(Foto: divulgação)

 

James Bond já estava em seu décimo sétimo filme (007 contra Goldeneye) quando surgiu no horizonte cinematográfico o primeiro Missão Impossível. Depois de um hiato de 6 anos, Bond tentava um retorno ao ápice da máquina de fazer dinheiro que era o universo de Ian Fleming, enquanto o mundo criado por Bruce Geller para a TV na década de 60 ensaiava seus primeiros passos pela batuta de Brian De Palma.

Era inimaginável fazer um paralelo entre as duas franquias lá nos anos 90. Mas hoje, é quase inegável que o agente Ethan Hunt (interpretado por Tom Cruise) e sua trupe se transformaram na versão americana de James Bond: ousado, conhecido entre seus inimigos, carregando seus affairs à tiracolo, cheio de traquitanas e deixando um rastro de destruição por onde passa.

A trama do sexto Missão comprova o mergulho cada vez maior no mundo dos agentes secretos (o nome do filme, inclusive, poucos sabem, se deve à agência secreta em que Hunt trabalha. IMF – Impossible Mission Force. Meio infantil, vá lá). Depois que uma missão de recuperação de artefatos nucleares não sai conforme esperado, Hunt e sua equipe precisam correr contra o tempo para: 1. Recuperar as bombas; 2. Evitar que a organização secreta dos ‘Apóstolos’ detone as ogivas, matando milhares de inocentes; 3. Não ser pego pela polícia local; 4. Não deixar que seus amigos morram; 5. Não morrer no meio do caminho. Realmente, parece impossível. Detalhe: como falhou na primeira missão do filme, a CIA determinou que um de seus agentes “escolte” o agente Hunt, dando o reforço necessário e evitando novos fracassos. Esse agente é vivido por Henry Cavill e seu polêmico bigode. Já explico.

O filme não para um minuto. Em meio a perseguições de carro, moto e até helicóptero, tiros e luta corporal, o espectador precisa deixar o cérebro atento para decorar o nome e as ligações de todos os personagens. Porque, como é característico da franquia, o que não faltam são reviravoltas.

A atuação da turma é de alto nível. Até a aparição de Alec Baldwin (que parece não ter saído do seriado “30 Rock” até hoje) agrada. Também temos o retorno de Michelle Monaghan como Julia Meade-Hunt (esposa de Ethan em “Missão Impossível – Protocolo Fantasma”) e de Rebecca Ferguson como a excelente (e linda!) agente Ilsa Faust (de “Missão Impossível – Nação Secreta”). Simon Pegg e Ving Rhames também reprisam seus papéis de Benji e Luther, respectivamente.

superman bigode

E tem o Henry Cavill, com a estória do bigode que eu disse. É que o Cavill faz o atual Superman da DC, e com todo o rolo que aconteceu já na pós-produção de “Liga da Justiça” (2017), troca de direção, acertos no roteiro, o novo diretor Joss Whedon decidiu que muita coisa precisava ser refilmada. Só que Cavill já estava envolvido com o novo Missão Impossível, e seu personagem de cá usa bigode (repare no pôster).

Como nenhuma das duas produtoras (Warner e Paramount) abriram mão de seus cronogramas ou do bigode de Cavill, e Clark Kent ainda não virou membro do Village People, resolveram retirar o bigode do Super de modo digital, por efeitos especiais. Rapar estava proibido. E digamos que o trabalho não tenha sido muito bem feito. O capítulo seguinte foi uma enxurrada de ‘memes’ na internet retratando Clark como cantor do Queen. Enfim, marketing fácil. Mas a atuação de Cavill, fora isso, está excelente.

Agora, o grande astro é mesmo Tom Cruise. Sua parceria com J.J. Abrams (que dirigiu Missão Impossível 3 e assina a produção de todos os filmes posteriores) e com Christopher McQuarrie (diretor e roteirista desse e do capítulo passado) alavancou a franquia às alturas, podendo ser comparada à de 007 nas telonas.

Tom Cruise é Ethan Hunt. Faz questão de ser. Dispensou o dublê e fez todas as cenas de ação, pessoalmente. Quando você se sentar na poltrona com a pipoca e as luzes se apagarem, não se esqueça disso: é ele pulando de paraquedas. Dirigindo a moto na contra-mão. Pendurado no helicóptero. Saltando de prédio em prédio.

E isso não é só questão de marketing. Obviamente que um bom ator sabe convencer a plateia com ou sem dublê. Mas alguém duvida que um ator sob influência de adrenalina tem um potencial infinitamente maior? (teve uma cena em que Tom Cruise foi pular de um prédio para outro e o pé bateu errado na parede. Resultado, quebrou o tornozelo. Essa cena entrou para o filme! Então quando o vir escalando um muro de um prédio e mancando, lembre-se: a dor ali era real).

A gente vive numa época em que filmes de ação quase sempre são sinônimo de filmes de super-herói. Ou então são lotados de efeitos especiais milionários. Quem foi assistir ao último filme com Dwayne Johnson, o “Arranha-céu: coragem sem limites” sabe do que eu tô falando. Aquilo ali não existe. E cinema é feito pra fazer a gente acreditar na magia.

Quando o ator principal está em todas as cenas de ação, o diretor pode – e, antes, tem o maior prazer – de jogar a câmera na cara do cara. Perseguição, tiroteio, salto, corrida, suor, adrenalina, tá tudo ali registrado pela câmera na cara do Tom Cruise. Com dublê, você não pode fazer isso. Ou joga na conta da computação gráfica.

Com tudo isso junto então – elenco fantástico, roteiro bem construído, vilões fortes, coadjuvantes profundos e um baita de um ator fazendo todas as cenas de ação – o diretor McQuarrie pode tranquilamente optar por um estilo de filme mais clássico. Ação “raiz”, digamos assim. Um filme que honra o gênero, diversão garantida. Muito provavelmente o filme de ação do ano. E num ano em que já tivemos “Deadpool 2″ e ‘Vingadores: Guerra Infinita”, isso já é uma grande conquista.

“Missão Impossível – Efeito Fallout” já arrecadou mais do que todos os filmes anteriores da franquia, e é sucesso absoluto de bilheteria. Ethan Hunt ainda tem fôlego de sobra para novas aventuras. Será que Tom Cruise tem?