JÚLIA MOURA / SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Simples tuítes de Elon Musk, presidente da Tesla, chacoalharam o mundo das criptomoedas nos últimos meses.

Em março, ele disse que a fabricante de carros elétricos aceitaria bitcoin, a mais conhecida das moedas digitais, como pagamento, o que levou toda a classe de ativos a se valorizar. Em maio, voltou atrás, devido ao grande gasto energético no processamento de bitcoins, derrubando o mercado.

Segundo analistas, estas e outras muitas manifestações do bilionário em suas redes sociais são mais um ingrediente para a alta volatilidade das criptomoedas.

“É como um elefante entrando em uma piscina, causa um grande movimento quando entra e quando sair. O Musk voltar atrás tem muito impacto. Quando alguém importante deserta, gera dúvida nos investidores”, diz Fabrício Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin.

No último dia 19, Musk indicou que a Tesla ainda tem bitcoins em seu caixa, comprados em fevereiro pelo valor de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,8 bilhões), o que impulsionou a recuperação das criptomoedas. Naquele pregão, porém, o bitcoin chegou a cair até 30% pela manhã.

“Esses ativos ainda tem uma reatividade muito alta, que pode representar um risco grande para o investidor”, diz Sérgio Franco, diretor de renda variável da Órama.

A oscilação surgiu depois que o banco central da China alertou as instituições financeiras contra aceitarem criptomoedas em pagamento e contra oferecerem serviços e produtos relacionados a elas, o que intensificou a preocupação dos investidores de que as autoridades podem apertar a fiscalização dessa classe de ativos que opera quase sem controle.

O objetivo, segundo o Comitê de Desenvolvimento e Estabilidade Financeira, é evitar riscos financeiros.

Em abril, o banco central da Turquia proibiu o uso de criptomoedas e ativos criptográficos para compras, citando possíveis “danos irreparáveis” e riscos nas transações, depois que a Royal Motors, que distribui carros Rolls-Royce e Lotus na Turquia, se tornou a primeira empresa no país a aceitar pagamentos em criptomoedas.

“As restrições da China às criptomoedas estão se expandindo e isso deixa muitos investidores receosos de que esse pânico nas vendas continue. Parece uma queda típica e passageira, mas pode haver resistência para a retomada”, afirma Edward Moya, analista de mercado financeiro da corretora de câmbio Oanda em Nova York.

Para adicionar ainda mais tensão ao mercado, o presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, falou sobre os potenciais riscos relacionados a criptomoedas no dia 21.

Ele também disse que o Fed lançará um documento de discussão sobre criptomoedas nos próximos meses para servir de base à consulta pública sobre a criação de uma moeda digital do banco central -o BC brasileiro estuda fazer o mesmo em 2022.
“Até o momento as criptomoedas não têm servido como uma forma conveniente de fazer pagamentos, devido, entre outros fatores, a suas oscilações de valor”, disse Powell.

As declarações vieram poucas horas depois de o Tesouro dos EUA propor novos regulamentos sobre o uso de bitcoin.
No dia 24, foi a vez do presidente do BC britânico falar sobe as criptomoedas. “Francamente, sou cético em relação aos criptoativos porque eles são perigosos, e há um grande entusiasmo por aí”, disse Andrew Bailey ao Comitê do Tesouro do Parlamento britânico.

Na última quinta (27), o Irã proibiu a mineração de criptomoedas por quatro meses, já que a atividade, que requer uso intensivo de energia, causou blecautes de eletricidade em todo o país.

Em maio, o bitcoin acumula queda de 36,80% até sexta (28), a US$ 35.218 (R$ 183.591) cada um, após uma disparada de 776,6% de abril de 2020 a abril de 2021.

Foi justamente a entrada de investidores institucionais no mercado que fez as criptomoedas saltarem nos últimos anos e, agora, as barreiras regulatórias podem ameaçar este movimento.

Há investidores que veem, porém, a desvalorização como uma oportunidade de entrada.

“As perspectivas e fundamentos que fazem o bitcoin um bom investimento seguem os mesmos”, diz Fabrício Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin, plataforma de negociação de criptoativos.

Segundo ele, o investidor tem que pensar no longo prazo. “Ainda tem muito pouco dinheiro nessa indústria e o bitcoin é limitado. Vemos um potencial de investidores institucionais entrarem com força, o que deve valorizar o ativo”.

O bitcoin é finito e sua emissão está perto do fim. Na sua criação, estabeleceu-se que podem haver apenas 21 milhões de bitcoins, e já foram emitidos cerca de 90%.

Especialistas alertam, porém, que é preciso estudar a natureza das criptomoedas antes de se alocar recursos nelas.
“Simplesmente comprar porque caiu é como pegar uma faca em queda, pode dar certo, mas a chance de se machucar é grande. Só deve entrar neste mercado se tem uma razão por trás”, diz Franco, da Órama.

A dica é minimizar aportes, comprando aos poucos, reduzindo o risco, com alocações periódicas, sem tentar acertar o melhor momento de entrada.

“Primeiro o investidor tem que ter calma. Não colocar o dinheiro que vai precisar no curto prazo e nem mais do que consegue arriscar”, afirma Tota.

A alocação é indicada para investidores com o perfil mais arriscado. A quantidade ideal depende de cada investidor e de seu momento de vida, mas não deve ultrapassar 10% na carteira dos investidores mais aptos a correr risco.

“Primeiro, entenda exatamente qual é a proposta de valor daquele daquela moeda, se ela faz sentido, qual que é o seu diferencial, a razão de ela ser valiosa, qual que é o potencial de valorização de mercado”, diz Nélio Costa, planejador financeiro pela Planejar.

O especialista recomenda investir indiretamente em criptomoedas, por meio de fundos ou ETFs (fundos de índice).

“Um gestor vai montar uma cesta das moedas mais sólidas. Você terceiriza essa tomada de decisão para uma pessoa que passa o dia inteiro fazendo só isso e provavelmente vai ter um conhecimento melhor do que o seu”, afirma Costa.

Além disso, as cotas de fundos ou ETFs podem ser adquiridos por meio das corretoras tradicionais em negociação na Bolsa de Valores. Já as criptomoedas são vendidas em outras plataformas de negociação, como o Mercado Bitcoin.

Golpes com Bitcoin

Por serem relativamente novos no mercado e não serem regulados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), os criptoativos são utilizados por muitos criminosos na aplicação de golpe.

“É preciso tomar muito cuidado com empresas que prometem ganhos garantidos. É impossível qualquer mercado garantir rentabilidade. Foge, é golpe”, diz Costa.

O investidor deve ter atenção extra na hora do aporte e pesquisar a fundo a reputação empresa na qual se faz a compra do ativo.

“As criptos são negociadas em exchanges, que são como pequenas Bolsas. Dessa forma, é preciso ter cuidado para não cair em pirâmide”, diz Franco, da Órama.

Recentemnte nos EUA, golpistas fingindo ser Elon Musk roubaram milhões de dólares em fraudes com criptomoedas.