O Brasil produz cerca de 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano, segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Ainda segundo o panorama, o crescimento na geração de resíduos sólidos urbanos no país irá continuar nos próximos anos e o Brasil deve alcançar uma produção anual de 100 milhões de toneladas por volta de 2030.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, mais de 50% da produção de lixo gerado no país é composto por resíduos orgânicos, que acabam sendo descartados de maneira incorreta nos aterros sanitários e lixões, impossibilitando sua biodegradação. Uma das maneiras de reaproveitar e diminuir a quantidade do lixo orgânico é com a compostagem, técnica que permite a transformação de restos orgânicos em adubo, como explica a bióloga Doutora em Ecologia e Evolução e Consultora Ambiental, Nathalia Machado.

“O processo de compostagem é a transformação do resíduo orgânico em adubo basicamente. Essa transformação acontece pela ação de vários organismos, por exemplo, minhocas, bactérias e fungos que são os organismos decompositores. Eles vão comer e digerir o material orgânico transformando em um composto que pode ser devolvido para o ciclo e absorvido pelas plantas” explicou a bióloga.

De acordo com Nathália Machado, existem várias maneiras de fazer compostagem e cada uma delas vai aceitar diferentes tipos de materiais. “Na compostagem doméstica que nós podemos fazer, por exemplo, em baldes, especialmente se você mora em apartamento e não tem um quintal, é utilizado um organismo chave que são as minhocas. Neste tipo de compostagem há um pouco de restrição quanto aos materiais que podem ser usados, a gente pode usar todas as cascas de frutas resto de hortaliças cascas de ovos, borra de café, desde que seja sem açúcar, todo aquele material que vem da nossa cozinha estando cru pode ser usado. Quanto há materiais cítricos, devemos nos atentar e ter um pouco de cuidado, não devemos colocar grandes quantidades, isso serve para alimentos cozidos que podemos colocar, porém em pouca dosagem. Nesse tipo de compostagem com as minhocas não é indicado colocar derivados de leite, carne e materiais como papel que tem pigmento. Há um pouco mais de restrição, mas ainda assim, as pessoas conseguem fazer em casa”, esclareceu a especialista.

O engenheiro Ambiental, Mestre em Ecologia e Evolução, André Baleeiro, trabalha com compostagem há dez anos e explica como dar início a prática. “Nós recomendamos que quem tiver interesse em começar a fazer encontre primeiramente uma lixeira com tampa, pois é importante manter os resíduos orgânicos longe de moscas e outros insetos que possam depositar seus ovos ali. Assim que o recipiente ficar cheio, é necessário fazer a colocação dos resíduos e cobrir imediatamente com os resíduos secos e palhas”, explicou.

(Foto: Ministério do Meio Ambiente)

O engenheiro ambiental orientou também o que deve ser feito para realizar a compostagem em grande escala. “Quem pretende fazer compostagem com uma quantidade maior de resíduos, numa empresa, indústria ou fazenda é recomendável a contratação de um serviço técnico especializado, por exemplo, a assessoria de um engenheiro ambiental. Esse serviço, entre outras coisas, é necessário para fazer o dimensionamento correto, o sistema de drenagem de chorume e também tomar outros cuidados como ter um maior controle sobre esses resíduos”, pontuou o engenheiro Ambiental.

A quantidade de materiais

A compostagem precisa de um balanço entre o material que é úmido, o nitrogênio, e o material seco, o carbono. “É preciso colocar mais ou menos, em questão de volume, 1/1 isso vai variar um pouco de acordo com a região, se você morar em um local mais úmido é possível aumentar o material seco para que a gente atinja o equilíbrio nessa compostagem”, afirma a bióloga, Doutora em Ecologia e Evolução, Nathalia Machado.

Sobre os materiais secos que podem ser utilizados na composteira Nathalia esclarece. “Podem ser utilizados para os materiais secos folhas, palha, apara de grama, serragem desde que seja uma madeira sem tratamento. Cada vez que você coloca seu resíduo orgânico na composteira deve-se cobrir mais ou menos na mesma proporção com o material seco”.

A importância da compostagem doméstica

Nathalia também ressalta dois pontos que podem ser destacados quanto a compostagem doméstica. “Ela diminui a sobrecarga sobre o sistema público e deixar com que nosso aterro sanitário, quando ele existe, tenha uma vida um pouco mais longa e isso é recurso é dinheiro público que vai ser economizado. Por outro lado, você vai começar a produzir adubo na sua casa, podendo usar nas suas plantas, então vai ter um benefício, e se você produzir bastante poderá até obter lucro e vender. É uma atitude boa tanto para município quando para a pessoa”, pontua.

Foto: Maria Nassu

A especialista destacou que todos deveriam fazer compostagem em casa. “Basicamente a metade do lixo que cada residência gera é de lixo orgânico, ou seja, a gente poderia resolver a metade da produção de lixo de cada cidade dentro da nossa casa. Com isso, diminuiria muito o impacto e a pressão sobre o sistema público de coleta de lixo de gestão desses resíduos” 

Composteira no quartel

A bióloga e soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), Mariana Nassu, compartilhou a ideia que levou a um projeto de composteira no quartel. “Apresentei um projeto de composteira no quartel onde eu trabalho e foi bem recebida pelo comandante. A ideia é bem recente e estamos em um processo de amadurecimento do projeto. Terá uma reunião semana que vem para montar uma comissão no quartel para que eu possa explicar melhor o que é a compostagem? Qual a proposta? Se vai ter cheiro? entre outras dúvidas que possam surgir. A ideia é diminuir o lixo gerado, porque é muito resíduo orgânico que a gente produz no geral”, contou a soldado.

Mariana contou que conheceu a compostagem há 10 anos em uma disciplina de Agroecologia na Faculdade de Ciências Biológicas. “Comecei porque essa disciplina era muito prática e eu tive que apresentar um trabalho na época sobre compostagem, acho que sortearam esse tema para mim. Quando estudei para apresentar o trabalho me encantei com a compostagem e comecei a fazer em casa”, disse Mariana.

Mariana afirmou que fazer compostagem para ela nunca foi um trabalho e sim algo que faz por hobby. Mas a saldado, já fez composteiras para vender. “Quando eu fiz a composteira de balde para minha casa, um primo me pediu uma, porque ele estava começando uma horta na época, depois uma prima também pediu e quando percebi estava vendendo composteiras de balde. Comecei a fazer elas mais arrumadas e decoradas por fora e assim eu fui fazendo e vendendo composteiras”, exclamou.

Compostagem comunitária

O engenheiro Ambiental, mestre em ecologia e evolução falou também sobre um projeto de compostagem comunitária que existe na capital.

“Em Goiânia está acontecendo uma iniciativa muito interessante de compostagem comunitária, baseada na experiência de Florianópolis, na revolução dos baldinhos, em que uma comunidade inteira começou a fazer a coleta dos seus resíduos para tratamento através da compostagem em áreas urbanas e escolas. Todo este projeto está conectado a produção de hortas orgânicas”, disse André.

Essa iniciativa foi premiada no mundo inteiro e é um formato de gestão de resíduos que já se mostrou eficiente segundo o engenheiro ambiental. “Este é o formato de compostagem de gestão dos resíduos que a gente deseja para Goiânia” observou.

PALLOMA RABELO é estagiário do Sistema Sagres de Comunicação, em parceria com o IPHAC e a PUC GOIÁS sob supervisão do jornalista VINICIUS TONDOLO.”