Em live realizada na manhã desta segunda-feira (29) com o governador Ronaldo Caiado, os presidentes dos demais poderes e de órgãos independentes e dos prefeitos de todos os municípios goianos, a Universidade Federal de Goiás (UFG) propôs um modelo intermitente de funcionamento das atividades econômicas em Goiás: 14 dias de fechamento e 14 dias de abertura. A proposta foi apresentada pelo professor Thiago Rangel, um dos autores do estudo Estimativa de Impacto Populacional da Covid-19 em Goiás.

Segundo o professor, o isolamento intermitente não é a proposta ideal, mas uma alternativa entre a ação mais eficiente, o lockdown, e a situação real em que o distanciamento social em Goiás caiu para uma média de 36%, quando o necessário é de 50%. Em função disso, a UFG mostrou na divulgação da quarta Nota Técnica com o resultado do estudo, que se nada for feito, serão necessários o dobro de leitos de UTI existentes atualmente em Goiás e que haverá colapso do sistema de saúde em meados de julho. A terceira Nota Técnica foi divulgada em 26 de maio.

Pela proposta, haveria 14 dias de “fechamento agressivo” seguidos de 14 dias de abertura, a partir de 1º de julho, alternando com 14 dias de aberturas até o mês de setembro. Thiago Rangel observa que a proposta não pode ser igualmente aplicada a todos os municípios, mas estudada caso a caso, pois não são todos os municípios que precisam do bloqueio total, assim como há aqueles que precisam de medidas ainda mais restritivas.

A proposta da UFG recebeu apoio do governador Caiado e de outras lideranças políticas. Caiado afirmou que se depender dele, a quarentena de 14 dias intermitente será executada. No entanto, observou que existem decretos municipais e que os prefeitos têm autonomia para decidir. “Se eu tivesse a prerrogativa do Supremo [Tribunal Federal] de deliberar sobre os 246 municípios do Estado de Goiás eu decretaria os 14 por 14, criando também o rastreamento [de contatos] de todos os portadores [de covid]”, disse o governador.

Depois de ouvir a apresentação do secretário da Saúde, Ismael Alexandrino, sobre a criação de leitos pelo Estado para a covid e sua taxa de ocupação, o governador confirmou que não há como chegar a 2 mil vagas de UTI que seriam necessárias até o final de julho, caso nenhuma medida fosse adotada agora. “No esforço maior do mundo, estocando todos os leitos, nós chegaríamos a 600. Considerando que temos pacientes acidentados graves e vários outros problemas, não dá mais querer achar que a situação pode ser levada da maneira como está acorrendo em Goiás”.

O governador defendeu que as empresas realizem o exame PC-RT, o padrão ouro, em seus funcionários a cada semana para monitorar o avanço da contaminação. “Não dá para esperar o dia 15 de julho [período previsto para o colapso do sistema de saúde] sem medidas tomadas.” Caiado propôs aos prefeitos reverem as medidas de flexibilização do comércio e da indústria e a realização de mais exames do padrão ouro. Ele defendeu um “mutirão” com a conversão de forças para evitar as mortes projetadas, que podem chegar a 18 mil até setembro se nada for feito (veja abaixo).

Os casos de covid-19 em Goiás cresceram 39% na semana passada. O número saiu de 15.745 no domingo (21) para 21.733 no sábado (27). As mortes aumentaram em 41%, saltando de 303 para 429 no mesmo período. O último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) neste domingo (28) mostrou já eram 22.012 casos e 435 mortos.

Em um pronunciamento rápido no final da reunião, o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, afirmou que a prefeitura tenta “cumprir com competência” as iniciativas do governador de combate à covid. Ele afirmou que cumpriu todas as diretrizes determinadas por Caiado e que continuará acompanhando, deixando implícito que também vai seguir o modelo de quarentena 14 x 14, que foi efusivamente defendido pelo governador.

O estudo da UFG prevê que poderão ocorrer 18 mil óbitos até o final de setembro e que medidas como quarentena intermitente, rastreamento de contatos de pessoas infectadas, entre outras medidas, podem reduzir o número de óbitos em até 76%. Veja matéria aqui.