A cidade de Goiás, conhecida por seu centro histórico e forte identidade cultural, se prepara para mais uma edição de suas tradicionais serenatas. O evento, que acontece mensalmente, resgata uma prática secular de músicos percorrendo as ruas ao som de violões, flautas e bandolins, levando melodia e poesia às janelas das casas.
“A tradição aqui é secular, realmente. A serenata remonta do século XVIII, XIX”, explicou Maria Clara Ferreira, coordenadora do projeto, em entrevista ao programa Tom Maior do Sistema Sagres. De acordo com ela, a serenata foi retomada há cerca de 15 anos pelo Museu Casa de Cora Coralina, em parceria com comerciantes locais e apoiadores da cultura.
As apresentações acontecem nas noites de sexta-feira, começando por volta das 23h e se estendendo até a madrugada. Os músicos – em sua maioria amadores, que aprenderam o repertório com familiares – entoam canções que resgatam a memória afetiva dos moradores.
Um dos momentos mais emocionantes é quando a serenata chega à casa de Neuza Serra Dourada, conhecida como Tia Neuza, de 92 anos. “Ela religiosamente fica na janela da casa, esperando que a serenata passe por ali. Isso traz a ela um saudosismo muito grande, de músicas que aprendeu com o pai”, contou Maria Clara.
Expressões culturais
Além disso, o evento fortalece outras expressões culturais locais, como a gastronomia e a literatura. “Nós sempre tentamos apresentar a quem vem de fora a gastronomia da cidade, como o bolo de arroz, o pastelinho e o alfenim. Quem é daqui às vezes nem lembra desses sabores, mas, ao experimentar na serenata, volta ao passado”, disse Maria.
Na parte literária, além da icônica Cora Coralina, o evento também busca dar visibilidade a outros escritores da região, como Regina Lacerda. De acordo com Maria Clara, a retomada das serenatas tem atraído não apenas moradores, mas também turistas nacionais e até estrangeiros.
“A serenata teve um alcance que se expande da cidade de Goiás e até do estado. Já recebemos turistas internacionais, que não estão acostumados a algo assim”, relatou Maria, que participa da organização desde 2019. Sendo assim, a cada mês, as serenatas ganham uma temática especial, como o aniversário da cidade em julho e a homenagem a Cora Coralina em agosto.
“Nós estamos com uma proposta diferenciada de, a cada mês, terminar em um lugar distinto, como igrejas antigas ou ruas de pedra, para mostrar diferentes aspectos da cidade”, explicou Maria. O calendário de 2025 já está definido, com apresentações previstas até dezembro. “É uma experiência única caminhar pelos paralelepípedos da cidade, sob a luz amarelada dos lampiões, ouvindo as melodias que atravessam gerações”, concluiu Maria.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade
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