Emilly Lima, Sônia Maria e Patrícia Amorim (Montagem: Sagres On)

A ascensão da mulher nos altos cargos da sociedade não é uma realidade no futebol. Em levantamento da Rádio Sagres 730, as mulheres ocupam apenas 0,5% dos cargos de poder do esporte preferido dos brasileiros. Entre os 20 clubes da Série A, há 384 dirigentes nas funções de presidentes e vices do Executivo e do Conselho, além de diretorias ligadas ao futebol. Porém, deste total, são apenas duas mulheres.

De forma solitária em seus clubes, Edna Murad e Sônia Maria são as únicas expoentes no país. As duas ocupam a vice-presidência de Corinthians e Vasco, respectivamente. No cargo de treinador, também não há nenhum nome feminino, nem mesmo em divisões inferiores, como nas Séries B, C e D.

Nem mesmo na seleção brasileira feminina há mulheres. Desde que a categoria foi criada na CBF, em 1986, apenas uma mulher ocupou a função de técnica. Foi Emily Lima, em 2016, que assumiu em novembro e foi demitida em setembro do ano seguinte. Apesar do machismo presente na sociedade, a treinadora alega que sua saída se deve problemas pessoais com o novo diretor Marco Aurélio Cunha.

“Foi um problema pessoal que tive com o Marco Aurélio Cunha. Eu não queria só o desenvolvimento da seleção, mas também o do esporte no país. Já o Marco Aurélio queria só o agora. E a gente trabalhava demais, e isso é um grande problema pra eles (CBF)”, disse a atual treinadora do time feminino do Santos.

Na história do futebol brasileiro, apenas duas mulheres ocuparam a presidência: Marlene Matheus, no Corinthians, entre 1991 e 1993, e Patrícia Amorim, no Flamengo, de 2010 a 2012. Além das dificuldades no dia-a-dia, a ex-dirigente do clube rubro-negro acredita que o machismo prejudicou a sua imagem na gestão da equipe

“Eu não tive dificuldades para implantar as coisas, eu tive e tenho dificuldades é de ser reconhecida pelo que realizei. Uma mulher no futebol não pode dar certo. O que eu fiz de positivo, que ajudei e que fiz para o Flamengo conquistar, não foram creditadas a mim. E algumas coisas que a minha administração falhou foram bem ressaltadas. E isso é bastante covarde”, ponderou a dirigente, que acredita que tudo seria diferente se fosse homem.

“Se eu fosse homem, meu reconhecimento seria maior, muito maior. A tolerância seria maior, os críticos seriam menos exigentes. Sem dúvida alguma, sem dúvida alguma, seria tudo diferente”, complementou.

Atual vice-presidente do Vasco, Sônia Maria assumiu o cargo em janeiro, assim que Alexandre Campello foi eleito pelo clube cruzmaltino. Porém, antes mesmo de ocupar a função e apresentar algum resultado, Sonia Maria revela o forte machismo sofrido.

“Por incrível que pareça o preconceito maior que sofri foi com a torcida do Vasco. Alguns torcedores começaram a perguntar de que cozinha eu tinha saído de São Januário. Isso eu considero um absurdo. Até porque antes de assumir a função de legisladora pública, eu poderia ter sido cozinheira e isso não me diminuiria em nada a minha posição de vice-presidente do Vasco. Acredito que isso só aconteceu por causa de eu ser mulher”, disse a dirigente do Vasco.

Resistência à mudança

Doutora em Educação pela Unicamp e pós-doutora pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, de Portugal, a professora Silvana Goellner fez parte do comitê de reformas da CBF, em 2016, e ressaltou as várias dificuldades para que as mulheres comecem a ganhar espaço no futebol brasileiro.

“As mulheres não conhecem ascender por causa do machismo. Na CBF isso foi claro. Por vários momentos nós explicamos sobre a importância de ter mulher. E a pergunta que várias vezes eles fizeram foi ‘Por que uma mulher?’ e eu respondia sempre ‘Por que não pode ser uma mulher?’. A gente vê no futebol que as mulheres têm uma carreira, mas esbarram numa teoria chamada teto de vidro. Elas não conseguem superar um teto, que é simbólico e por isso de vidro, que é para os cargos maiores. Não tenho dúvida alguma que várias mulheres poderiam comandar um departamento na CBF. Mas a CBF se recusa a criar um departamento feminino”, explicou.

Além do comando do futebol, o machismo se espalha para outros setores do futebol, inclusive nas arquibancadas. Pós-graduanda em marketing, a jornalista Giullya Franco foi escolhida como musa do Goiás em 2014, um período tratado como decepcionante e de algumas tristezas.

“Se eu pudesse voltar no tempo, eu não disputaria o concurso de novo. Sei que fiz essa escolha, mas não é fácil lidar com o que as pessoas falam, com as ofensas. Tudo é muito gratuito. Nem na faculdade eu gostava de sair no intervalo porque as pessoas julgam o tempo todo, menosprezam tudo que você faz. É muito difícil para uma mulher no futebol. O machismo começa desde o colégio”, disse Giullya.

Apesar do quase ínfimo número de mulheres no poder do futebol brasileiro, Silvana Goellner vê evolução no tema e acredita que o quadro está sob mudanças.

“Há um movimento de mulheres no futebol e que está fazendo muita coisa. Este grupo tem reivindicado protagonismo. No Rio Grande do Sul, o time feminino só voltou porque o grupo de mulheres batalhou e lutou pela discussão. Temos avanços e recuos. Mas no futebol tem se discutido muito e isso é bem importante”, finalizou.

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