Para o diretor do Centro de Excelência do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, Daniel Balaban, o desequilíbrio climático impacta o combate à fome. O diretor concorda que a fome é a doença mais cruel decorrente das mudanças climáticas e afirma que para solucionar um problema é preciso solucionar o outro também.

“A fome tem várias causas, mas hoje, uma das principais é exatamente as mudanças climáticas e seus efeitos”, disse. “Esses desequilíbrios climáticos que são ocasionados pelo homem, pelo ser humano, têm que ser evitados. Existe uma série de medidas. Mas para que a gente consiga acabar, de uma vez por todas, com as questões da fome no planeta, nós temos que lidar com a questão das mudanças climáticas”, afirmou.

Protagonismo do Brasil

Balaban olha para o Brasil como um líder das pautas ambientais e sociais, principalmente pelo desempenho do país como presidente da Cúpula de líderes do G20 em 2024. O país está pautando as 20 maiores economias do mundo com o tema “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável”. Dentro desse processo, lançou a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, introduzindo no bloco a inclusão social.

Ao falar de fome, desigualdade social, meio ambiente e economia, Daniel Balaban criticou o uso de terras no Brasil. “Em nenhum país do mundo o lucro é o principal fator de desenvolvimento agrícola de um país. Aqui no Brasil, é”, contou.

O diretor da ONU fez afirmações como “aqui se planta o que dá mais dinheiro” e ”começamos a não plantar mais comida e começamos a plantar grãos que servem para alimentar animais em outros países”. De acordo com ele, é um uso da terra que dá muito dinheiro para quem produz, mas não é algo que seja bom para o combate à fome no planeta. Além disso, causa danos ao meio ambiente.

“Já ficou comprovado pelos cientistas que o Brasil será um dos países que terá mais agravada a situação de crises climáticas extremas por conta das mudanças que estão acontecendo no planeta. Nós temos a maior floresta úmida do mundo, e não estamos cuidando dela do jeito que deveríamos. Além da Floresta Amazônica, nós temos aqui o Cerrado que tem sido devastado ao longo dos últimos anos. E tudo isso, por que está acontecendo? Por questões econômicas. O nosso sistema de planejamento agrário é focado em lucro. Temos que falar isso abertamente”, argumentou.

Brasil presidente do G20

Daniel Balaban reforçou a liderança natural do Brasil na questão climática e a posição do país favorável ao tema nos eventos internacionais. Apesar de olhar uma distância no caminho, ele acredita na solução da fome no mundo.

“Se nós nos unirmos e começarmos a tomar atitudes mais firmes, a gente consegue colocar o trem nessa direção para chegar ao ano de 2030, se não acabar com a fome, mas diminuí-la ao menor ponto possível”, disse.

No G20, o Brasil irá pautar o mundo outra vez. O país sediou a ECO 92, no ano de 1992, que deu origem aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A Rio+20, em 2012, deu origem aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e este ano está sendo o protagonista de um movimento global contra a fome. 

“É a primeira vez no planeta que se cria uma Aliança Global contra a Fome e contra a Pobreza. Porque antes disso era retórica, era só blábláblá, discussões, discursos bonitos. Mas saía do discurso, não tinha nada colocado como objetivo num papel. Agora, a Aliança Global está colocando como que vai fazer para ajudar os países a combater a fome, como executar as políticas públicas, como vai ser financiado esse recurso para os países. É uma aliança de 20 países, hoje do G20. Mas nós temos que estar abertos para todos os países do mundo e vários países já estão aderindo a essa aliança e com a liderança do Brasil. Nós temos que enaltecer essa liderança brasileira”, celebrou.

Daniel Balaban concedeu a entrevista ao podcast “S.O.S! Terra Chamando!”, da Empresa Brasil de Comunicação e da Casa de Oswaldo Cruz. Acesse a entrevista na íntegra aqui.

*Com Agência Brasil

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 01 – Erradicação da pobreza, o ODS 02 – Fome zero e agricultura sustentável e o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.

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