Pirenópolis vai completar 300 anos em 2027, mas o que esperar desta cidade tão visitada e querida quando completar seu terceiro centenário?

No programa desta semana, tive a honra de receber o arquiteto e urbanista Luiz Fernando Teixeira, carinhosamente chamado de Xibiu. Entre tantos trabalhos em sua carreira, ele foi responsável pelo projeto de Palmas e o Plano Diretor de Pirenópolis de 2002. Xibiu está de volta a Pirenópolis, na equipe que faz a revisão do plano este ano.

O Plano Diretor de 2002 foi feito em uma realidade muito diferente. “Usamos a tecnologia da percepção oriental, que era olhar a cidade e conversar com as pessoas”. Assim, descobriu-se que a cidade era dividida em “tribos”. Tinham os moradores tradicionais, os ambientalistas, os que vieram de fora, etc. O desenho resultante não foi preciso como os que se tem hoje, com topografia, mapas de satélite e uma série de informações precisas que ajudam o trabalho de estruturação do espaço urbano e proteção ambiental. Entretanto, diz, “as demandas são tão complicadas quanto antes, e as conversas com a população continuam imprescindíveis”.

Essas conversas renderam, e ainda rende, muitas lições. “Descobrimos que a dona de casa conhece mais do que qualquer outra pessoa. Ela sabe onde a calçada está ruim, qual o problema do filho, como está o comércio, ela sabe de tudo”, defende.

Paralelamente, as audiências públicas da época foram campos de batalha abertos. Os diversos grupos tinham suas reivindicações, muitas vezes conflitantes. “Aprovamos uma área de desenvolvimento econômico, mas sabíamos que isso não iria pra frente, pois Pirenópolis é uma cidade da cultura, da música, da natureza”, afirma.

2022

Vinte anos se passaram e Pirenópolis agora trabalha na revisão de seu Plano Diretor. O Estatuto das Cidades preconiza que essa revisão deve ser feita a cada dez anos, mas para Luiz Fernando Teixeira, este deveria ser um processo constante e ininterrupto. Para ele, existem coisas que não podem esperar, e defende um conselho de urbanismo municipal.

Os códigos suplementares ao ordenamento territorial de 2002 não foram feitos, o que deixou o planejamento mal-acabado. O anel viário na parte sul tirou os caminhões do centro da cidade e a ponte “nova”, são frutos que saíram do papel. Por outro lado, o mercado municipal, uma universidade e outras intervenções, como o parque linear do Rio das Almas, não se consolidaram.

“O Plano Diretor é um diagnóstico que estabelece os grandes eixos do ordenamento territorial, do meio ambiente, da água e das questões macro. Mas o projeto dessas questões dependem das leis complementares, do controle e da gestão municipal”, explica Luiz Fernando Teixeira.

Conforme Luiz Fernando Teixeira, alguns dos pontos deixados para trás precisam ser retomados, como a qualidade das vias públicas, dos passeios e das partes não históricas da cidade, que não recebem a devida atenção. Os povoados também devem receber um olhar mais atento.

Palmas

Luiz Fernando Teixeira recorda o trabalho de projetar a nova capital do Tocantins. Os trabalhos começaram na escolha do local onde a cidade seria construída. “Naquela época houve uma briga entre as cidades que queria ser a capital, como Porto Nacional, Gurupi e Araguarina, por exemplo, mas Siqueira (Campos, primeiro governador do Tocantins) teve a consciência de que uma nova capital seria mais interessante naquele momento”, lembra.

O então governador deu a palavra final na escolha da área onde Palmas seria construída, considerando não só a topografia e os recursos naturais disponíveis, mas sobretudo questões histórico-políticas que garantiriam a unidade do Tocantins nas décadas seguintes.

O urbanista coloca a cidade de Catalão como um exemplo de sucesso em desenvolver e colocar em prática o seu Plano Diretor. Uma das soluções foi fazer parcerias entre a prefeitura e setores produtivos da cidade. Que mais cidades goianas sigam esse exemplo. A cidade ganha, o meio ambiente ganha, a economia ganha. Enfim, todos ganham. Assistam aqui

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