Junior Kamenach
Junior Kamenach
Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Perspectiva indígena da vida motiva curta-metragem da USP selecionado para uma exposição internacional

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Eîori! um horizonte existencial” de Kelly Silva de Oliveira foi um destaque na Student Animation Showcase, uma exposição internacional que apresenta TCCs de todo o mundo. Sendo assim, o curta-metragem é orientado por Silvia Laurentiz, professora do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Mas, é importante ressaltar que ele estará disponível na plataforma do evento até 2024, ao lado de projetos de outras universidades.

“Pela primeira vez um filme da USP foi selecionado e está sendo exibido on-line junto com trabalhos de importantes escolas, como a CalArts, Ringling School of Design, School of Visual Arts, Concordia University e California State University”, diz João Paulo Schlittler, docente do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da ECA e responsável pela inscrição do trabalho na mostra.

Kelly, a autora do TCC, marcou presença na estreia online dessa exposição, que reuniu 21 universidades de todo o mundo. “Foi bastante rico ver gente de todo mundo apresentando trabalhos, com diferentes perspectivas. Os trabalhos eram bem diversos, as técnicas [e o] olhar, a experiência de cada aluno também. Foi bom ver como as universidades são diferentes”, relata Kelly, em entrevista Rosiane Lopes do Jornal da USP.

Questões ambientais

A acadêmica compartilha que sempre teve um profundo envolvimento com questões ambientais e culturas indígenas em sua trajetória na faculdade. Nesse sentido, isso a inspirou a explorar esses temas em sua pesquisa. “Eu pesquisei sobre esse modo de ver o mundo que me chama muito a atenção, esse modo diferente do eurocêntrico, que é pautado na questão onde o sonho tem uma importância muito grande, é um modo de existir, é um lugar de tomada de decisões”, explica.

A base do trabalho de Kelly é a perspectiva indígena, e suas principais influências provêm de autores indígenas notáveis. Sendo assim, o livro “A Queda do Céu” (2010) de Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert, que é uma compilação de relatos de Kopenawa, coletados pelo etnólogo Albert, foi uma fonte essencial de inspiração. Então, este livro, entre outros tópicos, explora um sonho de infância de Kopenawa, que ele interpreta como um chamado para o xamanismo.

A segunda influência-chave vem das ideias de Ailton Krenak, que provocam reflexões profundas sobre a humanidade e a relação com o mundo. Kelly adotou uma frase marcante de Krenak, presente em suas palestras e no livro “Ideias para adiar o fim do mundo” (2019), como um guia para seu trabalho.  “Por que nos causa desconforto a sensação de estar caindo? […] por que estamos grilados agora com a queda? […] Vamos pensar no espaço não como um lugar confinado, mas como o cosmos onde a gente pode despencar em paraquedas coloridos”.

Pesquisa

Na animação, um jovem indígena aventura-se por uma floresta e se depara com uma onça que o persegue. Subindo em uma árvore, ele continua sendo seguido pela fera. No ápice do desafio, ele salta da árvore, e sua “queda para o alto” desencadeia o aparecimento de um colorido paraquedas, que o leva a sobrevoar um rio até o outro lado. “O que eu quis dizer na animação é que, além daquilo que a gente pode encontrar, da situação sem saída, existe sempre uma nova perspectiva, uma nova possibilidade. A gente pode encontrar uma nova saída na encruzilhada existencial que a gente está vivendo”, relata a autora.

Além do curta-metragem, Kelly conduziu uma pesquisa teórica profunda que fundamentou sua produção. Seu foco estava na concepção de mundo sob a perspectiva indígena, incluindo narrativas míticas e outras formas de conhecimento.

Quanto ao processo de criação da animação, ela detalha que, devido à sua localização em Cabreúva, interior de São Paulo, criou um estúdio em sua casa para produzir as cenas do projeto, já que não podia frequentar a USP regularmente. “Na hora de fazer o cenário eu queria que fosse algo que tivesse um traço bastante manual, que fosse algo que mostrasse esse lado artesanal, não queria nada que fosse muito computadorizado”, diz.

Kelly se formou em Artes Visuais na ECA e está atualmente cursando mestrado em Design de Animação na Universidade Anhembi Morumbi. Ela tem planos de continuar sua pesquisa e produzir outra animação, desta vez explorando o convívio com a comunidade indígena Guarani Mbyá na região de São Bernardo do Campo, parte da região metropolitana de São Paulo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 10 – Redução das Desigualdades

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