Entorno do DF – A crise do Governo do Distrito Federal (GDF) parece não ter abalado muitos políticos Do Jornal Tribuna do Planalton
A crise do Governo do Distrito Federal (GDF) parece não ter abalado muitos políticos. O governador José Roberto Arruda (sem partido) se desfiliou do Democratas e essa deve ser sua única punição. O governador, que pediu desculpas pelos erros, assim como fez em 2001 na violação do painel eletrônico do Senado, conseguiu maioria dos aliados na composição da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) – quatro cadeiras de um total de cinco – e ao que tudo indica seu impeachment não deve ocorrer. O partido pediu sua expulsão, mas ainda teme as acusações que vêm surgindo contra o vice-governador, Paulo Octávio (DEM), pois podem inviabilizar a candidatura democrata ao governo do Distrito Federal.
Em Goiás, esperava-se que o maior prejudicado com o escândalo do “mensalão de Brasília”, fosse o senador Marconi Perillo (PSDB), que sempre teve uma proximidade muito grande com Arruda. No entanto, a oposição não aproveitou o calor do momento para capitalizar o desgaste e colar a imagem de Marconi à de Arruda. O PMDB estava preocupado com a saúde do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, que na época passava por uma cirurgia para retirada de vesícula. Já o exército tucano criou um discurso uníssono de que é Marconi Perillo quem tem força na região do Entorno de Brasília e de que as parcerias entre ele e o governador Arruda eram puramente administrativas.
O prefeito de Luziânia, Célio Silveira (PSDB), não foge à regra, e discursa que “os eleitores do Entorno sabem que quem fez pela região foi Marconi”. Sobre os possíveis problemas políticos que isso poderia causar a Marconi Perillo, o prefeito defende que “o senador não tem nada a ver com isso”. “Ele buscava convênios com Brasília na legalidade para ajudar os municípios”, diz. Além de comandar uma das maiores cidades do Estado, Célio colocou por muito tempo seu nome como possibilidade para a vice de Marconi, formando uma chapa “puro-sangue”. Uma estratégia que deu certo em Brasília, mas que tem dificuldades para se repetir em Goiás, já que o partido pretende compôr com outras forças e a vaga de vice é um chamariz para a troca de apoios.
Silveira conta que o envio de recursos por parte do GDF ainda está suspenso, mas acredita que depois das festas de fim de ano a transferência das verbas deve se normalizar. Em entrevista à Tribuna (edição de 1° de novembro) o prefeito afirmou que desde o primeiro mandato, Arruda vinha ajudando os municípios vizinhos e que somente Luziânia recebeu R$ 10 milhões e esperava um repasse de R$ 300 mil mensais. Questionado sobre a estranheza dessa parceria junto aos seus eleitores, devido ao fato de Arruda estar envolvido num esquema de corrupção, ele afirmou que “as cidades (do Entorno) são cidades pobres, difíceis de serem administradas. Ninguém sabia o que estava acontecendo. A população sabe da nossa credibilidade”.
O senador Demóstenes Torres (DEM) foi um dos primeiros a se pronunciar a favor da expulsão de Arruda do partido e se diz aliviado por ter se “livrado dele”. Demóstenes acredita que quem saiu perdendo foram os prefeitos do Entorno, uma vez que dependem de recursos do GDF. Quanto às denúncias contra o vice Paulo Octávio, o senador afirma que ele deve sofrer um processo também, mas que o caso de Arruda é mais grave, porque ele foi pego em flagrante.
Demóstenes, que almeja se reeleger ao Senado Federal, mas que ainda não possui definido o candidato majoritário que seu partido deve apoiar e que tanto pode ser Marconi Perillo ou o nome da Nova Frente, também segue o script tucano sobre a força do colega na região do Entorno. “Marconi tem luz própria e uma grande quantidade de prefeitos que o apoiam”, garante. No entanto, o senador não descarta que o ocorrido possa ter reflexos negativos para o PSDB no decorrer da disputa eleitoral.
Contraponto
Do lado peemedebista o discurso é outro bem diferente. O secretário-geral do PMDB estadual, Kid Neto, afirma que quem tem maioria do eleitorado na região do Entorno é o ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PSC). “Roriz é quem tem voto e influência para essa transferência e vai estar colado ao nosso candidato”. Ele conta, ainda, que já visitou todos os municípios do Entorno junto com o presidente do PMDB, Adib Elias, e que essa estratégia vai se intensificar neste ano, tendo como enfoque as eleições de outubro.
Questionado sobre a possibilidade do PMDB usar o escândalo de corrupção contra o candidato do PSDB, Neto é categórico: “Não vamos tentar colar a imagem de Marconi com Arruda porque já está colada, com a distribuição de cheques-moradia e outras parcerias”. Mesmo tentando se dissociar politicamente do governador do DF, o PSDB deverá enfrentar os ataques da oposição nas propagandas eleitorais. Os adversários, que não capitalizaram o desgaste no momento em que ocorreu, podem se armar para fazê-lo na disputa pelos votos, pois mostrar as fraquezas do inimigo é mote de campanha para qualquer candidato.