“Um paciente com diabetes descompensado, mal controlado, evolui para uma alteração nas extremidades muito comum nos pés chamada neuropatia periférica. Esses pacientes ficam com dormência, formigamento. Alguns apresentam inclusive anestesia total da planta do pé, a ponto de pisar em prego, brasa quente, vidro, cortar ou perfurar o pé e não sentir”.

Esse cenário, descrito pelo médico ortopedista especialista em cirurgia de tornozelo e pé, Rodrigo Nunes, em entrevista à Sagres, é o que pode levar à amputação de um membro. No entanto, muitas pessoas nem sabem que doenças como o diabetes, por exemplo, se for mal controlada, levam a essa condição. 

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Esta conscientização sobre a amputação é um dos objetivos da campanha Abril Laranja. A prevenção das causas recorrentes de amputações, entretanto, também é um mantra da ação. 

Só no Brasil, porém, são aproximadamente 500 mil pessoas amputadas. Os dados são da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação. A amputação, no entanto, têm diversas causas, sendo a mais recorrente sequela exatamente do diabetes, seguida por acidentes de trânsito e trabalhista, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Há ainda dificuldade da circulação na perna e no pé. O próprio diabetes já gera essa alteração circulatória, e se o paciente tiver junto a anestesia, dormência, formigamento e gerar uma lesão, uma ferida, uma fratura, ele pode quebrar o pé, não sentir e continuar andando”, afirma. “Isso pode gerar feridas, infecções, que vão gerar a gangrena e esta, no final da história, acaba chegando na amputação”, complementa. 

Sobrevivência

De acordo com Rodrigo Nunes, muitos pacientes podem não querer realizar a amputação. Ouvir essa recomendação médica, assim como informá-la a quem sofre com o problema, não são situações simples. 

No entanto, de acordo com o especialista, a amputação, em muitos casos, pode significar o fim do sofrimento, ou seja, a sobrevivência do paciente. “Uma infecção como essa que descrevi pode gerar uma alteração sistêmica a ponto de levar até ao falecimento”, alerta Nunes. 

Prevenção

O médico ortopedista Rodrigo Nunes (Foto: Sagres Online)

No caso do diabetes, Rodrigo Nunes enumera os cuidados para evitar uma amputação em razão da doença.

“Manter os níveis de glicose e do açúcar no sangue controlados, dentro de um padrão que para o diabético é sempre um pouco acima do normal, senão eles acabam passando mal. Mas não pode ficar exagerada a glicemia no sangue, tem que haver um controle dessa sensibilidade do pé e avaliar o pé sempre sobre feridas, infecções no cantos das unhas”, reforça. 

O auxílio a um paciente com diabetes, segundo Rodrigo Nunes, também é essencial. Segundo o médico, a doença pode impedir que a pessoa enxergue as feridas ou mesmo reduz a mobilidade. 

“Ajudar na limpeza do pé, se o calçado não está com nenhuma pedra dentro. Às vezes o próprio paciente não dá conta. A prevenção, portanto, está relacionada a controlar a doença e evitar os traumas que podem levar a lesões”, complementa. 

Bem-estar e suporte

Ainda de acordo com Rodrigo Nunes, em muitos casos, uma amputação pode devolver a qualidade de vida. “A indicação é sempre pensando no maior benefício do paciente. De maneira que ele pode estar com uma ferida crônica, deformado, se arrastando, de cadeira de rodas, não consegue andar. A gente põe na balança que às vezes, ao fazer uma amputação, ele coloca uma prótese e consegue voltar à atividade de trabalho antiga”, orienta. 

Pessoas com qualquer tipo de deficiência encontram apoio material e de adaptação pelo SUS, o Sistema Único de Saúde. Os interessados em órteses, próteses ou meios auxiliares de locomoção, por exemplo, precisam em primeiro lugar procurar atendimento em uma unidade básica de saúde.

Em seguida, esse paciente vai ser encaminhado para um centro especializado em reabilitação.

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