Em sua apresentação na live realizada com os prefeitos, o governador Ronaldo Caiado e os presidentes dos poderes e órgãos autônomos em que propôs a quarentena intermitente de 14 dias, o professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás, perguntou o que aconteceria no Estado se tudo continuasse como está com a atual média de isolamento em Goiás que foi de 36,89% entre os dias 20 e 26 de junho. “Se tudo for mantido como está nós chegaríamos no final de setembro com aproximadamente 18 mil óbitos. Como cidadão, pesquisador, esse número é absolutamente inaceitável. Deixar como está não é aceitável, é imoral. Deixou como estar não é uma opção”, disse.

Além disso, o professor explicou que seriam necessários, até o final do mês de junho, 2 mil leitos de UTI “ao mesmo tempo e no mesmo dia” e que isso significaria dobrar a demanda atual por leitos para covid em 15 dias. “Nós podemos ter um colapso hospitalar entre os dias 8 e 16 de julho”.

Mais projeções

O pesquisador projetou também o que aconteceria se houvesse um lockdown do Estado por três meses (julho, agosto e setembro). Nesta hipótese, o distanciamento social salvaria 13.530 pessoas, o equivalente a toda a população do município de São João D’Aliança. “A pergunta é quantas pessoas do total da população de São João vamos salvar”, disse, admitindo o alto impacto socioeconômico do lockdown por três meses. Diante disso, o professor então propôs uma saída à polarização entre não fazer nada, como ocorre atualmente, e o impossível bloqueio total das atividades econômicas.

Thiago Rangel sugere que o modelo seja aplicado de acordo com a realidade de cada município goiano, mas com uma coordenação estadual. “Isso precisa ser estudado caso a caso, precisa de ser coordenado do ponto de vista central do Estado de Goiás, precisa passar pelas secretarias municipais e estadual”. O professor defendeu uma “iniciativa coordenada de combate [do coronavírus], com planejamento de longo prazo ao invés de uma simples reação de um colapso no hospital.”

Projetando para o futuro um isolamento de 53%, o mesmo registrado no início de abril, e replicando esta média nos 14 dias de bloqueio que ocorreriam até setembro, o estudo da UFG projeta uma redução de 61,5% das 18 mil mortes que aconteceriam caso nada fosse feito. Um número intermediário entre nesse cenário, chamado de vermelho, e a previsão de apenas 4.470 mortes, que ocorreriam na improvável hipótese de 3 meses de lockdown (cenário azul).

Rangel destaca a efetividade do modelo 14 x 14, pois observa que a paralisação da atividade econômica em 50% do período reduziria em 61,5% a previsão de mortos, o correspondente a salvar 8.360 pessoas, o correspondente à população do município de Cachoeira Dourada. Ainda assim 2 mil pessoas precisariam de UTI no final de agosto.

Além do isolamento intermitente, a UFG propôs o rastreamento de contatos, ou seja, a identificação da rede de contados das pessoas infectadas para diminuir a disseminação do vírus. O estudo projetou que se 400 monitores trabalharem 8 horas por dia em Goiânia, por exemplo, poderia monitorar 32 mil pessoas simultaneamente.

Replicando o modelo para o Estado, 2 mil monitores trabalhando pelo mesmo período teriam condições de monitorar 160 mil pessoas. Thiago Rangel lembrou que o isolamento 14×14 já reduz as mortes em 61,5% e que sua combinação com o rastreamento de contato reduz em 76,5% o número de óbitos. “É salvar 10.283 vidas, isso é toda a população de Petrolina. É eficiente e necessária”.

Essa foi a quarta edição das Notas Técnicas Projeções Estaduais divulgada pela equipe formada pelos professores Thiago Rangel e José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas, e Cristina Toscano, do Instituto de Patologia e Saúde Pública (IPTSP) da UFG. A primeira edição foi divulgada em 2 de maio, a segunda no dia 15 e a terceira em 26 de maio.

O documento abre com a validação das projeções anteriores. Esses estudos previram que a 50ª morte por covid em Goiás ocorreria em 6 de maio e ela ocorreu no dia 2, só quatro dias antes. A previsão para a 100ª morte foi para 21 de maio e ela aconteceu em 15 de maio. O óbito número 200 foi projetado para 5 de junho e também ocorreu antes, no dia 31 de maio. O de número 300 previsto para 13 de junho e registrado no dia 11 e, por fim, a 400ª morte foi prevista para 20 de junho, mas ocorreu um dia depois, em 21 de junho.

Segundo o professor Thiago Rangel as datas reais estão muito próximas das projetadas, validando os estudos da equipe. “Essa variabilidade [de dias entre a projeção e o fato] em uma epidemia é praticamente irrelevante já que a tendência está muito bem capturada”, afirmou na live.

A UFG usou dois inquéritos sorológicos (que testa uma amostra da população em geral) realizados pela prefeitura de Goiânia para calibrar sua modelagem. O primeiro inquérito ocorreu em 16 de maio e revelou que 0,7% dos goianinenses (10.613 pessoas) estavam contaminadas pelo novo coronavírus. Já o segundo, de 20 de junho, mostrou que a contaminação atingiu 2,1% da população (31.838 pessoas).