Junior Kamenach
Junior Kamenach
Jornalista, repórter do Sagres Online e apaixonado por futebol e esportes americanos - NFL, MLB e NBA

Secas extremas se agravam no Brasil e ameaçam o Cerrado e o Pantanal, alerta especialista

O Brasil está no mapa das piores secas do mundo. Em 2023, mais da metade do território nacional enfrentou algum nível de estiagem. As regiões mais afetadas foram a Amazônia, o Nordeste e o Centro-Oeste, onde os impactos da falta de água se estendem da agricultura à saúde pública, passando por aumento de queimadas e escassez hídrica.

Nesse sentido, a crise das secas no Brasil foi o tema central da edição desta semana do programa Pauta 1, do Sistema Sagres, que recebeu Ana Paula Cunha, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Ana Paula destacou que o trabalho do Cemaden é essencial para alertar e subsidiar políticas públicas. “Além dos desastres associados às chuvas, como inundações e deslizamentos, fazemos o monitoramento contínuo das condições de seca em todo o território nacional”, explicou.

“Desde 2012, contribuímos com diagnósticos e identificação de municípios em condição de seca, ajudando na tomada de decisões e na formulação de políticas públicas.”

Fontes

Ela ressaltou ainda que o monitoramento é feito com base em diversas fontes, como dados de chuva por satélite, umidade do solo, níveis de rios e condições da vegetação. “São várias informações que usamos para orientar ações nos setores afetados”, afirmou.

A título de comparação, a média de redução da superfície de água em ambientes naturais no Brasil é de 15% — um número já alarmante pensando em secas extremas.

A intensificação das secas no Brasil, especialmente no Centro-Oeste, não é fruto apenas do acaso. Ana Paula Cunha explicou que há uma tendência histórica de agravamento. “Além do semiárido nordestino estar se expandindo, observamos mudanças climáticas significativas no sul do Pantanal, com a substituição de um clima úmido por um clima subúmido seco, mais quente e seco”, afirmou.

Ela também alertou que a região está sofrendo com eventos cada vez mais frequentes de calor extremo. “O efeito combinado de seca e temperatura elevada acelera o processo de secamento dos biomas.”

Influência

Outro ponto importante destacado pela pesquisadora é a influência da Amazônia no clima do Centro-Oeste. “Muitas regiões do Brasil Central dependem da umidade transportada da Amazônia pelos chamados ‘rios voadores’. Quando há seca na Amazônia, esse transporte de umidade diminui, prejudicando ainda mais a formação de chuvas no Cerrado e no Pantanal”, disse.

Ana Paula alerta que, além dos fatores naturais e climáticos, o desmatamento e as mudanças no uso da terra têm papel crucial no agravamento da crise hídrica.

“O aquecimento global causado pelas emissões de gases de efeito estufa e o desmatamento de áreas florestadas contribuem diretamente para alterações no ciclo hidrológico local e regional”, frisou Ana Paula. “Essas mudanças na Amazônia afetam a disponibilidade de água não só lá, mas também em regiões como o sul do Pantanal.”

Cerrado

O Cerrado, berço de rios fundamentais e conhecido como a “caixa d’água do Brasil”, está sob ameaça crescente. A combinação entre secas prolongadas, conversão da vegetação nativa em lavouras e as consequências da crise climática tem comprometido a capacidade do bioma de manter o abastecimento hídrico de oito das doze principais bacias hidrográficas do país.

De acordo com a gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, Anke Salzmann, os impactos já são visíveis. “Se eu tenho um problema de seca no Cerrado, provavelmente alguma dessas oito bacias será afetada. Já temos problemas de abastecimento por conta disso”, alertou.

Ela também destacou a substituição da vegetação nativa por monoculturas, como a soja, que possuem raízes rasas incapazes de alimentar os lençóis freáticos como a flora original. Além disso, Anke reforçou o papel destrutivo dos incêndios, que têm se tornado cada vez mais frequentes.

“A seca tem prejudicado o Cerrado nesse sentido, destruindo a vegetação e interferindo na capacidade do bioma de levar a água da chuva até os aquíferos”, afirmou. O cenário futuro é ainda mais alarmante: “Um estudo da Agência Nacional de Águas aponta que, até 2040, pode haver queda de até 40% na disponibilidade hídrica das principais regiões brasileiras.”

Escassez hídrica

Ana Paula Cunha trouxe um panorama histórico que mostra como a situação vem se agravando. “A seca de 2023 e 2024 foi a mais extensa e intensa dos últimos 40 anos. Chegou a afetar simultaneamente cerca de 60% do território nacional”, explicou.

De acordo com ela, esse padrão tem se repetido e se intensificado desde os anos 2000, com intervalos cada vez menores entre eventos extremos. “A cada nova seca, os recordes são quebrados — em extensão, intensidade e duração. Tivemos municípios na Amazônia com mais de 16 meses consecutivos de déficit hídrico. E o Cerrado, que deveria ser um amortecedor, também está sofrendo”, completou Ana Paula.

Ela ainda alertou para a alternância de extremos, como secas severas seguidas por inundações, em um curto espaço de tempo, o que dificulta as ações de mitigação e adaptação por parte do poder público. “Essa gangorra climática tem acontecido no mesmo local. O Rio Grande do Sul é um exemplo: saiu de uma grande seca para uma inundação devastadora em menos de um mês”, relatou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima

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