O Brasil é um país com dimensões continentais e extremamente populoso, isso faz com que de norte a sul do nosso território haja diferentes sotaques, expressões, costumes, raças e cores. Entender isso e respeitar essa riqueza de diversidade mostra a evolução e o carisma de um povo. Mas infelizmente não é difícil constatar que a realidade brasileira está longe disso, maculando tudo aquilo que é diferente e consequentemente aumentando as desigualdades. Sim, é importante ressaltar, diversidade é diferente de desigualdade, mas é o estigmatizar das diversidades um dos principais causadores da enorme desigualdade social que impera em nosso país, fazendo com que, principalmente as classes mais baixas, pretos e moradores de favelas sejam carregados de estigmas e prejudicados ao longo da vida. 

A pandemia de Covid-19 expôs bem esse retrato: a população de territórios mais vulneráveis foi a primeira e a mais atingida pelos reflexos econômicos do caos. A fome aumentou entre essas pessoas e nesse cenário constatou-se algo interessante, que embora grandes marcas e empresas tenham se mobilizado para levantar doações, o maior índice de arrecadação partiu das classes C e D, ou seja, a maior ajuda veio da própria favela. A Central Única das Favelas (CUFA), instituição presente em todos os estados do país, sempre atuou com o empoderamento e o protagonismo das populações de periferias, mas durante este período, teve que adaptar sua matriz produtiva no que diz respeito à sua frente de atuação, realizando uma ação humanitária que já mobilizou doações para mais de 15 milhões de famílias no país, sendo mais de 200 mil no Estado de Goiás.

Atualmente, outro cenário chama a atenção, estados como Bahia, Piauí, Minas Gerais, Tocantins e Goiás decretaram situação de emergência em várias cidades em função das fortes chuvas e alagamentos. No nosso estado, a região mais afetada está sendo o Nordeste Goiano, sobretudo povos Kalungas e outros Quilombolas, justamente povos pretos e de classes não dominantes. Nessas comunidades pontes caíram, estradas já precárias danificaram-se ainda mais, casas desabaram. Devido a isso, uma grande mobilização de doações entre a CUFA GO e a TV Anhanguera já levou mais de 250 toneladas de donativos para a região, o que mostra a importância da mobilização da sociedade civil organizada.

Mas além da urgência e do alívio que emergencialmente se faz necessário, a desigualdade social precisa ser combatida e um dos caminhos para isso é retirar o estigma sobre o diferente e a partir daí dar espaço para que mais oportunidades sejam geradas. No dia 18 de janeiro, Celso Athayde, fundador da CUFA, foi nomeado empreendedor social do ano no Fórum Econômico Mundial, pelo seu trabalho no desenvolvimento das favelas, que transformaestigma em carisma, carência em potência. Essas iniciativas devem ser reconhecidas, compartilhadas e copiadas, contribuindo assim para a diminuição da desigualdade, respeitando a diversidade.

Breno Cardoso é presidente estadual da CUFA, fundador da Central das comunidades, favelas e periferias e empreendedor social.