O “Povo brasileiro” é tido como a principal obra antropológica de Darcy Ribeiro sobre o Brasil. Nela, ele tece palavras sobre a formação e o sentido do país, principalmente, através da cultura. O principal legado do professor para a educação brasileira é o entendimento de que as descendências indígena, africana e europeia formam um povo tal qual ele é: diverso. E assim forma uma unidade nacional que chamamos de: cultura brasileira. 

A miscigenação é uma das características mais fortes do que é o Brasil. Ribeiro escreveu que ela gerou um povo “novo” e é responsável por uma etnia nacional “diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras”. A definição está na sua obra mencionada acima, o último livro que publicou, em 1995. Neste mesmo ano, Darcy Ribeiro descobriu um câncer e morreu em decorrência dele em 17 de fevereiro de 1997, em Brasília.

O antropólogo viveu 74 anos. Ele nasceu no dia 26 de outubro de 1922, em Montes Claros (MG). Além de  cientista social com habilitação em Antropologia, Darcy Ribeiro foi educador, romancista e político. Tem uma enorme contribuição em estudos sobre os  indígenas do país e contribuiu com a criação de espaços como o Museu do Índio e o Parque Indígena do Xingu. 

Juntamente com outros importantes nomes da educação do país, lutou pela escola pública e pelo ensino integral. Além de participar da criação de instituições como a Universidade de Brasília (UnB) e atualizações educacionais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996.

Antropólogo

Darcy entre os Urubu-Kaapor, Maranhão, 1949 (Foto: Fundação Darcy Ribeiro)

Darcy Ribeiro ocupou a Cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras a partir de 1993. O antropólogo dedicou quase dez anos de sua vida para estudar a cultura de diversas tribos indígenas do país. Nesse período, então, participou da criação do Parque Indígena do Xingu e fundou o Museu do Índio. Seus escritos têm uma vasta etnografia em defesa dos direitos indígenas.

Ribeiro colaborou com diversas instituições sobre os povos indígenas, entre elas a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Mas sua maior contribuição se deu dentro do Serviço de Proteção aos Índios, com comunidades Bororo, Xokleng, Kaiowá, Terena, Ofaié, Guarani, Kadiwéu e Urubu Kaapor.  No SPI realizou pesquisas de valorização da cultura desses povos indígenas e anos depois escreveu uma coletânea chamada Antropologia da Civilização.

A coletânea tem cinco volumes: O processo civilizatório; As Américas e a civilização; O dilema da América Latina; Os brasileiros 1 – teoria do Brasil; e Os índios e a civilização. Além disso, escreveu a “Arte Plumária dos Índios Kaapor” e “Religião e Mitologia Kadiwéu”, a partir de suas experiências no SPI. No meio acadêmico, foi professor de etnologia e organizou o Curso de Pós-Graduação em Antropologia Cultural no Museu do Índio.

Educador

Os estudos do antropólogo centraram-se na causa indígena e na educação pública. Darcy Ribeiro ocupou diversos cargos públicos relacionados à educação, mas alguns mais notáveis mostram sua luta pela defesa da escola pública e do ensino para o desenvolvimento integral dos alunos. 

Era particularmente próximo a Anísio Teixeira, com quem contribuiu com a criação da Universidade de Brasília em 1962. Uma das suas últimas contribuições para a educação foi a atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1996. Mas a sua marca na educação são os  CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), que desenvolveu quando era o secretário de Estado da Cultura e coordenador do Programa Especial de Educação do Rio de Janeiro.

Darcy Ribeiro (Foto: Academia Brasileira de Letras)

O projeto educacional de ensino integral ocorreu durante os dois governos de Leonel Brizola (1983 – 1987 e 1991– 1994) e tinha como objetivo ofertar as atividades regulares e reforço escolar. Além de teatro, pintura, música, projetos culturais e iniciação esportiva. Mas os CIEPs também tinham a função de acolher crianças e adolescentes de rua, oferecendo moradia e alimentação.

Um dos CIEPs funcionava abaixo do Sambódromo Marquês de Sapucaí. O sambódromo é um espaço cultural idealizado por Darcy Ribeiro, que também teria a função de abrigar cerca de 500 salas do CIEPs para que fosse utilizado fora do período do Carnaval. 

Político

Darcy Ribeiro foi professor universitário no Brasil e no exterior, escritor de suas experiências e de fatos da história brasileira, indigenista, romancista e autor de obras infantis, gestor de entidades, secretarias. E, inclusive, foi diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (MEC). 

Mas outra de suas “peles”, como ele mesmo descrevia suas profissões, foi o exercício na política, sendo o vice-governador do Rio de Janeiro, em 1982, e eleito senador, em 1991. Nos anos seguintes, tentou completar o projeto dos CIEPs e implantar um novo ensino médio no país, sem sucesso.

Exílio

Ao longo da vida, Ribeiro recebeu títulos em homenagens, como os títulos de Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília, da Sorbonne da França, da Universidade de Copenhague e da Universidade do Uruguai. Chegou a ministrar aulas em universidades uruguaias no período em que esteve exilado, motivo de ser conhecido no país e em outros lugares. 

Darcy Ribeiro foi casado com Berta Gleizer Ribeiro, também antropóloga e etnóloga, com quem escreveu várias de suas obras. O casal chegou a se exilar no Uruguai e no Chile durante a ditadura brasileira, um importante capítulo de suas vidas. Mas retornaram ao Brasil e Ribeiro foi anistiado da acusação de crimes políticos em 1980. 

Memorial Darcy Ribeiro, no Campus Darcy Ribeiro da UnB (Foto: Arquivo central da UnB)

Durante o exílio escreveu muitos livros, inclusive, romances e livros infantis. Muitas coisas no Brasil são frutos da antropologia, luta pela educação e trabalho de Darcy Ribeiro para transformar a situação do país. 

A visão do antropólogo sobre a educação e a importância que ele colocava sobre ela ficou marcada numa frase atribuída a ele, que teria sido dita durante a campanha eleitoral ao governo do Rio de Janeiro, e 1982: “se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 04- Educação de Qualidade.

Personalidades da educação: