“Vou reciclar por amor por mim, pela minha família, pelos próximos e pelo futuro”, esse é o pensamento que deu origem ao nome ReciclAmar, projeto que incentiva a coleta de lixo e reciclagem para alunos de cinco anos, em uma escola pública de Palmeiras de Goiás, município de quase 30 mil habitantes.

O lema é proposto pela professora responsável pelo projeto, Leyliane Borges, pedagoga que trabalha com Educação há quase 20 anos. Em maio, a iniciativa apareceu entre a lista de finalistas ao Prêmio Educador Transformador, premiação nacional que reuniu educadores das cinco regiões do país no evento em São Paulo (SP).

Projeto

A ideia surgiu após observação da realidade do próprio município. Segundo a pedagoga, a cidade enfrentava um problema de falta de coleta organizada de lixo. Eram poucos os moradores que separavam o lixo na hora de colocar os resíduos para fora de casa.

Assim, a professora enxergou na sala de aula um espaço promissor para começar a construir mudanças. “Como educadora, como eu posso transformar isso?”, este passou a ser o questionamento que aparecia entre seus pensamentos.

Foi então que a estrutura do que viria a ser o ReciclAmar tomou forma. Depois, era preciso apresentar o projeto para a diretora e coordenação pedagógica da escola em que trabalha.

Sustentabilidade e Educação Ambiental eram objetvos centrais do projeto (Foto: Arquivo Pessoal)

”Um projeto para que os alunos e seus pais entendessem a importância de separar o lixo e de reciclar, como forma de cuidar do meio-ambiente”, apresentou.

Hoje, Leyliane comemora o sucesso e os frutos do projeto. Inicialmente, o plano era que as atividades durassem apenas durante fevereiro. Porém, a própria Prefeitura já informou à pedagoga que o projeto será continuado, inclusive em outras escolas do município.

”Crianças de cinco anos conseguem sim fazer debate, expressar a opinião deles e contar as histórias”, destaca.

Família

Para a professora, a família ocupa, ao lado de seus alunos, o lugar central do propósito do seu projeto. Assim que as atividades começaram, a primeira missão foi promover uma espécie de competição.

Nesse sentido, cada família precisaria construir uma lata de lixo para armazenar materiais recicláveis. Além disso, as próprias latas também deveriam ser feitas deste tipo de material. No fim, as três melhores latas recebem uma premiação especial. ”Além disso, eu comecei a trabalhar a sala de aula invertida. A questão de mandar o material para casa e o pai fazer junto com o seu filho”, explica.

Assim, a professora enviava materiais informativos com respostas a perguntas como: “por que é importante separar o lixo?”; “Como a falta de coleta seletiva pode prejudicar o meio ambiente”; “Qual o impacto das ações mais sustentáveis?”.

Além disso, a programação do projeto também contava com aulas que integravam ações práticas, exatamente no cenário onde tudo acontece na — nas ruas. Desse modo, a professora incentivava os alunos a olharem para as latas de lixo e para a falta de organização e coleta.

”Uma das mães de alunas era gari, e trabalhava recolhendo lixo reciclado nas ruas, para depois vender. Ela contou a história dela para a turma e foi um momento muito importante. Os alunos conseguiram ganhar essa conscientização sobre o cuidado com o meio ambiente”, conclui.

No Prêmio Educador Transformador, os dois finalistas da região Centro-Oeste foram do estado de Goiás.

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Comunidade

A pedagoga, que escolheu a profissão justamente por enxergar o seu papel social, comemora o aumento da participação dos pais na vida escolar dos filhos e os efeitos que as atividades geram na cidade como um todo.

Na pequena Palmeiras de Goiás, o ciclo da mudança se expande por meio de cada um que se une à conscientização que ultrapassa os muros da escola. 

(Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu vi que eles ficaram realmente impactados e conscientes do que é certo e do que é errado. Esse ensinamento vai para a família, para as pessoas que estão próximas e para os vizinhos. Um projeto que fica só na escola não tem tanto rendimento para atingir a comunidade”, avalia Leyliane.

Segundo ela, muitos começam a repensar suas atitudes ao ver os pequenos cidadãos comprometidos com novos princípios. “Muita gente repensou. Se essas crianças estão fazendo o que é correto, por que eu não?”, comenta a pedagoga.

Para ela, grande parte do êxito da profissão é conseguir enxergar mudanças palpáveis na realidade que os cerca. Por isso, já garante que o próximo projeto será voltado para a valorização do patrimônio físico da cidade em que mora.

”Decidi ser professora porque meus avós eram semianalfabetos e um era analfabeto. Ensinei meu vô a ler e a escrever com oito anos. Educador educa para a vida real. Por isso gosto tanto de trabalhar com projetos’, complementa.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 4 – Educação de Qualidade.