Setembro Amarelo é um período em que a conscientização sobre a prevenção do suicídio ganha destaque, com diversas instituições e empresas participando da campanha. Embora as intenções sejam positivas, é essencial abordar esse tema delicado com responsabilidade e sensibilidade.
A psicóloga e professora aposentada da Faculdade de Medicina da UFG, Célia Maria Ferreira da Silva, explica a importância de tratar o suicídio como um tema de saúde pública, que exige atenção e diálogo contínuo. A especialista foi entrevistada pelo Jornal UFG como parte da série “Setembro Amarelo: por uma vida que vale a pena viver”, com o objetivo de trazer clareza sobre a campanha e seu impacto.
Criado em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Setembro Amarelo visa promover a conscientização sobre o suicídio. A campanha acontece em setembro, pois o dia 10 deste mês foi instituído pela OMS como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
Escola e família
Célia destaca que o ambiente educacional, como escolas e universidades, juntamente com a família, desempenham um papel essencial na prevenção. Professores passam uma parte significativa do tempo com os alunos e podem identificar sinais de alerta, como mudanças de comportamento e isolamento.
Ao estabelecer uma comunicação direta com os pais, a escola pode atuar como um elo para oferecer o suporte necessário. O diálogo aberto entre escola e família é fundamental para criar uma rede de apoio, permitindo que sinais de sofrimento emocional sejam reconhecidos precocemente.
O luto após um suicídio é especialmente difícil e prolongado, marcado por sentimentos de culpa, vergonha e estigma. Muitas vezes, os familiares se perguntam se poderiam ter feito algo para evitar a tragédia, o que intensifica o sofrimento. Esse processo exige compreensão e suporte emocional para que os enlutados possam passar por ele de forma mais leve.
Sinais
Segundo a professora, mudanças de comportamento, como isolamento excessivo e dificuldades para enfrentar tarefas cotidianas, são indicadores importantes de risco. Além disso, frases preocupantes como “eu sou um peso para os outros” ou “eu gostaria de me livrar deste sofrimento” também podem sinalizar que a pessoa está em sofrimento.
“É essencial buscar ajuda médica e psicológica ao observar esses sinais. O tratamento adequado pode incluir medicação e psicoterapia, ajudando a pessoa a desenvolver habilidades de enfrentamento e a lidar com o sofrimento”, recomenda Célia.
“A conscientização e a educação sobre o suicídio são cruciais para que a sociedade possa oferecer o suporte necessário e criar um ambiente de apoio para aqueles em sofrimento e para os enlutados”, explica Célia.
Conscientização
Com o aumento da visibilidade do Setembro Amarelo, Célia alerta para a forma como o tema é retratado na mídia e nas produções fictícias. A polêmica em torno de produções como o seriado “13 Reasons Why” levantou questões sobre a responsabilidade em abordar o suicídio de maneira adequada, evitando glamourizar o tema.
“Algumas iniciativas, embora importantes, muitas vezes carecem de base científica e teórica sólida. Há uma tendência a tratar o tema de maneira superficial, o que pode ser prejudicia. É importante abrir espaço para conversas e educação sobre saúde mental, sem transformar o tema em um tabu ou tratá-lo de forma sensacionalista”.
Outro ponto crucial é o impacto do ambiente on-line na saúde mental, especialmente com o aumento de discursos de incentivo ao suicídio em algumas plataformas. A OMS recomenda que pais e responsáveis monitorem o que os jovens estão consumindo na internet e com quem estão interagindo, para evitar a exposição a conteúdos prejudiciais.
Na última segunda-feira, 2, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) deu início a uma programação especial dentro da campanha Setembro Amarelo. As atividades, que vão até o dia 24 deste mês, têm como objetivo promover a conscientização sobre a prevenção do suicídio, incentivando a discussão aberta sobre saúde mental, desestigmatizando o tema e fornecendo informações e recursos que capacitem indivíduos e comunidades a reconhecerem sinais de sofrimento, buscarem ajuda e oferecerem apoio.
*Com informações do Jornal da UFG
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar
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