Com o objetivo de propagar notícias dentro dos Complexos do Alemão e Penha, atuando como um canal que mostra a realidade das comunidades no Rio de Janeiro, um grupo de jovens constituiu o Papo Reto, um coletivo de comunicação independente.

Em entrevista ao Tom Maior da SagresTV, nesta terça-feira (26), a cofundadora do Coletivo Papo Reto e integrante do gabinete de crise do Complexo do Alemão, Lana de Souza, conta como a instituição surgiu, e que a partir disso os envolvidos se mobilizaram para ajudar famílias, tendo forte importância na “mídia de guerrilha” em tempos de guerra e auxílio na pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

“Oficialmente surgiu em março de 2014, mas na realidade, todos os integrantes já realizavam ações, atividades, projetos dentro do Complexo do Alemão. No final de 2013, no Rio de Janeiro, aconteceram chuvas muito fortes e grande parte da cidade sofreu com a questão das chuvas, alagamentos, desabamento de casas, todas essas questões. No Complexo do Alemão não foi diferente, todas as pessoas que estavam envolvidas com a causa social dentro da favela, se uniram. Pessoas que não estavam institucionalizadas, algumas ONGs, se uniram para ajudar essas famílias”, contou.

A partir daí, o coletivo começou a ganhar forma, e apesar de tudo, os envolvidos conseguiram ajudar as famílias. “Foi um período de pouco mais de um mês acompanhando essas famílias, algumas a casa tinha desabado, outras a casa tinha enchido [de água]. Por ser morro, a gente acaba tendo essas realidades, tanto da enchente, quanto do deslizamento. Acompanhamos tanto na questão de apoio no dia-a-dia, de alimento, de roupa, apoio psicológico para muitas das famílias e também em uma questão mais institucional, que era o apoio de aluguel social, de entender como o estado iria apoiar essas famílias”, afirma Lana de Souza.

Após concluir o objetivo, Lana conta que os envolvidos não queriam parar as atividades de ajuda por lá. “Em janeiro, quando tudo já estava mais ou menos encaminhado, todos já tinham voltado para os seus lares ou conseguido o aluguel social. Algumas pessoas que estavam nessa frente de trabalho se juntaram e falaram “bom, vamos continuar fazendo alguma coisa pelo Alemão, continuar nos mobilizando pela nossa favela, que é onde a gente vive, que é como a gente se sente importante”. Então pensamos em que formato seria, e em março a gente oficializou o Papo Reto como uma instituição que iria trabalhar dentro do Complexo do Alemão”, afirma.

No decorrer dos anos, o Coletivo Papo Reto acabou sendo muito conhecido por conta da pauta da segurança pública. Lana de Souza ressaltou que no início, a instituição tinha uma característica agressiva. “O povo achava que a gente era um pouco louco, muitas vezes a gente bateu de frente com os policiais, com algumas hierarquias dentro do comando militar. Então, acabou que a gente ganhou um pouco dessa cara, “a ONG que fala mal de polícia”, muitas pessoas falavam isso. Mas hoje, a gente tem conseguido equilibrar isso, o Papo Reto se identifica como um coletivo de comunicação independente, mas o nosso trabalho de comunicação está 100% vinculado as pautas de direitos humanos.”

De acordo com a cofundadora da instituição, a comunicação do Papo Reto tem um lado, que representa a favela, a realidade, que é colocar a vivência dos moradores e moradoras das comunidades como foco principal da narrativa midiática.

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