A especialista em finanças Mônica Costa recebeu o Prêmio Educação Financeira Transforma do Instituto XP em 2021 pelo método desenvolvido para auxiliar mulheres negras. Costa aplica o método desde 2020 e já conseguiu transformar a vida de 3 mil mulheres no Brasil e em outros países.

“A metodologia que eu desenvolvi trabalha com a ancestralidade porque quando nós somos invisibilizados e não conhecemos a nossa história, e essa é uma realidade da população negra no Brasil, a gente tende a se achar menor, menos importante”, destacou.

Para a especialista, a população negra brasileira não tem acesso a referências de prosperidade. Ela também não tinha. Mas atualmente é uma das mais importantes do meio e auxilia, principalmente, mulheres negras. 

“Esse processo começa com a minha própria história, como uma mulher negra de nível superior num país que ainda mantém uma população com a mulher negra na base da pirâmide socioeconômica”, disse.

Educação financeira

Mônica Costa observa um “obstáculo financeiro” que impede a prosperidade das mulheres negras no país. “As mulheres negras no Brasil recebem em média até 40% menos que o homem branco fazendo a mesma função”, explicou. Segundo a especialista, a projeção dos dados indicam a reversão do quadro atual somente daqui há 100 anos, fato que a fez buscar uma mudança na própria vida.

“Eu entendi que estratégias e inteligência financeira são caminhos para que a gente corte um pouco desse caminho. Aprender a lidar de forma mais assertiva com o dinheiro se torna bastante importante para que a gente consiga diminuir um pouco essas diferenças e para que o dinheiro seja realmente um aliado na nossa história”, contou.

Mônica é jornalista com especialização em jornalismo econômico. Nesse sentido, ela criou a G&P Finanças, que contém um programa online onde ela ensina a metodologia de controle e investimento voltada para mulheres negras. O método consiste em três aspectos: ancestralidade, coletividade e prosperidade.

Ancestralidade

Primeiro pilar do método de Mônica, a ancestralidade é uma forma de reconhecer a força de quem veio antes. Ela conceitua o pilar como o aprendizado e o respeito aos conhecimentos ancestrais para fazer o melhor hoje. Para Costa, é algo ligado à autoestima, que impacta diretamente na forma como a mulher negra se relaciona com o dinheiro.

“Se eu tenho uma história tão potente, tão poderosa, significa que eu também sou bastante potente. E a nossa relação com o dinheiro se dá através do comportamento. Se eu acho que sou merecedora de mais dinheiro e de todas as benesses que o dinheiro pode me proporcionar, eu vou olhar para ele de forma diferente. Eu vou aplicar esse dinheiro, cuidar dele para que ele possa me trazer bons resultados”, destacou.

Os outros dois pilares, coletividade e prosperidade, abordam diretamente a identidade da G&P Finanças. Os pilares dizem sobre compartilhar conhecimento, fortalecer a solidariedade e buscar saúde, paz e abundância. O objetivo da startup de Mônica é melhorar a relação das mulheres negras com as finanças para que alcancem uma vida próspera.

Autocuidado das mulheres negras

Mônica Costa acredita que quando uma mulher preta prospera “o mundo se torna mais justo”. O ideal da startup da educadora financeira está ligado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 1 – Erradicação da Pobreza. A meta faz parte da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas para um mundo melhor.

As mulheres negras representam 30% da população brasileira. Além disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destaca que 63% das casas que são chefiadas por elas estão abaixo da linha de pobreza. São cerca de 8 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Eu entendo a educação financeira como uma forma de autocuidado efetivamente”, disse Costa.

“A gente foi educada a entender que em alguns lugares nós não cabemos justamente porque quando a gente acessa esses lugares ganhamos independência e autonomia. E existem alguns aspectos, alguns lugares da sociedade que não querem que sejamos autônomas, porque a relação de dependência garante que eles continuem nos pagando salários muito baixos, para que a gente continue servindo a esse público”, contou.

Qualidade de vida hoje

A estimativa de 100 anos pode ser acelerada com a educação financeira. Mulheres negras são criativas, empreendedoras e trabalham muito. Mas, destacou Mônica, muitas delas não sabem como gerir e investir o que ganha.

“Eu não prego educação financeira para esse público convencendo todo mundo de que vamos ficar ricas nos próximos três anos. Mas eu posso garantir que quando a gente cuida da nossa educação financeira, das nossas finanças, a gente consegue alcançar um lugar com um pouco mais de qualidade de vida”, apontou.

Mônica repete frequentemente a frase “tornar o dinheiro um aliado”. A educadora financeira ressaltou que a mudança de comportamento e mentalidade é o início para uma vida com mais qualidade, em que é possível sim ecolher os lugares  onde trabalhar e os ambientes que deseja frequentar. 

“É justamente ajudar essas mulheres a entenderem que a educação financeira também é uma ferramenta para nos libertar. A mudança precisa começar mesmo quando a gente tem as menores quantidades porque é a partir desse pequeno que a gente vai conseguir fazer com que ele se torne maior”.  A especialista defende em seu trabalho que “educar e acolher mulheres negras não é uma opção: é uma obrigação e uma necessidade urgente”.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 01 – Erradicação da pobreza e o ODS 10 – Redução das Desigualdades.

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