Goiás registrou os dois primeiros casos da variante Ômicron no último domingo (12), em Aparecida de Goiânia. Além disso, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) monitora outros dois casos suspeitos em Valparaíso de Goiás. Em entrevista à Sagres, na manhã desta segunda-feira (13), o secretário de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, indicou preocupação com o alto número de não vacinados e a chegada da variante Ômicron.

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“A Ômicron, até o momento, não tem mostrado mortalidade mais alta, mas nos demais países tem mostrado uma maior taxa de transmissão. Como caminhamos para o Natal e Ano Novo, todo o cuidado é importante de cultivar. Quando a transmissão é muito rápida em um cenário em que a vacinação em segunda dose está aquém do que gostaríamos, existe a possibilidade de, a partir da Ômicron, ter mutações e o surgimento de novas variantes”, alertou o secretário.

Ouça a entrevista completa:

Ismael Alexandrino informou que em todo o Estado de Goiás mais de 700 mil pessoas não retornaram para aplicação da segunda dose. “Ainda existem muitas pessoas com informações falsas, fake news, querendo falar que a vacina é experimental, querendo tirar o crédito da vacina. Isso não procede. A vacina respeitou todas as fases de análises clínicas. Ela é efetiva, é eficaz e é a forma mais segura. A gente precisa combater essas informações falsas”, reforçou.

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Assista à entrevista no Sagres Sinal Aberto:

Confira a entrevista na íntegra:

Cileide Alves: Identificada em novembro, a Ômicron já chegou em Goiás. A partir de agora, as novas variantes vão chegar mais rápido?

Ismael Alexandrino: Uma das características dela é essa transmissão muito rápida. Ela tem uma capacidade de ligar ao hospedeiro muito fácil, seu spyke – onde liga na célula – é muito fácil. Felizmente, não tem tido tanta letalidade, mas a transmissão dela é muito rápida. Quando a transmissão é muito rápida em uma cenário em que a vacinação, a segunda dose, está aquém do que gostaria, existe a possibilidade de a partir dela ter mutações e ter outras variantes. Então, a gente precisa, sim, frear essa transmissão o máximo que conseguirmos.

Cileide Alves: No caso de Aparecida de Goiânia, que foi confirmado, e de Valparaíso, que está em estudo, não existe a possibilidade de essas pessoas terem transmitido para outras pessoas? Há uma ideia se isso pode ter ocorrido ou não?

Ismael Alexandrino: Existe, sim, mesmo porque antes das pessoas manifestarem qualquer tipo de sintoma e antes de fazer o exame, elas transitaram, conviveram com outras pessoas. Então, esse risco sempre existe. Nesses primeiros casos a gente consegue, em alguma escala, ainda monitorar quais foram as pessoas, avaliar se são pessoas que estão com sintoma ou não, mas a medida que isso vai aumentando e passa a ser uma transmissão comunitária, a gente não consegue mais fazer esse destaque das pessoas que foram contactadas.  

Cileide Alves: O Brasil já registrou a confirmação de um paciente que não viajou e teve a variante. Isso significa que já há no Brasil essa transmissão comunitária?

Ismael Alexandrino: Sim, não no Estado de Goiás ainda, mas isso é uma questão de tempo. Isso vai acontecer em algum momento. A gente imagina que nos próximos dias isso deverá acontecer e a gente precisa tomar extremo cuidado, principalmente por conta do Natal e Ano Novo muitas pessoas vem de fora visitar suas famílias e podem, nesse vai e vem de pessoas, fazer com que aumente essa possibilidade, tanto que no Aeroporto de Goiânia, pelo menos nos voos internacionais, será feita a testagem.

Cileide Alves: Quais as normas que estão em vigor pela Secretaria de Saúde para Goiás como um todo?

Ismael Alexandrino: A nota que publicamos na semana anterior recomenda que os locais que são de controle de acesso, que são fechados, exija-se as duas doses da vacina. Estou falando de shows, eventos, de boates, de teatros e cinemas. Agora, aqueles locais que são abertos e não é possível controlar o acesso, a orientação realmente é o uso da máscara.

Cileide Alves: O percentual de primeira dose aplicada em Goiás é de 74% e de segunda dose ou dose única é de 60%. Está mais lenta a vacinação agora, a busca ativa não está funcionando, o que está acontecendo que a gente não consegue avançar mais?

Ismael Alexandrino: A adesão está muito baixa. Então, a Secretaria fez a van da vacina, o município de Goiânia também colocou duas vans à disposição. Hoje nossa van da vacina está indo para a região do Daia, em Anápolis, porque dentro das empresas e indústrias ainda tem muita gente que não se vacinou. Fizemos um levantamento e estimamos que no Daia tem 5 mil pessoas que não se vacinaram. Se acontecer um surto dentro de uma empresa dessa, tem grandes chances da empresa ter que ser interditada, e a gente não quer isso, não quer parar o trabalho de ninguém. Então, colocamos à disposição a van da vacina, que estará nesta semana no Daia para que a gente faça a busca ativa e chegue mais próximo da população para que oportunize essa vacinação. 

Ainda existem muitas pessoas com informações equivocadas, falsas, fake news realmente, querendo falar que a vacina é experimental, querendo tirar o crédito da vacina. Isso não procede, ela respeitou todas as fases de análises clínicas, é efetiva, é eficaz e é a medida mais segura. A gente precisa combater essas informações falsas. 

Cileide Alves: 60% de cobertura em Goiás significa que os 40% são de resistência por conta de informação equivocada?

Ismael Alexandrino: Não só informação equivocada, às vezes é por convicção mesmo, não quer vacinar, pronto e acabou. Infelizmente, a vacinação sempre teve algum estigma, mas em relação à Covid-19 a gente percebeu que houve uma polarização muito grande de cunho ideológico e partidário. Infelizmente isso aconteceu, acho um grande retrocesso, mas isso tem acontecido. Nós temos buscado o convencimento, várias pessoas que são esclarecidas e optaram por não vacinar, temos buscado o diálogo e, em alguns casos, as pessoas querem exercer a liberdade de não vacinar, mas ao mesmo tempo elas não podem expor outras pessoas. Então, nós fizemos a recomendação para que shows, eventos, locais fechados e de controle de acesso sejam exigidas as duas doses da vacina.

Cileide Alves: Por enquanto é uma recomendação, mas existe a possibilidade de isso passar a ser uma regra, obrigatório?

Ismael Alexandrino: Geralmente, recomendação da Secretaria de Estado da Saúde no contexto da pandemia tem tido um peso muito forte, não só para equalizar gestores municipais como também para parametrizar as cobranças do Ministério Público. A gente sabe que o STF deu autonomia para os Estados e, sobretudo, para os municípios para tomarem suas atitudes locais, mas a recomendação da Secretaria tem valido nesse sentido de equalizar gestores e Ministério Público.

Cileide Alves: Em campanhas anteriores, qual era a média do público que não se vacinava por convicção? Dá para comparar com os 40% de agora?

Ismael Alexandrino: É difícil fazer essa comparação porque temos mais êxito quando são vacinas de criança, que a gente chega às vezes a 90% ou até um pouco mais. Vacinas de adulto, por livre e espontânea vontade, dificilmente passa de 70%. O histórico mostra isso. A própria vacina da Influenza no ano passado teve uma cobertura muito baixa, tanto que Rio de Janeiro e outras cidades e Estados estão exacerbando muito com a Influenza. Eu aproveitei, anteontem, no Mutirão para vacinar contra Influenza porque são sintomas muito parecidos, e o sistema imunológico, às vezes, tem cascatas de defesa que são muito semelhantes. Então, vacinando contra Influenza, você ativa o sistema imunológico. Não é que ela é a vacina contra Covid, mas ativa seu sistema imunológico de forma que também pode ter um somatório de forças para que o organismo esteja mais rápido na defesa da Covid.

Eu reforço, a vacinação demonstra o nível de evolução civilizatória em uma sociedade. E o Brasil precisa avançar. Temos 700 mil pessoas em Goiás que vacinaram a primeira dose, poderiam ter se vacinado com a segunda, e ainda não se vacinaram. É muita gente.  

Cileide Alves: Segundo o Reino Unido, há uma multiplicação de casos a cada três dias. Hoje, Goiás tem condições de fazer sequenciamento genético para acompanhar essa velocidade de transmissão da Ômicron?

Ismael Alexandrino: A capacidade de Goiás está bastante ampliada, mas a gente não faz nesse momento inicial, quem é suspeito e se enquadra, é feito. Depois que entra em um crescimento exponencial e em espiral, a gente faz por amostragem. Aí não se faz mais de todas as pessoas, mas de uma porcentagem. Seja da Ômicron ou de qualquer outra cepa.

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