As enchentes nas grandes cidades têm sido um problema real em muitas capitais do país. Em Goiânia não é diferente. As últimas chuvas, por exemplo, deixaram parte da Avenida Marginal Botafogo completamente alagada.

Uma das causas do problema é a impermeabilização. A arquiteta e urbanista e vice-presidente do Conselho de Arquitetura de Goiás (CAU-GO), Maria Ester de Souza, concedeu entrevista exclusiva à Rádio 730 no quadro Meio Ambiente desta terça-feira (26).

Ela afirma que, em uma cidade, é inevitável a existência e aplicação de muitas porções de cimento e concreto, até por questões de mobilidade urbana, mas ressalta que é preciso encontrar um meio termo.

“É preciso achar uma medida do meio. Uma parte deixo cimentada e uma parte não. Essa parte não cimentada, não é porque não cimentei, que não será permeável. Existem tipos de chão muito batido, compactado, que a água também não infiltra. Existem tipos de vegetação que se pode forrar o chão que a água vai passar direto, como em um plástico. É o caso do pasto, na zona rural, que é um dos maiores problemas de impermeabilização do solo. Chove muito, aumenta a quantidade de água nos rios e estes vão passar pela cidade. Pronto, a gente acabou de criar um problema”, explica.

Um levantamento feito pelo Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), da Universidade Federal de Goiás (UFG), mostra que só no período entre 1986 e 2010, Goiânia perdeu 116 km² de área verde, o que representa mais da metade de sua cobertura vegetal. Ao mesmo tempo, cerca de 300 novos bairros foram criados na capital.

Apesar dos números alarmantes, Goiânia foi considerada em 2012 pelo Instituto Brasileiro e Geografia e estatística (IBGE), no censo realizado em 2010, como a cidade mais arborizada do país, em comparação com outras com mais de 1 milhão de habitantes.

A conta parece definitivamente não fechar, inclusive nacionalmente. De acordo com a especialista, o modelo de arquitetura existente no Brasil não é adequado para o tipo de terreno de um país tropical.

“Estamos no Cerrado. A dinâmica é muito diferente. Traz-se um modelo de engenharia europeia, produzido em um lugar com outro clima, e aplica-se aqui achando que é a solução. Já tem uns 40 anos que estamos assistindo o Brasil desmoronar em alguns lugares, ou seja, isso não está dando certo. Alguma tecnologia deve nos ensinar a nos relacionarmos com os nossos rios e a nossa cidade. A faixa ou a distância que precisamos estar desses rios também precisa ser repensado. Do jeito que está, em toda temporada de chuvas, estamos tendo provas de que a gente pensou errado”, reforça.

Ainda de acordo com Maria Ester de Souza, população e poder público precisam andar juntos. Segundo a vice-presidente do CAU-GO, a água que cai sobre as moradias deveria, em parte, permanecer no lote sem escoar para a rua.

“Precisa mesmo cimentar 100% do quintal? Cimentar uma parte do quintal pode ser importante para proteger alicerce da casa, parede, colocar um equipamento, fazer uma churrasqueira, aí sim. Mas se casa pessoa conseguisse avaliar, cada vez que chove, a quantidade de água que cai sobre o seu telhado, e ela aprendesse que quanto mais água ficar naquele lote, melhor, melhor também seria para a cidade que poderia ir se reconstituindo. Se toda a água que cair no lote, o morador entregar para a rua recolher, o volume é muito grande, e não há estrutura que sobreviva à medida que vai se espalhando. É muito difícil para a prefeitura fazer a organização dessa água toda”, analisa.

Quer saber mais? Ouça a entrevista na íntegra

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