares em pessoas mais suscetíveis, como as crianças e idosos”, afirma Eros Sousa, que mostra preocupação com o frio nesse momento de pandemia.

Evidências emergentes indicam que as condições climáticas podem influenciar a transmissão da Covid-19, com condições frias e secas sendo favoráveis ao aumento da disseminação.

“No inverno, o sistema respiratório tem uma secreção que fica no pulmão, e essa secreção vale como uma espécie de filtro, agindo na imunidade respiratória. Então, ela tem uma fluidez que quando o vírus, bactéria ou uma partícula de poluição cai na secreção, acontece um processo interno na via aérea respiratória, que forma uma deglutição, indo para a boca e fazendo você deglutir o vírus”, ressalta.

Esse fenômeno acontece, segundo estudos preliminares, por duas razões: a estabilidade do vírus e o efeito do clima no hospedeiro. Uma dessas análises correlacionou casos com temperatura média e explorou o efeito da temperatura na transmissão em 429 cidades, principalmente chinesas. Os cientistas descobriram que, para cada aumento de 1℃ na temperatura mínima, houve uma redução no número acumulado de casos em 0,86%.

Apesar de recentes, os estudos apontam que o vírus possui uma preferência por condições frescas e secas, tornando-se mais estável, e consequentemente mais “forte”, em temperaturas mais amenas.

“No inverno, essas secreções ficam mais espessas, menos eficientes. Então, além do ambiente está seco, frio, também tem a poluição, fazem com que essa imunidade, contra bactérias e vírus, reduza. Então, a gente tem o aumento das infecções respiratórias”, completa o diretor-técnico do HUGO, Eros Sousa.

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