Desde 2017, quando o procedimento começou no Hospital Estadual Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi (HGG), foram 68 cirurgias de redesignação sexual. Destas, no entanto, 18 foram para readequação genital, quando a intervenção cirúrgica é mais severa. Além disso, há ainda a retirada de útero ou das mamas, nos casos de homens trans.

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Em entrevista à Sagres, o médico ginecologista e coordenador do Projeto Transexualizador do HGG, João Lino, explica que o primeiro passo para quem busca a redesignação sexual é procurar uma unidade básica de saúde. 

“Lá o paciente vai expressar a incompatibilidade entre o gênero de nascimento e o de identidade, e então o paciente será encaminhado às unidades de referência”, afirma.

João Lino Franco, em entrevista à Sagres (Foto: Sagres Online)

São os casos de incongruência de gênero, caracterizada pela desconformidade entre o gênero de um indivíduo e o sexo a ele atribuído. 

“Há pacientes que precisarão do processo de hormonização com medicamentos. Isso vai ser o suficiente para ele ser ver em um corpo adequado como ele deseja. Há ainda os pacientes que irão precisar de procedimentos mais complexos. Por exemplo as cirurgias de transgenitalização, chamadas de readequação genital”, esclarece Lino. 

Da primeira consulta à cirurgia

Uma normativa do Ministério da Saúde regulamenta a realização desse tipo de cirurgia. Segundo Lino, o tempo mínimo até que chegue o momento da realização do procedimento, desde a primeira consulta no HGG, entretanto, é de dois anos. 

“Nesse período, o paciente fica em suporte psicológico e psiquiátrico, e com processo de uso de hormônio com a ginecologia, para que ele tenha certeza de sua identidade de gênero, tratar de doenças que possam estar associadas e estar apto a fazer o procedimento”, pontua. 

Equipe

Como o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) não realiza mais o procedimento desde 2019, apenas o HGG em Goiás conta com o serviço. 

De acordo com Lino, compõem a equipe da unidade três ginecologistas, um psiquiatra, dois psicólogos, um fonoaudiólogo e três profissionais de cirurgia plástica. 

Durante a cirurgia são três cirurgiões, um anestesista e médicos residentes ou em formação, uma média de sete pessoas, além da equipe de enfermagem. O procedimento dura, em média, de três a cinco horas.

Segundo João Lino, a expectativa da equipe, no entanto, é realizar uma cirurgia a cada 15 dias.  

Fila de espera

De acordo com o coordenador do projeto de transexualização, 140 pacientes aguardam na fila de regulação em Goiás para realizar a primeira consulta no HGG. O grande problema, segundo João Lino, é a demanda reprimida que existe dentro da unidade. 

“Tenho 350 pacientes que já em atendimento no programa. Como esses pacientes estão frequentemente na unidade, eles fazem avaliação com psicólogo, psiquiatra e ginecologista. Porém, há uma fila interna de 450 atendimentos, é isso o que mais dificulta a entrada de novos pacientes”, afirma. 

No entanto, segundo o coordenador, a ampliação da equipe médica pode reduzir a espera para quem procura por esse procedimento. “Estamos readequando, expandindo a equipe agora para atender mais rapidamente essas pessoas que aguardam na fila”, complementa.

Medicamentos

Na última semana, porém, a Defensoria Pública Estadual de Goiás (DPE-GO) encontrou problemas no processo de transgenitalização. Um deles é o acesso de remédios para tratamento hormonal. A receita médica para esses medicamentos é controlada. Por isso, o médico só a prescreve de forma presencial. Portanto, o paciente precisa viajar para a capital com frequência.

Entretanto, João Lino reforça a necessidade de controle sobre a prescrição das chamadas medicações androgêneas. “Essas medicações têm de ser prescritas em receituário especial do tipo B. Esse tipo de receituário só é possível emitir na consulta presencial. Isso dificulta? Sim, mas é um controle necessário. A telemedicina é um projeto que estamos começando dentro do programa transexualizador do HGG para a gente poder exatamente minimizar as vindas frequentes desse paciente, mas ela não está instalada ainda”, conclui. 

Contato

Pacientes que buscam orientações sobre como proceder em relação à redesignação sexual podem enviar um e-mail para Programa TX do HGG. O endereço é o [email protected].

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