(Foto: divulgação/internet)

 

[LEIA TRANQUILO – TEXTO SEM SPOILERS]

Dia desses, conversando sobre blockbusters com o Geraldo, um grande amigo meu, ele lançou esse questionamento: será que já não atingimos o limite, com esse tanto de filmes de super-heróis não? Será que já não deu?

Essa semana, foi lançado o novo filme da Marvel. Acho que todo mundo tá sabendo. “Vingadores: Guerra Infinita” vem, com outras palavras, dizer justamente que atingimos um novo patamar na escala de filmes de heróis. Coroando 10 anos de lançamentos intensos, com recordes frequentemente quebrados, pode-se dizer que foi inaugurado um novo gênero cinematográfico. Filmes do Homem de Ferro, Thor, Homem-Aranha, Batman, Mulher Maravilha e tantos outros não são mais meros filmes de ação, comédia ou aventura. São filmes de super heróis. Já merecem uma prateleira própria na locadora – se elas existissem.

E o que isso quer dizer? Quer dizer que, assim como filmes de ação, romance, guerra e drama são lançados toda semana, não dá para esperar que o novo gênero “filme de super-herói” simplesmente deixe de existir daqui um tempo. Ou seja, o questionamento do meu amigo talvez não encontre resposta. Afinal, também é possível perguntar “será que já não deu de comédia romântica?” ou de animações? Ou de filmes de terror, por exemplo? Enquanto estiverem sendo produzidas boas obras, com boas histórias e excelentes bilheterias, o mercado se encarregará da sobrevivência do gênero. E de sua morte também, se for o caso. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o gênero das chanchadas (há quem diga que exista uma “neochanchada” alimentada por Marcius Melhens, Leandros Hassuns, Marcelos Adnets e outros globais – mas a chanchada em si é um gênero histórico, que morreu lá atrás. Assunto para outra hora!). Ou com a diminuição considerável de faroestes (westerns), por exemplo, uma verdadeira praga (no bom sentido) a partir da década de 1930.

E o fenômeno dos filmes de herói ficou especialmente interessante após o universo estendido que a Marvel criou. É perfeitamente compreensível que não agrade a todo mundo – afinal, os quadrinhos em si, que originaram esse universo, nunca foram unanimidade. Mas crucial tentar entender o motivo do fenômeno, e o quão importante isso é para o cinema em si.

A grande qualidade da Marvel Studios é a organização. A empresa soube planejar de forma tão minuciosa a construção de seus personagens, a ordem de lançamento e a interligação deles todos que foi inevitável esperar por algo maior. É como se nos últimos 10 anos, ela estivesse engendrando uma teia, costurando uma coberta. Cada fio meticulosamente estudado. E a grande colcha está em “Vingadores: Guerra Infinita” e “Vingadores 4” – esse último ainda sem nome oficial, mas com data de lançamento agendada para 03 maio de 2019.

Essa teia é simplesmente espetacular, algo completamente sem precedentes no cinema.

Para você ter uma ideia, pegue qualquer outro gênero. Os faroestes, que já mencionamos ali em cima, por exemplo. Tenta lembrar aí a algazarra que virou quando a Mirisch Company anunciou que iria pegar um roteiro do Akira Kurosawa e escalar Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson e James Coburn para atuarem juntos. Lembra da expectativa para  ver todos esses caras dando tiros contra o Eli Wallach? Não é à toa que o filme se chamou “The Magnificent Seven” (traduzido de forma menos pomposa para “Sete Homens e um Destino”).

Ou você que é fã do Sergio Leone, e não consegue ver um poncho sem imaginar o Clint Eastwood mastigando charque. Agora, imagina se, de repente, um louco consegue colocar não só esses atores juntos, mas seus personagens também! E daí um pistoleiro sanguinário aparece numa aldeia, e o Ethan Edwards de John Wayne (em “Rastros de ódio”) topa sem querer com o Lee Van Cleef, os dois vão atrás do Django do Franco Nero que é tio do Django do Jamie Foxx, mas só o Giuliano Gemma com seu Garry O’Hara (de “Dólar Furado”) sabe o ponto fraco do Major Marquis Warren de Samuel L Jackson. Ainda rolariam participações não reveladas de Kevin Costner, Emilio Estevez e Jeff Bridges.

A Marvel fez isso. Fez essa massaroca! Pegou a lógica dos quadrinhos e jogou na tela: mesclou todos os seus personagens, interpretados por grandes astros, em um universo complexo, após construir individualmente cada um antes. Cada herói tem seu sucesso, seus recordes, seus dramas e alívios cômicos. Cada um já foi protagonista (ao contrário de fiascos como o “Street Fighter” de 1994, por exemplo, em que grandes figuras como Ken e Ryu viraram coadjuvantes do Coronel Guile). E um dos enormes prazeres de Guerra Infinita – esperado durante muito tempo, curtido em barris de mogno longe da luz do sol – tá nisso: ver como o Senhor das Estrelas vai lidar com Thor? O Homem de Ferro vai se sujeitar às ordens do Doutor Estranho? E o Pantera Negra, vai se entrosar com o Capitão América? Cada piada, cada troca de farpas, cada murro dado em conjunto é uma sensação nova, uma atração à parte.

Algo assim já havia sido divertido de assistir em Capitão América: Guerra Civil, porque colocaram o Steve Rogers pra dar soco no Tony Stark num dos filmes mais bacanas desse universo. E num crescimento calculado, Guerra Infinita é ainda mais grandioso! A gente fica se perguntando onde isso vai parar? O que é que a Marvel está fazendo? Dá até para imaginar o Everaldo Marques gritando: “Marvel! Você é ridícula!”

Ainda tem o Thanos. Ah! Caramba! O vilão mais poderoso do universo, atrás da arma mais devastadora de todos os tempos. Putz! E tem a cena pós-créditos, que dá dicas de como o Universo Marvel vai continuar depois da guerra. Mas vou ter que parar por aqui. É muito assunto. Não cabe num post só. Vamos precisar retomar isso aí de novo…

Já diria o Vinícius Melo, um outro amigo meu: como é bom ser nerd em tempos como os nossos.