O projeto Sistema Bioeletroquímico Empilhável para a Geração de Eletricidade desenvolveu uma tecnologia que transforma resíduos orgânicos em energia limpa. A pesquisa é do Grupo de Estudo e Pesquisa em Água, Saneamento e Sustentabilidade (GEPASS), da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

O grupo começou o estudo com o objetivo de usar resíduos orgânicos de esgoto e dejetos industriais para produzir eletricidade e hidrogênio. A partir da ideia, os pesquisadores começaram a utilizar microrganismos para degradar essas substâncias e conseguiram resultados positivos em laboratório.

O especialista em gestão ambiental, Marcelo Nolasco, contou que a tecnologia poderá ser utilizada pelas indústrias na mitigação dos danos ambientais e na transição energética. Nolasco  explicou porque o projeto utiliza resíduos orgânicos.

“Uma característica importante é a necessidade de que os resíduos utilizados sejam orgânicos e biodegradáveis, porque os microrganismos empregados no projeto precisam de materiais orgânicos como fonte de alimento. Em uma indústria metalúrgica, por exemplo, provavelmente essa tecnologia não funcionaria, pois os microrganismos não poderiam consumir essas substâncias”, disse.

Inovação na geração de energia

O projeto trouxe uma novidade na geração de energia ao se diferenciar dos sistemas tradicionais que consomem muita energia para processar e tratar os efluentes, pois ele não tem esse gasto ao mesmo tempo em que gera eletricidade. 

“Nosso sistema faz exatamente o inverso. A maioria das indústrias e estações de tratamento gasta muita energia para tratar resíduos, enquanto nós conseguimos, através desse sistema, justamente gerar mais energia”, detalhou a potência da tecnologia.

Marcelo Nolasco mostrou a relevância do projeto, relembrando o caso da morte de toneladas de peixes no rio Piracicaba por causa do descarte irregular de  resíduo chamado vinhaça, originado da cana-de-açúcar, e que são despejados no rio pelas indústrias do setor de produção de etanol e açúcar.

“Não há nada no mercado nacional semelhante ao que nossa tecnologia pode fazer no sentido de prevenir esses descartes irregulares e ainda gerar energia a partir disso. Obviamente é preciso passar por um teste de escalonamento, pois estamos desenvolvendo dentro de um laboratório, então é preciso testar em números maiores de resíduos. Mas é uma tecnologia nova e que já vem mostrando resultados positivos”, disse.

Solução para indústrias

A tecnologia chega como uma solução para as indústrias tratarem corretamente os seus resíduos e cuidarem do meio ambiente. No entanto, Nolasco destacou que o setor precisa mostrar interesse para que a tecnologia chegue ao mercado. 

“As indústrias devem ver essas inovações de economia circular e tecnologias verdes como uma forma de melhorar sua imagem e contribuir para a sustentabilidade”, argumentou.

“O setor produtivo brasileiro passa por esse processo de transição energética e as empresas precisam acreditar nisso, precisa utilizar energia limpa, energia a partir de biomassa e buscar novas formas de transformar resíduos em energia. Dessa forma, o País consegue mostrar à sociedade e aos mercados interno e externo que está atento às atuais mudanças”, acrescentou.

Os pesquisadores ainda vão realizar os testes em uma escala piloto, mas espera para isso conseguir parcerias com indústrias e companhias de saneamento.

*Com Jornal da USP

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 06 – Água limpa e saneamento e o ODS 07 – Energia limpa e acessível.

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