Quais são os sonhos das mulheres brasileiras? Essa foi a pergunta norteadora da pesquisa “Os Sonhos Delas”, realizada pelo Think Olga, um laboratório de ideias que atua com estudos voltados à equidade de gênero. A iniciativa ouviu mulheres de 18 a 65 anos de todas as regiões do Brasil e revelou desejos que vão desde estabilidade financeira até a vontade de conhecer o mundo.
Em entrevista ao programa Tom Maior, da Sagres TV, a cofundadora da instituição Nana Lima comentou os principais achados da pesquisa e destacou a importância de escutar as vozes femininas em um país tão diverso. “A gente faz estudos nacionais para entender, realmente, como está a situação das mulheres brasileiras. E a gente sabe que o Brasil é um país de proporções continentais, então é fundamental captar essas diferenças regionais”, explicou.
O resultado mais expressivo do levantamento apontou que o maior sonho das mulheres brasileiras hoje é ter estabilidade financeira. Segundo Nana, esse desejo vai muito além de uma conta bancária recheada: “Essa estabilidade está conectada com a saúde mental, com a liberdade de saber como você vai terminar o mês, de poder pagar uma faculdade ou sair de um relacionamento abusivo. Não é só sobre dinheiro, o dinheiro é muito um meio para acessar dignidade e liberdade”.
A pesquisadora destacou que o desejo de independência financeira tem raízes profundas, inclusive culturais. “Durante muito tempo, as decisões financeiras foram terceirizadas para maridos, pais ou filhos. Muitas mulheres ainda acham que investimento é assunto de homem. E isso precisa mudar”, pontuou.
Ela também defendeu a inclusão de educação financeira nas escolas como forma de empoderar meninas desde cedo. “A gente aprende a fazer equações de segundo grau, mas não aprende a fazer um orçamento doméstico, a lidar com cartão de crédito. E quando quebra a cara, aprende na dor. Isso precisa ser repensado.”
Sonhar é um ato de resistência
Outro ponto forte da pesquisa foi a ideia de que sonhar, para as mulheres, é também um ato de resistência. “Quando a gente é criança, os sonhos não têm limite. Mas quando viramos adultas, entramos em modo de sobrevivência. O sonho nos ajuda a pensar em outras possibilidades, em mundos diferentes do que vivemos”, afirmou Nana.
Um sonho comum, presente em todas as faixas etárias e classes sociais ouvidas, foi viajar. “Conhecer o mundo, outras culturas, escapar da rotina, é uma forma de praticar a liberdade, de ser outra pessoa por um tempo. Isso apareceu muito fortemente no estudo”, revelou.
A pesquisa também traz que 88% das mulheres afirmaram que hoje conseguem sonhar mais do que suas mães e avós. Para Nana, isso representa uma mudança significativa na maneira como as mulheres veem seu papel na sociedade. “As avós e mães sonhavam em manter a família unida, em cuidar dos filhos e do marido. Já as filhas falam sobre carreira, estudar, viajar. É muito poderoso ver essa ampliação de horizontes”, disse.
Ela também ressaltou a importância da representatividade para meninas negras, periféricas e de baixa renda: “É muito difícil sonhar com algo que você não vê. Se elas não se enxergam nos espaços de poder, como vão se imaginar lá?”.
Para que esses sonhos se tornem realidade, Nana acredita que é preciso fomentar conversas sobre dinheiro e autonomia entre as próprias mulheres. “A gente precisa falar mais sobre salário, finanças, investimentos. Isso não pode ser um tabu. Falamos de temas muito mais difíceis entre nós, e o dinheiro deveria estar nessa roda de conversa também.”
A pesquisa completa com gráficos e dados regionais está disponível no relatório divulgado pelo Think Olga. A ideia é que ele sirva como base para políticas públicas, debates e ações que ampliem o acesso das mulheres brasileiras à realização dos seus sonhos.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade
Leia também: