Junior Kamenach
Junior Kamenach
Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Organização e saúde mental: como o ambiente influencia o bem-estar emocional

A relação entre organização e saúde mental pode ser mais profunda do que parece. Em uma conversa no programa Tom Maior do Sistema Sagres, a personal organizer Deise Marc e o psicólogo Fernando Gobbato discutiram como o ambiente ao redor pode impactar diretamente as emoções e o comportamento das pessoas.

“O ambiente físico é onde há interação entre o organismo e o ambiente. Quando há um evento aversivo, como uma briga de casal, aquele espaço pode acabar condicionado a sentimentos negativos”, explica Fernando.

De acordo com ele, em alguns casos, casais só conseguiram se reconciliar após mudarem de residência. “O comportamento respondente fica condicionado naquele ambiente, e as pessoas voltam a se comportar da forma como aconteceu a briga.”

Organização

A organização da casa pode ajudar a evitar esse tipo de tensão. Segundo Deise, um dos maiores desafios é a falta de um local específico para cada objeto.

“Se eu escrever uma carta para minha mãe em Guarulhos, ela só vai chegar porque tem um endereço. Na casa, funciona da mesma forma. Se um objeto não tem seu lugar definido, ele acaba se perdendo, e a bagunça se instala”, explica.

Deise também destaca que um erro comum é encarar a organização como uma tarefa exaustiva, realizada apenas em dias específicos.

“Se você falar ‘hoje é dia de faxina’, já dá preguiça. É muito mais eficiente organizar aos poucos, como um processo contínuo. Em vez de arrumar o quarto inteiro de uma vez, comece por uma gaveta. Assim, você percebe o progresso e mantém a motivação.”

Rotina

A bagunça no ambiente pode ser um reflexo do estado emocional, segundo Fernando. “A mesa começa a ficar desorganizada, e isso reflete algo interno. Em muitos casos, o problema não está só na criança que apresenta dificuldades na escola, mas na dinâmica familiar como um todo”, afirma.

Para evitar que a responsabilidade da organização recaia sobre uma única pessoa na casa, Deise sugere dividir as tarefas de forma equilibrada e envolvente.

“Se a esposa gosta de cuidar da casa, mas não gosta de cozinhar, e o marido gosta de cozinhar, por que não dividir? Enquanto ele prepara o jantar, ela adianta a louça. Os filhos também podem ajudar, colocando a mesa ou espremendo um suco”, sugere.

A criação de uma rotina estruturada também pode trazer benefícios emocionais. “Ter um checklist diário pode ajudar a manter a sensação de controle e evitar o estresse. Mas é preciso equilíbrio. Se a busca pela organização se tornar um fator de tensão, pode acabar gerando o efeito contrário”, alerta Fernando.

Ambiente e saúde mental

Além de evitar conflitos e aumentar a eficiência no dia a dia, um ambiente organizado pode proporcionar bem-estar e reduzir a sobrecarga mental.

“Nosso cérebro já recebe informações o tempo todo, especialmente com o uso excessivo de telas. Se o ambiente ao redor também estiver caótico, não há um respiro, um descanso para a mente”, observa Fernando.

A higiene do sono, por exemplo, pode ser prejudicada pela desorganização e pelo uso contínuo de eletrônicos.

“A partir das seis da tarde, é interessante reduzir o tempo de tela para facilitar o relaxamento. O sono é fundamental para a saúde mental e, consequentemente, para a capacidade de organização e planejamento do dia seguinte”, conclui o psicólogo.

O primeiro passo: tirar o excesso

Deise ressalta a importância de manter cada coisa em seu devido lugar e evitar o acúmulo desnecessário. Um truque simples é o uso de uma cestinha para recolher objetos que não pertencem ao ambiente.

“Você chega no quarto e já larga a bolsa, o óculos, a chave, a garrafinha de água… Quando vê, tem quatro copos acumulados. Se você tiver uma cestinha ou uma bandeja, já acorda e tira esses itens. Quando você percebe, o ambiente ficou organizado”, explica.

Na cozinha, o problema pode ser a bancada lotada de eletrodomésticos que nem sempre são utilizados. “A gente se acostuma tanto com a bagunça que nem percebe. Mas se você só usa o liquidificador e a airfryer, por que manter a máquina de pão e a pipoqueira ocupando espaço?”, questiona Deise.

Organização é hábito, não talento

Existe uma crença comum de que algumas pessoas nascem organizadas e outras não. No entanto, Fernando discorda dessa ideia e afirma que a organização pode ser aprendida e desenvolvida com o tempo.

“Não tem essa de ‘eu nasci bagunceiro e pronto’. Tudo depende do ambiente onde crescemos e dos hábitos que cultivamos. Se você não mantém uma rotina de organização, pode acabar se acostumando com o caos e entrando em um ciclo negativo, que afeta até a saúde mental”, alerta.

Fernando também destaca que a desorganização em casa pode refletir em outras áreas da vida. “Se você não cuida do seu espaço, isso pode se estender para compromissos atrasados, tarefas esquecidas e até mesmo problemas de autoestima. Um ambiente desorganizado pode levar a um ciclo de frustração e procrastinação”, explica.

Como conciliar perfis diferentes na mesma casa?

Conviver com alguém que tem hábitos diferentes pode ser um desafio, mas o segredo está no diálogo e na flexibilidade. “Se uma mãe muito organizada convive com um filho bagunceiro, talvez a solução não seja exigir que tudo seja feito no momento que ela quer, mas encontrar um meio-termo”, sugere Deise.

A especialista também enfatiza que cada pessoa tem um jeito próprio de organizar. “Por exemplo, na hora de lavar a louça, tem gente que já vai direto ensaboando tudo. Eu, por outro lado, gosto de organizar antes, deixar um espaço limpo para colocar os pratos lavados. Não existe um único jeito certo, mas encontrar um método que funcione para cada um”, comenta.

No final, a chave para manter um lar mais organizado está em pequenas mudanças diárias. Seja retirando objetos do lugar errado, reduzindo o excesso de utensílios ou estabelecendo uma rotina de limpeza, o importante é transformar a organização em um hábito contínuo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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