No dia Nacional do Cerrado, celebrado nesta segunda-feira, 11 de setembro, secretários do Meio Ambiente de Goiás e do Tocantins participaram do Seminário Internacional Águas para o Futuro, que ocorre em Rio Quente, no sudeste goiano. Andrea Vulcanis (Goiás) e Marcelo Lelis (Tocantins) foram categóricos ao afirmarem que a preservação do Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro e presente em oito estados da federação, sempre foi deixada em segundo plano, principalmente quando comparado com a Floresta Amazônica.

A secretária de Meio Ambiente de Goiás, Andrea Vulcanis, revelou que o Cerrado não figurou como um dos patrimônios nacionais previstos na Constituição Federal, ao contrário da Amazônia e da Mata Atlântica. Conforme a secretária, por conta da legislação, somente 20% das áreas do Cerrado são previstas como de preservação. “Na Amazônia a conservação de 80% de todas as propriedades rurais. Aqui [no Cerrado] é o inverso, são 20% como áreas de reserva legal”, apontou a secretária.

Por outro lado, Andreas também defendeu a produção agrícola, de maneira sustentável, afirmando que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é construído no Cerrado. “É muito importante para o desenvolvimento do país para fornecer alimentos para todo mundo e cumprir a missão nacional de ser celeiro do mundo, sem perder de vista o patrimônio natural. Eu costumo dizer que no Brasil cabe tudo, cabe conservar e desenvolver”, afirmou.

Por fim, a secretária também defendeu a integração entre os biomas. “À medida em que somos um ciclo integrado, não existe Cerrado sem Amazônia e nem Amazônia sem o Cerrado. É importante que a gente trabalhe de forma efetiva, cumprindo a lei e aperfeiçoando esses instrumentos para garantir o nosso futuro sustentável “

Andrea Vulcanis, ao centro, participa de um dos painéis do Seminário Águas para o Futuro Foto: Johann Germano

Cooperação com o agronegócio

Em sua fala, Marcelo Lelis apontou que, apesar da posição desfavorável do Cerrado em relação às políticas públicas de preservação do meio ambiente, é possível notar o começo de uma mudança de “pensamento”, principalmente na posição do governo federal e dos Estados. “A discussão está se aprofundado”, diz o secretário de Tocantins.

Marcelo também disse que é essencial a participação e cooperação do agronegócio para evitar o aumento de desmatamento da região. Para ele, a ideia não é impedir o avanço da fronteira agrícola, mas pensar formas sustentáveis de produção.

“Não é impedir que a fronteira agrícola avance. O Tocantins faz parte do Matopiba (região do Cerrado no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que é considerado a atual fronteira de desenvolvimento do agro. Estamos sob muita pressão nessa linha de raciocínio de que é preciso reconhecer a agricultura, mas é preciso produzir de forma sustentável. Essa é a visão do Meio Ambiente mas é também a dos agricultores. Todos aqueles que já entenderam as regras do mundo hoje já sabem que ou produzem com as regras ambientais de maneira sustentável ou não terão espaço no mercado”, afirmou o secretário.

Os secretários de Meio Ambiente, Marcelo Lelis, do Tocantins, e Andréa Vulcanis, de Goiás (Foto: Instagram/@semadgoias)

O Cerrado

É comemorado nesta segunda-feira, 11 de setembro, o dia Nacional do Cerrado. O bioma é o segundo maior no Brasil, ocupando um total de 22% do território nacional, se espalhando por oito estados da federação. De acordo com estudos, o Cerrado abriga mais de 11 mil espécies de plantas nativas, 320 mil espécies de animais e 90 mil espécies de insetos.

O bioma, também é conhecido como “berço das águas”, por abrigar parte de três importantes bacias hidrográficas da América do Sul (Platina, Amazônica e São Francisco), sendo responsável por abastecer mais de 25 milhões de pessoas.

Um dos principais fatores de risco para a preservação do Cerrado são as queimadas, que atingem a região principalmente durante o período de seca. Somente em 2023, 639 mil áreas destruídas. Segundo o levantamento do Mapbiomas, esses números representam 30% das queimadas totais que afetaram o país.

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