Altas concentrações de microplástico em algas marinhas no Ártico. Foi o que encontrou uma expedição de pesquisadores liderados pela bióloga Melanie Bergman. As fibras microscópicas do material foram encontradas na Melosira arctica, um tipo de alga que cresce suspensa no gelo marinho. As principais preocupações dos cientistas, entretanto, é com a vida selvagem que come esses vegetais contaminados e com a aceleração do aquecimento global.

O estudo consta na revista Environmental Science & Technology. No entanto, pesquisadores do Alfred Wegener Institute for Polar and Marine Research encontraram quantidades 10 vezes superiores de microplásticos nas amostras da mesma alga, se comparado ao que existe na água do mar que circunda a região. O objetivo, contudo, é saber quanto de material plástico existe nos agregados da alga de gelo e na água marítima ligada diretamente aos blocos congelados.

Esquema mostra como seres vivos se alimentam do microplástico preso nas algas e material entra na cadeia alimentar (Fonte: Environ. Sci. Technol. 2023, 57, 17, 6799-6807)

De acordo com o estudo, isso não apenas representa um risco para os animais que se alimentam das algas. Aglomerados mortos do vegetal, que se desprendem do gelo, podem carregar o material para o fundo do mar, poluindo, dessa forma, ainda mais os oceanos.

“Encontramos uma explicação plausível de por que sempre medimos as maiores quantidades de microplásticos na área da borda do gelo, mesmo em sedimentos do fundo do mar”, explica Melanie, em um comunicado.

Conforme Melanie, o microplástico preso nas algas faz com que o vegetal desça em linha reta em direção ao fundo do mar, enquanto o gelo marinho que se desprende dos blocos cai em locais mais distantes, carregado pelas correntes.

Imagem microscópica da presença de microplásticos na espécie de algas Melosira arctica (Foto: Alfred Wegener Institute)

Risco

Como as algas são alimentos para outras espécies, inclusive de peixes, a concentração de microplástico representa um risco à cadeia alimentar.

“Como as algas do gelo são pontos críticos de atividade biológica e uma importante fonte de alimento para organismos que pastam, elas podem ser um vetor para as redes alimentares sob o gelo”, escrevem os cientistas. “De fato, microplásticos foram recentemente detectados em zooplâncton pastando no Estreito de Fram”, complementa, citando a região entre a Groenlândia e o arquipélago de Svalbard.

De acordo com os pesquisadores, os microplásticos derivam de uma variedade diferente de materiais. Entre eles o polietileno e polipropileno até nylon e acrílico, sendo o polietileno tereftalato (PET) o mais presente. Utiliza-se o PET para fabricação de embalagens de bebidas, as “garrafas PET”.

Aquecimento global

Ainda conforme o estudo, a maioria das partículas de microplástico, cerca de 94% em média, tinha 10 μm (micrometro) ou menos. Os cientistas, porém, estão preocupados que essas minúsculas partículas possam entrar e danificar o Melosira arctica, afetando a capacidade das algas de armazenar carbono.

É que as algas desempenham papeis importantes para a manutenção do planeta Terra, produzindo até 90% de todo oxigênio. Espécies como o plânctonalgas ic atuam na captura de carbono (C). No entanto, as categorias que vivem em ambiente marinho funcionam como fonte de proteínas e polissacarídeos.

“A biota do Ártico já está sob forte pressão do aquecimento global, que progride quatro vezes mais rápido no Ártico em comparação com o globo. A poluição plástica provavelmente exacerba essa pressão, por isso precisa ser combatida com eficiência”, conclui o estudo.

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