Seguindo a trajetória da crise do lixo em Goiânia, retomamos no período do início da década de 2000. Naquele momento, a cidade era administrada por Pedro Wilson (PT). Iris Rezende assume em seguida, e há mudanças substanciais na Comurg, com configurações que ainda repercutem nos dias atuais.

Nesta segunda parte, há a grande crise de 2014, em que lixo ficou bastante acumulado pela cidade, resultando desgastes para a administração municipal e sofrimento para a população. Por fim, a ira de Iris Rezende com os “pilantrões da Comurg”. Para retomar a linha das crises do lixo em Goiânia, retornaremo ano de 2005.

2005

Em 2004, Pedro Wilson (PT) é derrotado por Iris Rezende (PMDB) na Prefeitura de Goiânia. O peemedebista retorna a gestão municipal, pois foi prefeito nos anos 1960. Iris retoma os serviços da Comurg de forma direta.

Em 2005 foi realizada grande licitação para aquisição de 56 novos caminhões equipados com coletores compactadores de lixo, que substituiriam a frota terceirizada. Também foi promovido um concurso público para trabalhadores da Comurg.

A justificativa era de economia de custos, sem a terceirização. A retomada começou ainda em 2005 e concluída em 2007, com a transferência da gestão do Aterro Sanitário.

Enquanto as máquinas estavam novas, a coleta funcionou de forma satisfatória. Mas em 2010, já na gestão de Paulo Garcia (PT) o sistema voltou a apresentar problemas, ainda que a coleta não tenha sido afetada.

Década de 2010

2010

Paulo Garcia (PT) era vice de Iris Rezende (PMDB) que deixou o cargo para se candidatar ao governo estadual e perdeu para Marconi Perillo (PSDB). Em 2012, Paulo Garcia foi reeleito prefeito da capital.

A época, a Comurg não havia se planejado para substituição dos caminhões licitados em 2005 e adquiridos em 2006. A vida útil de um caminhão coleto com compactadores de lixo é de até cinco anos, em média.

Em 2010, a prefeitura assinou contratos com a empresa Delta, três deles envolviam diretamente a Comurg, pois se tratava da locação de caminhões e maquinários, além da gestão do Aterro Sanitário.

2011

Em agosto de 2011, a Prefeitura fez nova licitação para compra de uma nova frota composta por 70 veículos mais os equipamentos coletores – compactadores de resíduos. A Tecar Caminhões venceu a licitação. Por divergências em relação a especificações técnicas, a aquisição foi suspensa, a assinatura do contrato, cancelada e o certame, congelado por um ano.

Dois anos depois, a empresa Suécia Veículos, segunda colocada na concorrência, foi selecionada para fornecer caminhões, apesar de a licitação prever o total de 70 veículos, a prefeitura autorizou o fornecimento de 40 da marca Volvo. O ideal seriam 56 caminhões para fazer a coleta na cidade.

2012

No entanto, em abril de 2012, a Prefeitura de Goiânia optou por romper os contratos com a empresa Delta. A decisão afeta principalmente o serviço de coleta de lixo em Goiânia. O Município rompeu o contrato de forma unilateral pelo Município, sem motivação direta que envolvesse a administração. Para explicar este fato, faço um pequeno desvio da rota.

A Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF) deflagraram a Operação Monte Carlo em 29 de fevereiro de 2012. As investigações feitas a época indicavam a existência de um esquema de exploração ilegal de caça-níqueis em Goiás e no Distrito Federal.

A operação alimentou duas CPIs, uma no Congresso e outra na Assembleia Legislativa de Goiás, e causou mudanças nos comandos da Segurança Pública goiana.

A polícia identificou durante as apurações, ligações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com a Delta e outras empresas e ainda a atuação de agentes públicos e políticos, entre eles o ex-senador Demóstenes Torres que teve o mandato cassado.

Sob um discurso de moralidade, a gestão de Paulo Garcia optou por romper os contratos com a Delta. Na vizinha cidade de Aparecida de Goiânia, a Delta também tinha contratos com a administração, mas o então prefeito Maguito Vilela optou por mantê-los.

Ainda no mês de abril daquele ano, a Prefeitura contratou a empresa Metropolitana Serviço Ambiental Ltda. para o fornecimento de outros 29 caminhões coletores – compactadores de lixo. A Comurg chegou a ter à sua disposição 54 caminhões terceirizados para suprir a demanda de coleta de lixo da cidade.

2013

Em setembro de 2013, a prefeitura fechou com a Lopac Locadora de Veículos e Equipamentos Ltda. convênio visando o fornecimento de 25 caminhões equipados de coletor – compactadores de lixo.

2014

Tudo parecia que estava resolvido, mas 2014 foi um ano de grande crise na coleta de lixo na cidade de Goiânia. A empresa Metropolitana paralisou a locação de seus 29 veículos à Comurg. A empresa justificou que era impossível continuar operando sem que a Prefeitura saldasse um passivo de R$ 4,5 milhões.

A Comurg ficou apenas com 14 caminhões da empresa Tecpav, que substituiu a frota da Lopac. A companhia improvisou os serviços de coleta de lixo com caminhões basculantes e de carrocerias. Máquinas retroescavadeiras saíram às ruas recolhendo os resíduos domésticos.

O cenário foi de caos pela cidade, com lixo acumulado. Uma das cenas mais marcantes foi lixo amontado e queimado na sede municipal do PT, no Setor Leste Universitário, em Goiânia. Houve renegociação da dívida e com pagamento, resolvendo a pendência financeira e o problema da coleta.

2017

Paulo Garcia deixa a Prefeitura de Goiânia em 2016, e Iris Rezende (MDB) volta ao Paço Municipal. O emedebista subiu o tom em aspectos contra a companhia, principalmente em relação ao inchaço na empresa.

O ex-prefeito disse a época que a Comurg teria “2 mil pilantrões dispensáveis”, ou seja, que poderia haver a demissão de até 2 mil trabalhadores. A companhia tinha a época cerca de 8 mil integrantes.

A direção da Comurg elaborou planos de demissão voluntária e houve adesão por parte de alguns colaboradores. Enquanto isso, a coleta apesar de em alguns momentos apresentar irregularidades, estava em situação aceitável.

Na terceira e última parte desta série você vai saber os motivos da crise atual do lixo em Goiânia e possíveis saídas para o futuro.

O tema integra o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS-11 Cidades e Comunidades Sustentáveis.

Leia a primeira parte

Não é a primeira e nem será a última crise do lixo em Goiânia (Parte 1)