A produção científica no Brasil diminuiu 7,2% em 2023 em comparação com 2022, ano em que já havia registrado uma queda inédita desde 1996.
O relatório da editora científica Elsevier e da Agência Bori, divulgado na terça-feira (30/07), revela que, pela primeira vez, o país enfrenta dois anos consecutivos de declínio na produção de artigos científicos, que totalizaram 69.656 em 2023.
Além do Brasil, outros 34 países também registraram retração no setor, um aumento de 12 nações em relação ao ano anterior. Enquanto isso, 17 países tiveram crescimento na produção científica, e apenas a Áustria manteve estabilidade.
Impacto da Pandemia e Corte de Investimentos
Até 2021, o Brasil apresentava uma tendência de crescimento constante na produção científica, mas a queda desse ano indica uma mudança preocupante. Especialistas sugerem que a pandemia de COVID-19 interrompeu a continuidade de muitos projetos de pesquisa, afetando a publicação de seus resultados.
Além disso, os investimentos públicos federais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil vêm diminuindo desde 2013, com cortes ainda mais acentuados nas instituições estaduais desde 2015. Em 2023, os recursos destinados a P&D foram apenas 76% do que havia sido investido em 2015, sendo 2021 o pior ano, com 71% do valor de 2015 aplicado.
Desafios e Oportunidades para a Pesquisa Nacional
Apesar de ocupar o 14° lugar no ranking mundial de publicações científicas entre 2019 e 2023, com 376.220 artigos publicados, o Brasil enfrenta desafios significativos para manter e expandir sua produção científica.
As únicas áreas que registraram crescimento nesse período foram as ciências sociais, com um aumento de 11,6%, e as humanidades, com uma alta expressiva de 82%. Contudo, em 2023, todas as áreas científicas no país registraram queda na produção, com as ciências médicas sofrendo a maior retração, de 10%.
Cenário Internacional e Expectativas Futuras
No contexto global, países como Taiwan e Etiópia registraram as maiores quedas na produção científica, logo após o Brasil.
Em contrapartida, nações como Emirados Árabes Unidos, Iraque e Indonésia lideraram o crescimento, com aumento de 15%.
A recuperação de países como a Ucrânia, que subiu para o 10° lugar no ranking, mostra que mesmo em situações adversas, é possível reverter cenários negativos.
Apesar dos desafios econômicos, como baixo crescimento e alta inflacionária, que afetam vários países, as perspectivas para a produção científica no Brasil são otimistas.
Espera-se que, com o distanciamento da pandemia e a reversão de cortes orçamentários, a situação melhore nos próximos dois a três anos. No entanto, o país ainda enfrenta uma carência significativa de recursos para P&D, o que exigirá esforços contínuos para garantir o avanço da ciência nacional.
Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura.